26 de abril de 2024
Sergio Vaz

Já está melhorando (2)


Nos últimos dias, cinco novos fatos positivos.
O desemprego está altíssimo. No último trimestre de 2016, 12% da força de trabalho estava sem emprego – o equivalente a 12,3 brasileiros. A taxa média de desemprego no ano ficou em 11,5%, contra os 8,5% registrados em 2015. Só nos últimos dois anos, a recessão deixou 5 milhões de brasileiros desempregados.
E não há expectativa de que esses números apavorantes comecem a cair nos próximos meses.
É sempre assim nas recessões – e a recessão em que os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff enfiaram o país é a mais grave de toda a História. Como bem sintetizou O Globo em pequeno texto de Opinião nesta quinta-feira, 2/2: “Na recuperação da economia, os empresários primeiro ocupam a capacidade de produção que ficou ociosa, sem admissões; depois, começam a contratar, mas de forma lenta e cuidadosa.”
Apesar da tragédia do desemprego, que persiste e ainda vai persistir por mais algum tempo, o fato é que a economia brasileira já começou a dar mostras de recuperação, apenas 9 meses após o afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República.
É uma recuperação necessariamente lenta, vagarosa, tímida, porque o buraco era profundo demais – mas a recuperação já não é mais uma possibilidade futura. Ela já começou. Apenas duas semanas atrás, em meados de janeiro, juntei aqui seis fatos que já demonstravam que a recuperação está começando.
Nos últimos poucos dias, houve ao menos cinco fatos que demonstram isso, que ajudam a compor o cenário de que a economia brasileira começa a sair do buraco, do pântano, do brejo em que foi colocada pela incompetência e pela soberba dos governos lulo-petistas, mais doses cavalares de corrupção:
1 ) As contas do governo central fecharam 2016 com um resultado um pouco melhor que o prometido.
Como resumiu o Estadão em editorial na quarta, 1º/2, “pelo compromisso, o governo central deveria encerrar o ano com um déficit primário de até R$ 170,5 bilhões. O balanço final mostrou até uma pequena folga, nada espetacular, mas politicamente importante. Um tropeço nesta altura poderia prejudicar seriamente a imagem da equipe econômica e impor um grave problema ao presidente da República.”
E o editorial acrescentou: “Tendo vencido essa etapa, ele (o governo central) acumula três ganhos concretos na área fiscal. Conseguiu a aprovação de um teto para o gasto público, usou esse critério para montar o Orçamento de 2017 e respeitou a meta fixada para 2016. Além disso, pôs em marcha a reforma da Previdência, um empreendimento essencial, embora politicamente complicado e de resultado incerto.”
2 ) A produção industrial reagiu em dezembro. O bom sinal levou os analistas a preverem um 2017 melhor para a indústria, com provável recuperação no segundo semestre.
No resultado total de 2016, houve uma queda de 6,6% – foi o terceiro ano seguindo de retratação da indústria. Em dezembro, no entanto, a indústria recuou apenas 0,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior; foi a 34ª taxa mensal negativa em seguida – mas foi a menos intensa de toda a sequência.
Agora, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já projeta que o PIB do setor deve crescer 1,3% este ano.
3 ) Mais de R$ 6 bilhões de recursos estrangeiros entraram na Bolsas de Valores de São Paulo em janeiro, impulsionada, como escreveu Míriam Leitão no Globo de quinta, 2/2, “pela alta dos preços das commodities e pela expectativa de que a recessão esteja próxima do fim”.
4 ) O Índice da Bolsa, o Ibovespa, subiu 7,37% só no mês de janeiro.
5) Diminui a inadimplência das famílias.
Em janeiro, foi registrado o menor patamar de famílias com algum tipo de dívida desde junho de 2010, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Foram 55,6% das famílias – número ainda alto, sem dúvida, mas bem menor do que vinha sendo nos últimos meses.
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Não se trata mais de fatos que indicam que as coisas vão melhorar – como eu compilei aqui durante 21 semanas depois do afastamento de Dilma Rousseff no dia 12 de maio de 2016. São fatos que mostram que as coisas já começam a melhorar.
Não é à toa que a capa da revista Exame de 1º/2 tem a manchete “O pior já passou”, chamando para uma reportagem que mostra “a inflação controlada e a queda dos juros num ritmo mais acelerado aumentam a percepção de que, sim, o pior momento da crise já passou”.
Abaixo, o editorial do Estadão e o artigo de Miriam Leitão.
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Mais que ajuste, moralização
Editorial, Estadão, 1º/2/2017
O governo superou mais um teste, essencial para sua credibilidade, ao fechar as contas do ano passado com um resultado pouco melhor que o prometido. Pelo compromisso, o governo central deveria encerrar o ano com um déficit primário de até R$ 170,5 bilhões. O balanço final mostrou até uma pequena folga, nada espetacular, mas politicamente importante. Um tropeço nesta altura poderia prejudicar seriamente a imagem da equipe econômica e impor um grave problema ao presidente da República.
Tendo vencido essa etapa, ele acumula três ganhos concretos na área fiscal. Conseguiu a aprovação de um teto para o gasto público, usou esse critério para montar o Orçamento de 2017 e respeitou a meta fixada para 2016. Além disso, pôs em marcha a reforma da Previdência, um empreendimento essencial, embora politicamente complicado e de resultado incerto.
O balanço do governo central passou no teste por qualquer dos critérios oficiais. Segundo o padrão usado pelos técnicos do Tesouro, o buraco ficou em R$ 154,25 bilhões. De acordo com os cálculos do Banco Central (BC), o rombo chegou a R$ 159,47 bilhões. São métodos diferentes. No primeiro caso, apura-se a diferença entre receitas e despesas primárias, isto é, sem juros. No segundo, o saldo positivo ou negativo é determinado pela necessidade de financiamento.
Pelo critério do BC, o resultado geral do setor público foi um déficit primário de R$ 155,79 bilhões. O resultado do governo central, formado por Tesouro, Previdência e BC, foi parcialmente compensado pelo superávit dos governos estaduais (R$ 6,79 bilhões). O total ainda inclui saldos negativos de prefeituras e de empresas estatais.
Examinado sem outra consideração, o balanço de 2016 está longe de ser animador: o buraco nas contas primárias foi o maior da série registrada. Além disso, o resultado teria sido mais feio sem os R$ 46,8 bilhões de impostos e multas obtidos com a regularização de recursos mantidos no exterior. Um ajuste efetivo deve ser independente de receitas extraordinárias. Mas é preciso levar em conta outros detalhes.
A meta de R$ 170,5 bilhões para o déficit primário foi fixada com realismo, num avanço em relação à política anterior. Essa meta foi alcançada com alguma folga num ano de funda recessão, com forte queda de receitas tributárias.
Além do mais, houve redução real de 1% (considerando-se a inflação) de gastos com salários e encargos do governo central e de 11,6% em outras despesas obrigatórias. Esses pormenores indicam um esforço considerável, depois de anos de gastança irresponsável.
A esses dados é preciso acrescentar o esforço de regularização de compromissos. A acumulação de restos a pagar, ano após ano, foi uma característica da administração petista. Em 2016 o governo liquidou R$ 37,5 bilhões, um quinto do valor inscrito para o exercício (R$ 185,7 bilhões). Também isso foi uma importante mudança de política.
O saneamento incluiu a eliminação de dívidas menores, mas humilhantes, como pagamentos em atraso a organizações internacionais e contas de embaixadas e consulados. Em alguns lugares, despesas vinham sendo pagas por funcionários.
Muito mais que um acerto aritmético, o programa do governo é um esforço de moralização e de recuperação das condições mínimas de operação do setor público. Controlar o endividamento é um dos objetivos. Depois de ter chegado a 70,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em novembro, a dívida bruta do governo geral foi reduzida para 69,5% no fim do ano, ainda muito acima dos padrões dos emergentes.
Isso foi em parte possibilitado pela devolução ao Tesouro de R$ 100 bilhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Durante anos o Tesouro se endividou para abastecer os bancos federais com recursos subsidiados. Grande parcela desse dinheiro beneficiou grupos eleitos como favoritos da corte, sem vantagem para a economia nacional e com enormes custos para o setor público. O grande ajuste inclui também a reparação dos efeitos desastrosos dessa política.
