20 de abril de 2024
Sergio Vaz

Está melhorando (8)


É o que mostram diversos números e sólidas análises.
Nesta próxima sexta-feira, 12 de maio, completa-se um ano que Dilma Rousseff saiu do Palácio do Planalto, deixando o país enfiado no fundo do fundo do fundo do poço, na maior recessão de sua História, as contas públicas em frangalho, a inflação altíssima e subindo mais, um índice assustador de desemprego e as maiores empresas estatais – Petrobras e Eletrobras – saqueadas, tomadas pela corrupção e com valor de mercado imensamente menor do que já haviam tido.
Vai fazer um ano que economistas e analistas serenos, de bom senso, avisam (e eu repito aqui o que eles avisam) que sair de uma recessão não é fácil, não é rápido. Bem ao contrário: é uma tarefa extremamente difícil, e leva tempo, muito tempo.
Faz quase um ano que digo aqui – citando números, fatos e análises – que vai melhorar. De uns meses para cá, venho dizendo que já está melhorando.
Na semana anterior àquela em que se completa um ano que o país ficou livre da incompetência, da arrogância, da soberba de Dilma Rousseff, foram divulgados novas informações e novos números que demonstram isso.
Alguns deles:
* No setor automobilístico, a produção de abril, de 191,1 mil veículos, foi 11,4% maior que a de um ano antes.
O total produzido de janeiro até abril, de 801,6 mil unidades, foi  20,9% maior que o dos primeiros quatro meses de 2016.
A produção da indústria automobilística dos últimos 12 meses foi 4,1% superior que a dos 12 imediatamente anteriores.
De janeiro a abril as vendas externas proporcionaram faturamento de US$ 4,6 bilhões, 52,6% superior ao do mesmo período de 2016.
* O total de máquinas agrícolas e rodoviárias vendido às concessionárias no primeiro quadrimestre (13,2 mil unidades) foi 33,1% maior que o de janeiro-abril de 2016.
* A produção do segmento eletroeletrônico no primeiro trimestre foi 4,3% maior que a do mesmo período de 2016.
***
* Após 11 meses consecutivos de queda, a indústria avançou 0,6% de janeiro a março.
Eis o início da reportagem de Daiane Costa em O Globo da quinta-feira, 4/5:
“Depois de 11 trimestres consecutivos de queda, a indústria saiu do vermelho no começo deste ano, com um crescimento de 0,6% de janeiro a março em comparação ao mesmo período de 2016, quando o setor registrou queda superior a 11%. Para analistas, o desempenho modesto indica que a indústria ainda está estagnada, mas em processo de transição para sair da crise que afeta o setor desde 2014. Fatores como a explosão do desemprego, baixa confiança do consumidor e índices elevados de capacidade ociosa e endividamento da indústria, somados à demora dos bancos a repassar a queda dos juros a empresários e consumidores, tornam comedidas as projeções para o desempenho do setor este ano. A indústria dificilmente amargará um quarto ano de resultado negativo e deve voltar a contribuir positivamente com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, mas a alta, segundo estimativas de especialistas, não deve passar de 2,4% – muito aquém da perda acumulada entre 2014 e 2016, que foi de 17,9%.
“- Estamos vivendo um período de estancamento da crise, não é recuperação ainda. Vamos andar de lado por mais tempo – afirma Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).”
Certo. Não é recuperação ainda. Mas já está melhorando.
***
É como escreveu em seu artigo em O Globo do sábado, 6/5, o jornalista Guilherme Fiúza, que tem se demonstrado um dos melhores humoristas em atuação no país:
“O governo dos brancos e velhos que assumiu em lugar da mulher e do operário não tem a menor graça. Hoje, quem toma conta do seu dinheiro são técnicos, administradores que só pensam em administrar, nunca nem subiram num palanque. Uns chatos. Michel Temer deu uma de Itamar Franco e pôs o leme nas mãos dos melhores — no Tesouro, no Banco Central, na Fazenda, no BNDES, na Petrobras. Nenhum faminto do PMDB apita em qualquer desses domínios. O resultado é chocante: inflação controlada, retomada de investimentos, previsão de queda do desemprego este ano.”
Bom humor é necessário como o sal, como a água, como o ar.
Mas vamos de volta à seriedade.
***
Na semana anterior, na quarta, 27/4, a reforma trabalhista já havia passado no Plenário da Câmara, por 296 votos a favor e 177 contrários.
