24 de abril de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

Afinal, Bolsonaro diz o que pensa dele a maioria dos brasileiros

O presidente reconhece que há muita gente mais competente do que ele para ocupar seu cargo

Maioria dos brasileiros está longe de parecer exagero. É o que atestam todas as pesquisas conhecidas, sem exceção. A desaprovação ao governo só faz crescer, como também a avaliação negativa do desempenho do presidente da República.

Quando se quer saber quantos brasileiros não votariam nele de jeito nenhum na eleição do ano que vem, a rejeição a Bolsonaro ultrapassa a marca dos 60%. É o mais rejeitado entre todos os aspirantes à candidato. A rejeição a Lula é de 40% em média.

Estudiosos do ramo eleitoral dizem que candidato com mais de 50% de rejeição não vence. Bolsonaro ainda tem um ano e um mês pela frente para tentar recuperar-se, do contrário correrá o risco simplesmente de ficar de fora do segundo turno.

Seria um desastre para ele, seus devotos e apoiadores de ocasião. Esses últimos sempre poderão dar o jeito de oferecer apoio ao próximo presidente, seja ele qual for. Mas, e a extrema direita que acreditou nele e está disposta em pegar em armas e ir à guerra?

Os militares saíram do poder pelas portas do fundo do Palácio do Planalto ao admitir o fracasso da ditadura que sustentaram durante 21 anos. Voltaram com a inesperada vitória do ex-capitão indisciplinado e afastado por eles do Exército.

São mais de 6 mil empregados no governo e em empresas estatais. Lula já disse que se for eleito, os devolverá aos quartéis ou à vida bem remunerada da reserva, perto dos jogos de dama e dominó, e à distância segura de tropas e de depósitos de munição.

É melhor que essa gente já vá se acostumando com a ideia, se não da eleição de Lula, mas a de outro que não lhe assegure tantos privilégios. Bolsonaro avisou, ontem, em entrevista a uma emissora de rádio de Cuiabá:

“Tem muita, mas muita gente melhor do que eu por aí. Não faço questão de dizer ‘quero ser presidente’. Agora, a barra é pesada. Tu tem que ter couro grosso”.

É a sexta vez desde que foi eleito que ele diz algo nessa direção, mas talvez a primeira em que se mostra plenamente afinado com o sentimento da maioria que quer vê-lo pelas costas. Ora, direis, Bolsonaro dá o dito pelo não dito com muita facilidade.

Ao que respondo: assino embaixo. Mas por que ele irá para o sacrifício se concluir às vésperas da eleição que a derrota é certa e que os generais cabeça de papel não marcharão em seu socorro? Mais cômodo será dizer que o sistema foi mais forte do que ele.

E acenar com um eventual retorno. De corajoso, Bolsonaro não tem nada, nunca teve. Fala grosso para assustar seus adversários, mas fino ou mia como um gatinho quando confrontado pelos fortes. Não passa de uma vivandeira como as de antigamente.

Espere só para ver.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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