29 de março de 2024
Rodrigo Constantino

Em vez de tentar salvar PT proponho autocrítica, meta de democratas deveria ser enterrar de vez o “partido”


Diante de tudo que o PT já fez, de todas as evidências e provas de que não é um partido político, mas sim uma quadrilha organizada com viés ideológico e totalitário, disposta a destruir a própria democracia para se perpetuar no poder, só há uma postura aceitável quando se trata do petismo: pregar sua extinção como instrumento partidário da democracia. Não resta outra alternativa para quem realmente defende o regime democrático.
Essa não é, porém, a postura de inúmeros formadores de opinião, de veículos de comunicação importantes, de políticos mesmo. Os “isentões” preferem enaltecer o “aspecto positivo” do PT, seu legado histórico, como se ele realmente fosse diferente dessa trajetória de roubo, mentiras e ambição desmedida pelo poder. Helio Schwartsman, da Folha, vive pedindo uma autocrítica do partido, assim como vários colegas seus. É como se bastasse o PT reconhecer alguns “malfeitos” para ter o perdão e seguir seu caminho em paz – um caminho que nos levaria até a Venezuela.
Hoje foi a vez de o jornal GLOBO adotar a mesma postura. Num editorial com tom “crítico” ao PT, apontando inclusive para seu viés centralizador e pouco democrático, o jornal não conclui que o “partido” é incompatível com a democracia, como qualquer observador imparcial teria de concluir; ao contrário: ele quer é salvar o PT, propondo a tal autocrítica, como se não houvesse uma incompatibilidade essencial entre o petismo e a democracia. Eis um trecho:
A proposta de uma “frente democrática”, lançada pelo PT para atrair apoios no enfrentamento de Bolsonaro no segundo turno, tem lógica formal. Se o adversário é considerado de extrema direita, todos que não o sejam devem se unir para enfrentá-lo. Mas não deu certo.
Antes de tudo porque o PT disseminou desde sempre fundadas desconfianças de que seja de fato um partido democrático. A começar pelo próprio funcionamento interno. Pois há nele uma transparente e sólida estrutura vertical, cujo único vértice é Lula, a quem todos devem obediência, se tiverem juízo.
A mais recente demonstração do “centralismo democrático” com que funciona o PT é a absoluta dependência do projeto Fernando Haddad a um Lula preso em Curitiba. Cordão umbilical bem explorado pela campanha do adversário de Haddad.
[…]
Mas o fracasso da proposta serve para alertar o partido de que precisa mesmo fazer uma autocrítica formal e pública. A família cearense dos Gomes, Ciro e Cid, é conhecida pela veemência com que faz política. Mas o PT não deveria esquecer as palavras de Cid num evento malsucedido para o partido, porém de muita serventia para militantes e dirigentes. A principal mensagem dada por Cid foi que, sem mea culpa, o futuro da estrela dourada não é brilhante.
No mínimo, como se vê, afasta aliados em potencial. E fica na dependência de eleitores mais pobres. Mas aqueles que já consideram o Bolsa-Família um patrimônio garantido — e com razão — passaram a ser cativados por outro tipo de discurso, o da segurança pública. Tema com o qual o PT e toda a esquerda convivem com dificuldade.
A autocrítica não só é necessária, como tem de ser ampla, incluindo questões éticas, expostas na avidez com que o partido se lançou na corrupção.
Se o PT fizesse o que o jornal sugere e considera viável, ele deixava de ser o PT! Não é parte de sua natureza marxista esse tipo de autocrítica, de reconhecimento de seus erros, pois o “partido” não considera erro mentir, roubar e enganar para se manter no poder. Isso é parte de sua meta, de seu DNA!
A postura do jornal soa muito tucana: uma crença ingênua no desejo sincero dos petistas de melhorar o Brasil pelas vias democráticas, apesar de tudo que o PT já fez, demonstrando o contrário. É como pedir uma “autocrítica” a um marginal que já roubou sua casa inúmeras vezes. “Se ao menos ele fizesse uma autocrítica para perceber que deve mudar sua ética…” Enquanto isso, lá está o marginal: “Passa tudo! Perdeu, playboy!”
Volto ao óbvio: só existe uma postura aceitável quando o assunto é PT e democracia, que é pregar o completo afastamento entre ambos, para preservar a democracia. Quem tenta salvar o PT não quer salvar a democracia. Ela só pode sobreviver sem o petismo. O que o PT precisa não é de “autocrítica”, mas de seu registro partidário extinto.
Fonte: Gazeta do Povo

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