Na última semana, o texto básico da reforma da Previdência foi aprovado em comissão da Câmara, por 23 votos a 14.
A reforma trabalhista segue agora para o Senado. A reforma da Previdência, como é projeto de emenda constitucional, tem ainda um caminho longo e difícil pela frente – tem que ser aprovada por maioria absoluta em duas votações no Plenário da Câmara e depois enfrentar toda tramitação semelhante – duas votações em Plenário com exigência de maioria absoluta.
Ainda falta muito para a reforma da Previdência ser aprovada, e, para negociar, para tentar obter a maioria qualificada, o governo tem cedido em diversos pontos – mas, de qualquer forma, a reforma trabalhista está andando, e também a da Previdência vai indo.
São reformas indispensáveis – mas são difíceis, impopulares.
O “governo dos brancos e velhos” – como brinca Guilherme Fiúza – está enfrentando a batalha que é fundamental para o país.
***
Abaixo seguem as íntegras de dois editoriais do Estadão e também a de uma coluna de Míriam Leitão em O Globo.
São três ótimas análises que demonstram que a economia já vai dando sinais de melhora.
A indústria se move
Editorial, Estadão, 27/4/2017.
Os empresários industriais estão mais otimistas quanto a condições do mercado interno, exportações e compra de matérias-primas, e menos pessimistas quanto à evolução do emprego, segundo a nova sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Todos os indicadores de expectativa subiram em abril e até a intenção de investimentos continuou melhorando, embora continue abaixo da linha de indiferença. A atividade mostrou fôlego no mês passado, segundo o relatório. A produção normalmente sobe de fevereiro para março, mas desta vez o índice atingido foi o maior para o mês em sete anos. O indicador bateu em 54,8 pontos, bem acima da fronteira (50 pontos) entre as áreas de alta e de queda de produção. O número mais próximo desses, no mesmo mês, foi anotado em 2012, quando a sondagem apontou 54,6 pontos.
Apesar da atividade mais intensa, ainda sobrou muita capacidade ociosa nas fábricas. O uso da capacidade instalada continuou aumentando e o indicador atingiu 41,2 pontos, mas permaneceu abaixo do padrão habitual, indicado pela linha de 50 pontos. A diferença é a menor desde dezembro de 2014, no começo da recessão.
A mensuração mais direta dá uma ideia do enorme potencial desperdiçado. De um mês para outro a ocupação da capacidade produtiva passou de 62% para 65%. Há cerca de um terço, portanto, de equipamentos desligados ou mantidos em baixo ritmo de funcionamento. É fácil entender por que a intenção de investimento permanece em território negativo, embora o índice tenha subido 8 pontos em um ano.
Apesar disso, o faturamento da indústria de máquinas e equipamentos cresceu 31,5% de fevereiro para março, de acordo com a associação das indústrias do setor (Abimaq). Mas no primeiro trimestre as compras de bens de capital – nacionais e importados – ainda ficaram 19% abaixo do total contabilizado um ano antes. Mesmo com alguns sinais positivos no cenário, os empresários ainda levarão algum tempo para se preocupar com a ampliação da capacidade produtiva. Eles deverão esperar um aumento mais firme da demanda interna. Oportunidades de exportação também poderão apressar a reativação dos negócios e a ocupação do parque produtivo, mas a maior parte do impulso terá de vir do mercado interno.
O ritmo da recuperação dependerá tanto da confiança dos empresários, nos vários setores, como das expectativas do consumidor. A curto prazo os indicadores podem divergir, compondo, à primeira vista, um quebra-cabeça. Em abril, o índice de confiança do empresário do comércio atingiu 102 pontos. O número foi 2,1% maior que o de março e 27,7% superior ao de abril do ano passado, segundo a Confederação Nacional do Comércio. No mesmo mês o índice de confiança do consumidor caiu 3,1 pontos, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com a queda, o indicador perdeu um quarto da alta de 12,2 pontos nos três meses anteriores. Houve piora tanto da avaliação do quadro atual como da expectativa em relação aos meses seguintes.
Segundo a coordenadora da pesquisa, Viviane Seda Bittencourt, “o aumento da incerteza, principalmente no ambiente político, parece agir como uma ducha de água fria no sentimento dos consumidores”. Ela menciona como um dos possíveis fatores de mau humor a divulgação da lista de políticos mencionados nas planilhas de controle da Odebrecht.
