29 de março de 2024
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Papelão, cabeça de porco e conspirações


O escândalo da semana teve como protagonistas, embora involuntários, bois, vacas, frangos, galinhas e porcos. E linguiça com papelão. Com o objetivo claro de não ter perdas e aumentar o lucro, segundo o que dizem a Polícia Federal e o Ministério Público, um grupo de empresas frigoríficas com atuação em todo o país vinha fazendo e acontecendo com os produtos que saíam desses frigoríficos. Em cerca de 20 unidades, localizadas nos estados de Minas Gerais, Paraná e Goiás, pertencentes às gigantes que operam no Brasil e na exportação no mercado de carnes, executivos das empresas subornavam um grupo de 30 fiscais do Ministério da Agricultura.
GOSTOSINHAS
Cabia aos fiscais fazer vista grossa à fiscalização sanitária de produtos vencidos, à troca de carimbos do SIF (Serviço de Inspeção Federal) em produtos impróprios para o consumo, ao enxerto de produtos químicos, o que incluía até cancerígenos como ácido ascórbico, para disfarçar o odor de carnes, e à inclusão de papelão e de cabeças de porcos inteiras, com olho, dente, cárie, cabelo, cera de ouvido, meleca do focinho e o que mais deve passar por uma cabeça suína, mesmo a mais limpinha. No caso da cabeça de porco e do papelão, o objetivo era lucrar um pouco mais com as linguiças, embutindo na iguaria não exatamente pedacinhos de coisas para deixa-las gostosinhas, mas mais pesadas e volumosas.
Bem, a treta da Operação Carne Fraca todo mundo já conhece, pois desconhece-se veículo de comunicação que não tenha noticiado e rede social que não tenha esticado o assunto sob os mais diferentes vieses. E aqui são eles que interessam. Hoje é assim: a notícia pode até morrer no dia em que nasce, mas as interpretações, reinterpretações e o melhor delas, as teorias conspiratórias, merecem compêndios, não importa se psicanalíticos, políticos ou coisa que só os melhores ufólogos seriam capazes de dar conta.
É A PREVIDÊNCIA
Desde que foi veiculada a primeira informação sobre a Carne Fraca, não param de surgir teorias conspiratórias, dentre as quais três se destacam. A primeira e a mais óbvia delas: como tantos brasileiros podem ser tão estúpidos a ponto de não perceber que tudo não passa de uma cortina de fumaça, montada pelos políticos e pelo empresariado (certamente sem combinar com os players nacionais do mercado frigorífico) que compraram a mídia para desviar a atenção da população e, assim, aproveitar que o brasileiro tá distraído com carne podre, para aprovar a toque de caixa a reforma da previdência e ferrar com o trabalhador?
A segunda teoria é mais sofisticada, embora tenha um quê de plágio. Quando grandes executivos da Petrobras começaram a ser presos e delatar uma matilha de políticos, um dos argumentos bate-estaca foi: não estão vendo que isso é história para boi dormir, que é coisa do imperialismo, que armou tudo para destruir a Petrobras, por estar atrapalhando os interesses dos Estados Unidos? Sim, sim, deve haver provas de que Nestor Cerveró e Paulo Roberto Alves são criações laboratoriais da economia do Tio Sam. Algo meio carneiros Dolly, criados em laboratório só para atender aos interesses das petrolíferas americanas.
O meso-plágio da tese imperialista aplicada à corrupção na Petrobras é a teoria conspiratória da vez no caso Carne Fraca. Não se fala em outra coisa depois da linguiça de papelão: será que não é óbvio que as corporações internacionais estão no centro disso, mancomunadas com Polícia Federal, Ministério Público e, claro, imprensa, sempre ela, para criar esse factoide para terminar a tarefa que vem sendo tão bem executada? Os outros, sempre os outros, já destruíram a petrolífera que orgulhava os brasileiros, já destruíram as maiores e mais bem sucedidas empreiteiras/construtoras e agora… bingo! Conseguiram atingir o coração do último bastião estratégico da economia brasileira: o mercado frigorífico, um dos braços mais poderosos do agrobusiness, ancorado na exportação de grãos, frutas, vegetais e carnes.
OVOS
A terceira teoria é mais comedida. Ok, alguns poucos frigoríficos, poucos funcionários e poucos fiscais erraram. Mas para que tanto destaque dado pela PF e pela imprensa? Bastaria apurar em sigilo, punir e prender em sigilo, sem estardalhaço, para não prejudicar um setor tão importante da economia brasileira. Ah, tá, imagine o barulho se isso viesse à tona lá na frente. A mesma PF e a mesma imprensa  seriam execradas por não divulgar fatos do interesse público. Não há como fazer omelete sem quebrar ovos. Portanto, diante da Carne Fraca, há várias opções: frigoríficos e fiscais públicos são corruptos ou vítimas de sofisticadas engrenagens do mercado global que quer ferrar com a economia brasileira? Tudo não passa de mídia comprada para desviar o trabalhador enquanto este se ferra na Previdência? Ou o problema foi contar ao povo?

O Boletim

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