29 de março de 2024
Eliana de Morais

Hotéis disfuncionais: os erros fatais

Hotéis disfuncionais são resultado da falta de planejamento na construção ou má adaptação de prédios criados para outro fim.
Texto: Fabio Steinberg

Cadê o papel? Falta de um bom projeto, improvisação e burrice podem levar a aberrações arquitetônicas nos hotéis

Qual o hóspede que não enfrentou experiências desastrosas em hotéis disfuncionais, que parecem fazer de tudo para afugentar seus clientes? Como comida que demora demais a chegar. Ou que vem fria para os quartos, áreas comuns, e até os próprios restaurantes. Ou elevadores com capacidade insuficiente para o movimento, e que levam uma infinidade para vir para os andares.
Pior ainda. Enfrentar barulheira que incomoda o sossego do hóspede, tanto vindo da área externa, como dos corredores e quartos vizinhos. Aguardar tempo excessivo para a água no banheiro aquecer. Testar a paciência nas filas intermináveis da recepção, junto com ambiente tumultuado devido a circulação de tanta gente.
Por que há tantos hotéis disfuncionais, capazes de prejudicar e até inviabilizar a operação? Como alguém faz investimentos tão vultosos, principalmente em hotéis independentes, e depois reclama que a operação só gera prejuízo e clientela aborrecida?

Disputa de espaço – Como foi que esta coluna folgada foi parar no meio da mesa do restaurante?

Resposta curta e longa
Há duas respostas. A mais curta é que hotelaria e improvisação nunca combinam. Falando claro: não basta ter dinheiro e vontade; hotel exige muito planejamento antes de sua implantação.
Já para a resposta longa à questão, pedimos ajuda a dois especialistas da Accor Hotels. Um deles é Abel Castro, vice-presidente de desenvolvimento de novos negócios. Ele resumiu os erros fatais dos hotéis disfuncionais em três categorias.

Roubaram a janela? – Ganha uma diária de hotel quem conseguir entrar nesta varanda.

A primeira é mercadológica. Isto inclui menosprezar a facilidade de acesso, visibilidade do empreendimento, e o tipo de vizinhança. Os três fatores andam sempre juntos. Por exemplo: não faz sentido construir um hotel de luxo em região degradada ou com trânsito pesado, ou longe do trabalho ou áreas de lazer.
Todo mundo sabe que hotel precisa de boa localização. Mas isto só não basta. É preciso também oferecer fácil acesso e proximidade a “geradores de demanda”. São fábricas, shoppings centers, centros culturais, comércio, hospitais e universidades que atraem pessoas ao local.
A segunda falha grave está ligada ao projeto. Como construir uma área de eventos no última andar do prédio, mas sem o devido apoio operacional e cozinha por perto. Faltar um gerador de energia capaz de funcionar 100% do tempo. Não adotar um isolamento acústico com vidro duplo para o lado externo, assim como drywalls com mantas entre os quartos.

A falta que o planejamento faz– Será que neste caso sobrou banheira ou ficou faltando torneira?

Poucas vagas de estacionamento – o correto é pelo menos uma para cada dois quartos. Construir o restaurante e a cozinha em andares diferentes. Sem falar que um mau projeto cobra um alto preço na utilização de alto número de funcionários, o que desequilibra a relação custo-benefício.
O terceiro erro fatal é menosprezar o fator segurança. Os melhores hotéis possuem duas escadas de emergência nas extremidades, assim como sprinklers e detectores de fumaça em todos os lugares. “Hoje estes quesitos deixaram de ser apenas necessários, mas uma exigência de mercado”, explica Abel.
Fluxos operacionais
Paulo Mâncio, Vice-Presidente Técnico de Design e Implantação d Accor, destaca a importância dos fluxos operacionais. Aliás, é nesta hora que a hotelaria profissional se distingue do amadorismo. Uma coisa é projetar um hotel com criatividade; outra é este design funcionar na prática.

Engarrafamento no lobby – a gestão do fluxo evita que hóspedes e funcionários se atropelem.

A única forma é investir em um modelo funcional e planejado por quem tem experiencia no assunto. Como por exemplo prever ainda na construção uma caixa externa fora dos quartos do hotel. Conhecida como “shaft”, ela permite reparos no encanamento, sistemas elétricos e de comunicação sem incomodar o hóspede e o fluxo operacional.
Da mesma forma, um lobby de hotel que recebe ao mesmo tempo hóspedes, funcionários e público para restaurantes e eventos é sinônimo de flertar com o tumulto. Assim como uma cozinha com espaço tão reduzido com certeza vai afetar a passagem de alimentos, louças, pessoas e lixo.
Infelizmente, o que não falta são hotéis que já nascem com graves erros. Monstrengos arquitetônicos, são filhos bastardos e indesejados. Foram criados por adaptações malfeitas de prédios já existentes, criados para outro fim, ou construídos sem qualquer critério técnico inteligente.

Disfuncionalidade explícita – olha só o que criatividade e improvisação conseguem produzir…

Fonte: www.turismosemcensura.com.br

O Boletim

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *