28 de março de 2024
Sergio Vaz

Virou a página. Mas não dá para comemorar

Foi uma vitória. Mas à frente há ameaças demais.
Pronto: acabou o perigo de explosão da bomba plantada pela Procuradoria-Geral da República no dia 17 de maio, revigorada, amplificada, vitaminada pela forma irresponsável e mentirosa com que foi divulgada ao mundo pelas Organizações Globo. Lembrando, bem rapidamente:
Em março, o presidente Michel Temer recebeu a visita de Joesley Batista, um dos donos da JBS, empresa que, durante os governos do PT, com dinheiro público, se transformou na maior processadora de carnes do mundo. Joesley levava com ele um gravador, e gravou a conversa em que ele falava muito e o interlocutor, bem pouco.
Joesley estava já em tratativas com a Procuradoria-Geral da República para fazer uma delação premiada: confessaria dezenas de crime, tentaria ainda gravar o próprio presidente da República admitindo algum desvio, e com isso ganharia imunidade total – ele e seu irmão.
No final da tarde de 17 de maio, o site do jornal O Globo publicou manchete sensacional e sensacionalista afirmando que Temer havia sido gravado “dando aval a compra do silêncio de Cunha”.
Essa versão – “Temer é gravado dando aval a compra de silêncio de Cunha” – foi repetida mil vezes, ad nauseam, no Jornal Nacional da Rede Globo e ao longo de toda a programação da Globonews daquele dia. Foi a manchete do jornal O Globo no dia 18.
Boa parte da imprensa brasileira reproduziu essa versão.
Essa versão, como se sabe, é mentirosa.
A gravação não comprova essa versão.
Tanto que a Folha de S. Paulo, numa atitude corajosa, que merece todos os aplausos, faria um mea culpa, em texto publicado em 31/5:
Folha errou em reportagem sobre áudio de Temer
A Folha errou ao afirmar que o empresário Joesley Batista gravou conversa com o presidente Michel Temer em que relatou a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha na prisão e recebeu aval à operação.
A afirmação foi publicada no final da tarde de quarta (17), primeiro creditada ao colunista Lauro Jardim, de “O Globo”, e depois confirmada pela Folha.
Naquele momento, nenhum dos dois jornais tinha tido acesso às gravações. Elas só foram tornadas públicas no dia seguinte, 18 de maio.
Nesse dia, a Folha publicou reportagem dizendo que o áudio, na verdade, é inconclusivo a respeito da compra do silêncio de Cunha.
A tese do aval para a compra de silêncio é uma interpretação da Procuradoria-Geral da República, usada para pedir a abertura de inquérito contra Temer. O pedido foi atendido pelo ministro Edson Fachin, mas a defesa do presidente nega a versão do Ministério Público.
Simples assim. Límpido assim.
***
Mas não para o procurador-geral Rodrigo Janot – nem para as Organizações Globo.
Rodrigo Janot apresentou denúncia contra o presidente Michel Temer. Baseado única e exclusivamente na fita gravada pelo empresário bandido, e em um vídeo que mostrava um auxiliar da confiança de Temer recebendo R$ 500 mil em espécie.
Em editorial, O Estado de S. Paulo demonstrou por a mais b que a denúncia era inepta.
Mas a mais poderosa rede de órgãos de comunicações do país fazia campanha cerrada, uma santa Cruzada, para derrubar o presidente da República.
Pelo que diziam as Organizações Globo, que Lula, que nada: o maior corrupto da História do Brasil é Michel Temer.
Dentro da crise política, econômica e moral instaurada pelos 13 anos, 5 meses e 12 dias de governo lulo-petista, criou-se uma nova grande crise, que ameaçava paralisar o movimento – ainda tênue, fraco, tíbio – de retomada da atividade econômica.
Veio o recesso parlamentar, a crise foi sendo empurrada para a frente.
Finalmente, nesta quarta-feira, 2 de agosto, o mês do desgosto, a Câmara afastou a denúncia feita por Rodrigo Janot contra Temer.
A votação foi expressiva: 227 a favor de o STF acatar a denúncia, 263 contra.
É um número de fazer gosto, 263 votos de apoio ao governo Michel Temer. É mais que a maioria absoluta, de 257 deputados.
Dá para aprovar muita coisa, com essa maioria.
Dá para o governo Michel Temer continuar fazendo boas coisas pelo país, como tem feito, ao longo deste pouco mais de um ano.
***
Significa então que dá para respirar, dá para comemorar?
Como diria o jovem Chico Buarque num de seus belos sambas, qual o quê.
Qual o quê.
Não há multidões na rua pedindo “Fora Temer”. Não há – até agora, pelo menos – sequer mobilizações consideráveis pedindo “Fora Temer”. Mas os ativistas do lulo-petismo e seus associados conseguiram difundir a ideia de que apenas 5% dos brasileiros apoiam o governo. E – muito pior – conseguiram difundir a ideia de que reforma, seja da previdência, do trabalho, do que for, é ruim, é retrocesso.
A imprensa realça os números das pesquisas eleitorais, mesmo sabendo que esses números hoje não significam coisa alguma – e então espalha-se a sensação de que o país caminha fatalmente para um duelo de morte, em outubro do ano que vem, entre Lula e Bolsonaro. A escolha entre o roto e o esfarrapado. Entre a merda e a bosta, se me permitem expressar o que realmente essa dualidade significa.
O partido que, desde a segunda eleição presidencial pós-ditadura, se colocou como o antípoda do PT, esse se esfarelou definitivamente na votação desta quarta-feira. Embora participe do governo, embora tenha quatro ministros, o PSDB encaminhou votação contra o presidente Temer.
Colocou-se ao lado do PT e de seus satélites, PCdoB, PSOL, PDT.
***
Não se vê opção à frente.
Mesmo se o governo Temer, devido à indiscutível qualidade das pessoas da área econômica, conseguir algum avanço para longe da profunda recessão criada pelos governos petistas, é muito grande a possibilidade de o país chegar a outubro de 2018 sem opções decentes entre o populismo idiota, cego, estúpido, destruidor da economia representado pelo lulo-petismo, de um lado, e o atraso idiota, cego, estúpido, calhorda, reacionário, representado pela direita rançosa de Jair Bolsonaro de outro.
Diacho. Não dá sequer para comemorar uma bela vitória da racionalidade, como foi a de hoje na Câmara dos Deputados.
2/8/2017
Abaixo vão as primeiras páginas dos sites dos três grandes jornais brasileiros, às 22h40 desta quarta-feira.
É um exercício bem simples de jornalismo comparado.
O Estado e a Folha dão manchetes informativas. Jornalísticas. Como se deve.
O Globo faz campanha, Cruzada Santa. Deixou de ser jornal – virou panfleto de causa política.
 


O Boletim

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *