16 de abril de 2024
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Péssima vizinhança


Loucolândia, cuja capital se chama Loucosília, faz fronteira com dois países: o das Maravilhas, onde as meninas caem em buracos e as lagartas ensinam a modificar o tamanho de pessoas e de objetos, e o do Nunca, local onde os habitantes se recusam a crescer.
Com tais vizinhos, Loucolândia sentiu que não podia ficar para trás e tratou de desenvolver as suas idiossincrasias. A mais interessante é acreditar que os fatos não importam, importam as palavras que os constroem. Assim, os moradores de Loucolândia, os loucoleiros, vivem numa metarrealidade baseada em análises acríticas de discursos do real. Também sei escrever enrolado, estão pensando o quê? Quando é preciso, rodo o meu software de intelectual.
Basicamente, o que pretendo dizer é que os loucoleiros, sem reflexão consciente, viraram o país pelo avesso. Nem cogitam questionar como estruturam a sua humanidade num local que funciona ao contrário. Caminhando de ponta à cabeça – com os neurônios em curto-circuito por causa da super irrigação sanguínea – os loucoleiros não distinguem mais a realidade da imaginação. Entre outras coisas, começaram a confundir meninos e meninas.
Pòs-doutora que sou em Biologia, com a tese “Reprodução Assexuada das Samambaias”, sugeri um trabalho de campo. Bastava observar, já que os homens fazem xixi em pé e as mulheres, não. Impossível. Com os loucoleiros todos ao contrário, é claro que a urina escorria pelo tronco e a cabeça e ninguém sabia quem era quem. O impasse continuou até uma ministra iluminada sugerir que os machos vestissem azul e as fêmas, rosa. Enquanto se discute qual tom de rosa e de azul definirá a sexualidade de cada um, eu continuo tentando não me molhar inteira quando faço xixi. Canseira perde.
Muito poderia escrever sobre o nonsense de Loucolândia. Mas o espaço é curto e a paciência dos leitores, ídem. Então, encerro com o exemplo da mais alta corte de justiça de Loucolândia que, após soltar todos os ladrões barra-pesada, decidiu que, de agora em diante, o barato dela é legislar. Inclusive contra os cidadãos que reclamarem desta novidade surreal.
O presidente da corte de justiça, que não é mais de justiça, estudou numa universidade nos confins do vizinho País das Maravilhas. Uma de suas professoras foi a egrégia R. de Copas, adepta da religião islâmica, que ensinou aos alunos a cortar a cabeça de quem discorda de suas opiniões.
Loucolândia está em pânico, o povo já foi às ruas pedir clemência. Eu só espero que este imbróglio se resolva até poder comprar meu vestidinho cor-de-rosa no tom determinado pelas autoridades. Recuso-me a desfilar nas passeatas em condições precárias de higiene.
Tentando remediar a situação, a Lagarta, viciada em narguilé, cedeu-me um cogumelo alucinógeno para diminuir o tamanho do presidente da ex-corte de justiça e o de sua mestra, a R. de Copas. Assim, quem sabe, eles sumiriam. Mas é impossível diminuí-los, vocês me entendem. Não sei o que fazer.
Gostaria mesmo é que nós, os loucoleiros, decidíssemos crescer e encerrássemos a síndrome de irresponsabilidade que assola o país.
Não tivemos sorte com os nossos vizinhos…

O Boletim

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