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Trégua e riscos
Por Míriam Leitão, O Globo, 2/2/2017
A crise brasileira ganhou uma pequena trégua neste início de ano. Os indicadores de confiança subiram, a bolsa se recuperou, e economistas que tinham uma visão mais cautelosa para o ano estão um pouco mais otimistas. Mais de R$ 6 bilhões de recursos estrangeiros entraram na Bovespa em janeiro, impulsionada pela alta dos preços das commodities e pela expectativa de que a recessão esteja próxima do fim.
A produção industrial divulgada ontem mostrou uma forte alta em dezembro, de 2,3%. Em meados do ano passado, houve cinco meses seguidos de crescimento da indústria e depois ela voltou a cair. Não é uma tendência, portanto, e já há previsões de queda nos dados de janeiro. Mas nas estimativas para o ano os economistas estão com dados positivos. O Bradesco, por exemplo, projeta um crescimento de 1% da produção industrial em 2017. No final do ano passado, vários indicadores vieram pior do que o esperado. Temeu-se que a recessão estivesse novamente se aprofundando, mas agora esse temor está passando.
O mercado financeiro tenta antecipar os ciclos econômicos, e a recuperação do Ibovespa é um sinal de maior confiança no futuro. A queda da Selic provoca um movimento de realocação nos investimentos, com saída da renda fixa para a renda variável. Deixar o dinheiro parado em títulos do Tesouro vai render menos, e a perspectiva de aceleração da atividade vai aumentar o lucro das empresas, explica o economista Álvaro Bandeira, do Home Broker Modalmais.
— A crise fiscal ainda é forte, mas já está mais claro que o país conseguiu se ajustar em várias áreas. Caiu a inflação, os juros estão em queda, o risco-país também diminuiu, assim como o dólar. O setor externo reduziu bastante o déficit em conta-corrente. A inadimplência está mais baixa, apesar do desemprego, e isso favorece o setor financeiro e facilita o destravamento do crédito — explicou Bandeira.
A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, admite que está um pouco mais aliviada, depois do susto com os números ruins da economia no final do ano passado. Pelas estimativas do Ibre, o país pode voltar ao azul já neste primeiro trimestre, em relação ao quarto, mas com um crescimento mínimo, de apenas 0,1%, e sustentado pela agropecuária. Silvia prefere olhar para o segundo trimestre, quando espera números positivos espalhados por vários setores: indústria, serviços, consumo e investimentos.
— Eu estava preocupada com o risco de uma nova recessão este ano, mas isso diminuiu bastante. A gente mantém a estimativa de alta de 0,3% para o PIB de 2017, mas com viés de alta. O ano começa fraco, mas vai acelerando, para chegar no quarto trimestre em um ritmo mais forte — afirmou.
O Ibovespa deu um salto de 7,37% em janeiro. As ações de alguns bancos subiram. A Vale saltou 30%, por causa da forte recuperação dos preços do minério de ferro. Álvaro Bandeira explica que isso puxou os papéis do setor siderúrgico e da área de mineração. A China anunciou o fechamento de siderúrgicas mais poluentes, e isso deve resultar numa produção menor de aço para competir com a produção local, no caso, a brasileira.
O índice americano Dow Jones chegou a bater recorde histórico, mas o cenário externo está incerto com toda a crise provocada pelas primeiras decisões do presidente Donald Trump.
— Duas coisas me preocupam este ano. A primeira é o cenário externo com o governo Trump, que vai provocar volatilidade. A segunda é a classe política brasileira se acomodar a partir do momento em que a economia voltar para o azul. É preciso manter o esforço contínuo de reformas. A Previdência precisa ser aprovada — disse Silvia Matos.
Os indicadores mostram que este ano é de pequena melhora, depois da grande hecatombe que foram os últimos dois anos. Há dois pontos de aguda incerteza. Aqui dentro, a crise política pode se agravar muito com todas as revelações da Lava-Jato. No exterior, os Estados Unidos viraram o grande ponto de interrogação com as decisões radicais do novo presidente. Será preciso ir retomando lentamente o ritmo de atividade econômica, apesar desses dois pontos de instabilidade.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

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