É razoável apontar a insegurança quanto à evolução das condições políticas como um fator negativo para a disposição do consumidor. Mas talvez seja o caso de levar em conta o cenário ainda muito ruim do mercado de emprego e as incertezas quanto às condições de renda nos próximos meses. As últimas informações indicaram cerca de 13,5 milhões de pessoas desempregadas no trimestre entre dezembro e fevereiro. O aumento da confiança dos empresários da construção, também divulgado pela FGV, pode indicar parte da solução. Investimentos em infraestrutura e habitação podem ampliar de forma importante as contratações. Isso dependerá em boa parte da agilidade do governo.
Os ângulos dos números
Míriam Leitão, O Globo, 4/5/2017.
Há vários ângulos em cada um dos números deste tempo de recuperação lenta, difícil e conturbada que a economia brasileira está vivendo. A produção industrial tomou um tombo em março, mas o acumulado no trimestre interrompeu a série de 11 trimestres de retração. A balança comercial teve resultado recorde. Em apenas quatro meses, o saldo chegou a US$ 21 bilhões.
Nesses tempos de crise, o comércio exterior está ajudando a dar mais movimento à economia. Não apenas pelo superávit de US$ 7 bilhões de abril, mas porque depois de mais de dois anos caindo, as importações avançam. Está subindo toda a corrente de comércio. Isso é melhor que ter um alto superávit.
A indústria foi o setor mais atingido pela crise desde o começo, e tem tido alguns sinais positivos. Não recuperou o tempo perdido, mas teve bons janeiro e fevereiro. Em março, a queda foi a pior da série para este mês: -1,8%. O mercado projetava redução de 0,8%. Em dezembro havia crescido 2,3%.
O caminho da indústria tem sido sinuoso. Alguns segmentos avançam. Bens de capital tiveram alta de 4,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os bens de consumo duráveis avançaram 10,5%. O número do trimestre ficou positivo em 0,6% e isso não é pouco para um setor que encolhe há quase três anos.
O economista Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, conta que os últimos números positivos puxaram para cima o resultado do trimestre anulando em parte a queda de março.
No comércio internacional, o bom resultado não pode ser explicado apenas pela recessão, que costuma produzir excedentes para serem exportados. Houve também aumento de importação, o que só acontece quando há elevação da atividade interna. No acumulado de janeiro a abril, o saldo ficou positivo em US$ 21,38 bi, ou 61% a mais que em 2016. As exportações foram de US$ 68,15 bi, alta de 21,8%. As importações avançaram 9,5%, para US$ 46,7 bi.
O crescimento da corrente de comércio — a soma dos dois lados da balança — é mais relevante para a economia do que o próprio superávit porque indica uma atividade mais forte. No acumulado de janeiro a abril a corrente cresceu 16,5%, ao contrário do que acontecia nos últimos anos. Quando o país começou a acumular superávit em meados de 2015, o motivo era a queda da demanda por importações. O efeito sobre a atividade, portanto, era negativo. No levantamento mais longo o problema ainda é notado. Em 12 meses, por exemplo, a corrente de comércio registra queda de 0,8%.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destaca a mudança.
— A balança comercial está se tornando de fato positiva. Há pouco tempo, o país tinha superávit “negativo”. As exportações caíam, mas o saldo ficava no azul porque as importações despencavam ainda mais. Isso mudou.
Nas exportações, a alta é consistente. Contra abril de 2016, os embarques cresceram 27,8% pela média diária. No topo da lista estão as commodities, que subiram de preço. No ano, os embarques de soja cresceram 26,4%, com a supersafra e a melhora na cotação do produto. O minério de ferro, com o preço também em alta, avançou 128,6%. No petróleo bruto, a expansão foi de 142%. O temor com os efeitos da “Operação Carne Fraca” não se concretizou, em parte porque a reação do governo foi rápida. Contra abril de 2016, as vendas de frango cresceram 1,5%, as de carne bovina caíram 4,1%, e houve alta de 34,4% no valor da exportação de suínos, porque, segundo Castro, o Brasil recentemente abriu muitos mercados para a carne de porco.
