23 de abril de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Como modelar a opinião pública

A modelagem da opinião pública investe na formação do senso comum aplicando a clássica eficaz fórmula da informação seletiva. Porém, em ‘casos especiais’, até a desinformação seletiva é usada visando obter hegemonia sobre pontos de vista divergentes.

É isso que está acontecendo agora.

Usa-se a desinformação seletiva para influenciar o senso comum de que o debate sobre a urna de primeira geração – usada pelo TSE – é uma estratégia eleitoral do presidente no poder. Isso é falso.

Muito antes do atual governo já existiam investidas e manifestações para a substituição das urnas de primeira geração por um sistema atualizado e mais seguro que garantisse maior transparência para o sistema eleitoral brasileiro.



O que aconteceu racionalmente em 40 países, que hoje usam urnas eletrônicas de terceira geração, com recursos do voto impresso, no Brasil, se tornou um debate sentimentalista partidário, pelo fato de o presidente ter abraçado uma causa que vem de longe, não é mérito exclusivo ou uma invencionice, que acabou por ‘politizar’ um tema crucial, prioritariamente técnico.

Muitos críticos contra a suspeita recusa sistemática em questionar/rever o modelo operacional das urnas eletrônicas se mostraram decepcionados com os termos da licitação e a homologação (07/2020) pelo TSE, do contrato com a Positivo Tecnologia, fabricante das urnas brasileiras nos moldes das anteriores.

Eles acham que o posicionamento do Bolsonaro tumultuou uma luta já bastante complicada que envolve muitos interesses e grana a rodo.

É claro que esse ‘detalhe’ – em um país onde a corrupção é sistêmica – se tornou o epicentro de uma lavra de textos supostamente técnicos ‘garantistas’ sobre a inquestionável segurança de uma velha urna e um sistema de apuração opaco e inseguro, cuja a principal qualidade é sua maior contradição: fornece o resultado eleitoral em menos de 24 horas, sem dispositivos e contraprovas que assegurem contestação independente – não oficial – criteriosa.

A urna de primeira geração ‘aditivada’ pelos gênios da informática brasileira, se converteu em pura magia – uma espécie de Arca da Esperança – imune à invasões e fraudes.

Não me surpreenderia se os aficionados pelo sistema eleitoral brasileiro a considerassem um produto de exportação de tecnologia de ponta para países mais atrasados e que demoram muito para apurar votações, como os EUA, por exemplo.

Além disso, é curioso que os aficionados por essa tecnologia ‘ímpar e genial’ exclusivamente brasileira, desprezem um dos fatos mais relevantes no contexto eleitoral que é a soma de uma urna velha com um ‘entulho’ chamado voto proporcional nos pleitos para deputados federais, deputados estaduais/distritais e vereadores. Enquanto que o voto majoritário é adotado nos pleitos para presidentes, governadores, senadores e prefeitos, e seus respectivos vices.

O que torna tudo mais emblemático ainda é que os aficionados pela urna de primeira geração, convergem – sequer pensam – sentimentalmente contra a proposta da reforma eleitoral que rola há um tempão na Câmara dos Deputados.

Foto: Google Imagens – TSE

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Distritão , que precisa ser aprovada duas vezes na Câmara, com 2/5 dos deputados a favor, antes de seguir para o Senado, enterrará o entulho do voto proporcional que, junto e misturado com as urnas de primeira geração, criam um cenário arcaico onde brilham senadores eleitos por oito anos, alguns quase vitalícios e deputados que são ‘magicamente’ ungidos ao poder pelas benesses do voto proporcional em cascata.

Pacheco, que preside o Senado,já disse que o Distritão não passará.

No Brasil, não há motivos para nostalgia do passado. Vive-se nele!

O Boletim

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *