Algo precisa ser feito para mudar o mais rapidamente possível essa absolutamente perigosa e constrangedora situação total que vivemos, e falo dos fatos que podem ser compreendidos e conhecidos por todos. Mas, nós, mulheres, somos mais da metade da população. Somos – e não há quem possa duvidar – mais sensíveis, fortes, preocupadas e firmes. Temos a obrigação de interferir, já!
Que tal aproveitar a rasgação de seda que se aproxima com a chegada de mais um 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, para um posicionamento mais radical contra essa lufada de horror que abala o país diariamente? O Brasil, segundo dados do IBGE, tem 211,8 milhões de habitantes, 48,2% homens e 51,8%, mulheres.
Uma força considerável, que pode – e deve, deveria, irá, tenho fé – ser decisiva e se levantar para se posicionar claramente na defesa do que nos é caro, família, Educação, Saúde, direitos reprodutivos, segurança, infraestrutura, emprego, economia, onde somos a força de trabalho mais abalada durante a pandemia. A pandemia descontrolada, vivida com um governo desorientado e desorganizado que nos leva a um poço muito fundo e obscuro do qual já certamente demoraremos muito a sair, anos, talvez até mais que uma dezena deles.
Enquanto é tempo, precisamos agir, e em nome de nossa própria sobrevivência, sempre ameaçada justamente por causa de governos e políticas que não nos levam em conta, e bem sei que isso não é de hoje, não é só federal, mas não há dúvidas que piora a olhos vistos com a negação, com os preconceitos, com a falta de visão e, agora, também, com a escalada de ataques e perda de direitos tão duramente conquistados nas últimas décadas, da qual sou parte e testemunha. Com a escalada de fatos que nos prejudicam diretamente, ou nos põe em ainda maior perigo, como por exemplo, o incentivado aumento de armas. Somente nos primeiros seis meses de 2020, 1.890 mulheres foram mortas de forma violenta, boa parte já em plena pandemia do novo coronavírus – um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2019; 631 desses casos os crimes foram de ódio motivados pela condição de gênero, ou seja, feminicídios.
Repetindo, o horror total, que as mulheres de todas as idades vivem já há mais de um ano dentro de suas próprias casas, nas emboscadas, nas ameaças. Tudo pior. No país obscuro, cerram-se ainda mais as saídas e aumenta, em escala progressiva, a misoginia.
Nossa representação política nos centros de debates ainda é ínfima. No poder central, praticamente inexistente, fora termos de aturar mulheres que só nos envergonham como Kicis, Zambellis, Damares, para citar apenas algumas que parecem existir e estarem ali para nos aborrecer, como capachos de homens como Jair Bolsonaro, quem, pelo que aparece publicamente, idolatram mais até do que a própria primeira-dama, Michele, a sumida, que pode nos dar razão se puder abrir a boca um dia, e que já viveu mortes por Covid-19 em sua própria família.
Tenho curiosidade em saber como uma jovem como ela consegue conviver diariamente em casa. Se ela pensa na própria filha, aquela menina de semblante triste, marcada para sempre como uma “fraquejada” dada pelo próprio pai.
Meninas! Mulheres! Nossas idosas! Pronunciem-se!
Vocês, todas, por mais até que intimamente tentem negar, sabem bem desse tudo que passamos e ao qual me refiro, uma lista enorme que não caberia em páginas e páginas. Vão sentir mais ainda a forma como somos lembradas com o tanto de propagandas de coisas que essa semana tentarão nos vender, e para que nos presenteiem, como se fôssemos, nós, as mercadorias a serem expostas no mercado.
O país está precisando muito de nós. E de vacinas. E de bom senso. Não está tudo cor-de-rosa.
Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).