O comércio exterior tem efeito no mercado de trabalho. A correlação entre emprego e exportação é mais nítida em alguns manufaturados como calçados, confecções e automóveis, diz José Augusto. O setor calçadista embarcou 14,4% a mais no ano; o de automóveis de passageiros, 48,6%; e o de veículos de carga, 75,8%. A agropecuária não é grande geradora de empregos, mas movimenta outros setores da economia como logística, máquinas agrícolas e fertilizantes.
A volta da economia ao crescimento continuará sendo lenta e cada número tem que ser visto de diversos ângulos para ser entendido. O pior passou, mas o bom momento ainda não chegou.
(Com Marcelo Loureiro)
Avanços e solavancos
Editorial, Estadão, 7/5/2017.
Arrancos, freadas e solavancos marcam a fase inicial da recuperação brasileira, num ambiente de consumo ainda moderado, vendas externas em crescimento e segmentos industriais com ritmos de atividade bem diferenciados. O setor automobilístico é quase uma síntese desse quadro. A produção de abril, de 191,1 mil veículos, foi 18,8% menor que a de março, mas 11,4% maior que a de um ano antes. Os números acumulados no ano deixam clara a manutenção de um rumo. O total produzido de janeiro até o mês passado, de 801,6 mil unidades, superou por 20,9% o dos primeiros quatro meses de 2016. A comparação dos últimos 12 meses com os 12 imediatamente anteriores mostra avanço de 4,1%. Tem havido, portanto, uma evidente aceleração, apesar dos solavancos e da perda de impulso em alguns momentos.
Dois fatos valem atenção especial, quando se examina em detalhes o desempenho das montadoras. O primeiro é a expansão do valor das exportações. De janeiro a abril as vendas externas proporcionaram faturamento de US$ 4,6 bilhões, 52,6% superior ao do mesmo período de 2016. A atenção ao mercado externo vem facilitando a reativação do setor automobilístico e de outros segmentos industriais.
Mas o comércio exterior continua pouco explorado pela maior parte do setor produtivo brasileiro. Uma participação mais intensa nas trocas internacionais e nas cadeias globais de valor daria maior vitalidade à economia nacional e favoreceria a manutenção e a criação de empregos. Para isso seria preciso depender menos de protecionismo e dar mais atenção aos ganhos de produtividade e à inovação. A nova política econômica, espera-se, dará maior ênfase a esses pontos.
Outro detalhe saliente é o aumento das vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias. O total vendido às concessionárias no primeiro quadrimestre (13,2 mil unidades) foi 33,1% maior que o de janeiro-abril de 2016. Essa evolução é explicável principalmente pelo bom desempenho do agronegócio, o setor mais eficiente e mais competitivo da economia nacional. Esse bom desempenho é atribuível à ampla integração do setor no mercado internacional. Pesquisa, mudança tecnológica e alta competitividade são os principais componentes dessa história de sucesso.
Outro segmento em recuperação tem sido o eletroeletrônico. Sua produção no primeiro trimestre foi 4,3% maior que a do período janeiro-março de 2016, de acordo com números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e agregados pela associação das empresas do setor, a Abinee. Também neste caso houve um tropeço, embora o rumo da recuperação se tenha mantido. A produção de março foi 2,6% menor que a de fevereiro, mas 5,5% maior que a de um ano antes. Mas em 12 meses o balanço continua em vermelho, com a produção 3,1% menor que a do período anterior.
Além disso, os dois componentes do setor têm apresentado resultados divergentes. No primeiro trimestre, o segmento eletrônico produziu 17,3% mais que um ano antes, enquanto a indústria elétrica fabricou 4,4% menos que em janeiro-março do ano passado.
Os números das montadoras de veículos e do setor eletroeletrônico exemplificam bem a diversidade mostrada pelo IBGE no relatório sobre a indústria nos primeiros meses. Mas confirmam também a tendência dominante de melhora em relação ao desempenho de um ano atrás. Se essa tendência se mantiver, 2017 marcará de fato o início da recuperação e o crescimento poderá ser mais veloz em 2018, como tem anunciado o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Por algum tempo a economia poderá crescer sem grande investimento, porque há ampla capacidade ociosa. Mas depois a expansão dependerá de maiores gastos em obras, máquinas e equipamentos. No primeiro trimestre, esse gasto foi 2,1% menor que o de um ano antes, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Avanço nos ajustes e reformas e dinamismo nas concessões de infraestrutura serão essenciais. A Praça dos Três Poderes é o local para se cuidar desses desafios.

O Boletim

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *