20 de abril de 2024
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Supremo Tribunal/supremo tribunal

Depois de quase três anos às voltas com rendas e babados, drapeados e plissês, voltei ao cinema. Nem acreditei, cinema é uma das coisas que mais gosto. Mas até isso sacrifiquei em prol de desenvolvimento da Haute Couture no mundo Ocidental. Espero que tanto esforço não tenha sido em vão.

Assisti The Post e gostei muito. Tive uma crise de saudade do meu tempo de redação, daquela confusão barulhenta e maravilhosa, que me animava a fazer o melhor. Fiquei nostálgica e chorei. Um pouquinho, mas chorei. Gosto/gostava de ser jornalista.
Pagava para saber se o Tom Hanks inspirou-se num Diretor de Redação que conheci, que era tão arrogante, egoísta, seguro de sí e, simultaneamente, assustado quanto ao que ele interpreta no filme. Aconselho aos coleguinhas a não perder The Post. Não é o melhor filme do mundo, mas envolve a gente no sentimento bom de que a profissão vale a pena.
Mas o que realmente quero é comentar um momento de The Post, tomando cuidado para não revelar nada da trama. Lá pelas tantas, marchas e contramarchas, os figurões de dois jornais recorrem à Suprema Corte norte-americana. Vi o seguinte:
Cena um, interior, sala de audiência do Supremo Tribunal Federal dos Estados Unidos da América. Solenemente, o meirinho anuncia a entrada do presidente do Supremo.
Meirinho: Levantem-se todos para a entrada do presidente do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América. Ô, Ô, Ô.
Cena dois: tomada geral do público presente. As pessoas, bem vestidas e sérias, transmitem a sensação de enorme respeito.
Cena três: o juiz-presidente entra acompanhado de outros juízes. Solene, com uma toga bem cortada e bem colocada.
Dada às circunstâncias do nosso Brasil, voltei para casa com essa imagem na cabeça. Quanta dignidade e seriedade. Que beleza.
Então, fui passear no Facebook e tropecei em alguns takes do ministro-presidente do supremo tribunal federal brasileiro num avião comercial. Nada poderia ser mais discrepante da dignidade do judiciário apresentando no filme. Testemunhei o seguinte:
Cena um, interior, avião cheio, gritaria, algumas vozes se destacam – e aí, ladrão, vai soltar quem agora? Vergonha. Corrupto. Seu merda.
Cena dois: interior, avião lotado: o comandante avisa que os passageiros devem permanecer sentados porque a Polícia Federal está chegando para resolver qualquer problema. As vaias e assovios aumentam, também as ofensas ao ministro presidente do supremo tribunal do Brasil, Ô, Ô, Ô.
Cena três, avião, corredor: De pé entre dois ou três policiais federais, o ”seu” Gilmar Mendes sorri debochado, enquanto as vaias continuam.
Infelizmente, no caso brasileiro, as cenas eram verdadeiras, tinham de fato ocorrido.
Querem saber a minha opinião? Quando o Judiciário chega a tal ponto de desmoralização, um país não tem mais jeito, caiu num irreversível buraco.
O último a sair, por favor, apague a luz.

O Boletim

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