28 de março de 2024
Yvonne Dimanche

Caixa Escolar


Queridos leitores, sempre estudei em escola pública. Meus pais nunca pagaram um único centavo com o meu estudo, com exceção da caixa escolar que não era obrigatória. Quem podia dava uma importância que ajudava quem não tinha condições. Esse valor era usado para compra do uniforme e do material didático. Fiz o primário na Escola México (onde estudou Vinícius de Morais) que fica próxima a uma comunidade, a Santa Marta.
Éramos classe média e pobres juntos no mesmo espaço e nunca houve preconceito algum. O único senão era a hora do recreio em que os mais necessitados faziam uma refeição com tudo que tinham direito. Nós, os “ricos”, levávamos os nossos lanches, pois já tínhamos almoçado. Para não criar constrangimento, a diretora dava uma desculpa qualquer.
Lembrei disso hoje, porque o meu marido me fez uma pergunta sobre esse assunto. Recordo ainda que a minha mãe ajudava, através da caixa escolar, minha e do meu irmão, duas crianças que também eram irmãos, um casal como nós. Ela nunca soube quem eram e nós fedelhos muito menos.
Só que eu achei aquela história muito romântica e eu idealizei quem seriam os privilegiados que minha mãe ajudava no início do ano comprando todo o material escolar e uniforme e no decorrer do ano letivo com sei lá quais despesas. Só sei que os favelados comiam muito bem.
Bom, tinha uma senhora bem negra que era lavadeira e todos os dias levava os seus filhos para a escola. Não sei se pela cor da pele que contrastava com o uniforme impecavelmente branco, mas aquelas camisas eram as mais brancas de toda a escola. As meias também.
E eu idealizei que aqueles meninos eram os que nós ajudávamos: Nilcéia e Benedito. Ambos se deram bem na vida, principalmente Nilcéia. E ainda que isso possa ser uma inverdade, eu acreditarei nela até o fim da minha vida e ai de quem disser que estou delirando.
Tempos mais humanos em que recebíamos educação de primeiríssima qualidade, mas dávamos algo em troca. Eu vivi uma época feliz e sabia disso.
Um lindo final de semana para todos e até o próximo Boletim.
Coluna publicada em 01/08/2014

O Boletim

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