19 de abril de 2024
Colunistas Lucia Sweet

Grande mulher

Eu admiro a vida de grandes mulheres. Certas mulheres.
Uma delas é Gabrielle Chanel. Li cinco ou seis livros sobre ela. Tentei ler alguns publicados recentemente, mas são todos compilações distorcidas, escritas por pessoas que não fazem ideia de refinamento, bom gosto, cultura, estilo e riqueza. Muito menos da magnificência inimaginável da vida de Mademoiselle.
Conheci duas pessoas que conviveram com ela: Lucia Moreira Salles, né Lucia Curia, deslumbrante, que foi modelo da Chanel, depois relações públicas da Maison e que morou uma época com Chanel no Ritz — e Tony Mayrink Veiga, que namorou Marie Hélène Arnaud, uma das modelos favoritas da Chanel, que procurava mulheres que se pareciam um pouco com ela para vestirem suas roupas. Ele me contou que gostava muito da Chanel que sempre ficada do lado dele quando ele brigava com Marie Hélène, também uma mulher deslumbrante. Todas as moças que trabalhavam como modelo para Coco eram obrigadas a estudar Civilização Francesa na Sorbonne. Não existe elegância sem cultura e boa educação, ela ensinava.
Estou escrevendo um livro há décadas, que nunca vou publicar. Trata-se de uma biografia em ficção. Escrevo na primeira pessoa, mas não é a minha vida, mas a vida de um personagem imaginário. Falo muito da Chanel no primeiro capítulo. (E esse excerto de texto que segue, é copyright meu.)
Coco Chanel foi a maior celebridade da moda do século XX . Eu a imaginava alegoria esbelta e alada a tocar trombeta, o anjo exterminador do mau gosto. A pobre menina órfã que ainda muito jovem fora protegida por alguns dos homens mais ricos e poderosos do seu tempo, tornara-se a dona de um império que lhe rendia algumas centenas de milhões de dólares por ano. Ela, que superara todos os desafios, tinha vergonha de suas origens humildes e passou a vida tentando ferozmente escondê-las. Vencera tudo, menos seu passado.
Chanel revolucionou o mercado ao encerrar num frasco um aroma chamado “Numero Cinco” numa época em que as mulheres se perfumavam com “Mille et Une Nuits” (Mil e uma noites) “Lucrèce Borgia”, “Coeurs en Folie” (corações loucos) “Nuit de Chine” (noite da China), “Rêve d’Autonne” (sonho de outono), que rescendiam a gardenias, jasmins, almíscares da Indochina e rosas búlgaras.
A imperatriz da Rússia fazia cultivar violetas especialmente para ela em Grasse, no sul da França. Na Inglaterra, as mulheres da família real britânica usavam, desde 1829, um perfume que se chamava “ess-bouquet” e que tinha em sua fórmula âmbar, essência de rosas, musgo, jasmim, violeta e flores de laranjeira. Por sua vez a soberana da Holanda gostava de água de Cologne e a rainha da Rumania preferia o aroma do heliotrópio branco.

Ao misturar pela primeira vez essências de origens animal e vegetal com essências sintéticas, Coco Chanel criou um perfume estável, um perfume indefinível, diferente e delicioso. Cerca de oitenta ingredientes faziam parte da composição do “Número Cinco”.
“Não tem futuro a mulher que não usa perfume” – costumava Chanel dizer.
Lucia Sweet

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

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