28 de março de 2024
Ligia Cruz

O teatro de Maduro

Foto: Arquivo Google – Jornal de Brasília

O que não faz um psicopata para se preservar no poder. Nicolás Maduro, em resposta ao levante popular de ontem e hoje, liderado pelo opositor Juan Guaidó, saiu da toca no fim da tarde de feriado, para fazer um discurso sem pé nem cabeça.
Com cara de canastrão coitadinho, esbanjou das palavras “traição”, “golpe” e “ação imperialista” para justificar os próprios descaminhos. Fez um “mea culpa” nada convincente e clamou ao povo para apontar as suas falhas e sugerir um plano de mudanças “dentro da revolução bolivariana”. Comovente de tão brega.
Só que a numerosa população que o assistia permanecia praticamente em silêncio, sem interação, pouco se manifestava e não interagia. Supõe-se que não passe de uma gravação, com imagens antigas usadas propositalmente para demonstrar aceitação popular.
Outro fato que pode confirmar a encenação é que governo não teve tempo de convocar em peso população para o ato público como foi mostrado na tevê em rede nacional.
Não há liberdade de imprensa na Venezuela, o governo controla toda a informação.O mais provável é que ele ficou aquartelado no palácio de Miraflores, acompanhando a ação da guarda nacional para sufocar os protestos que querem derrubá-lo. A saída de Maduro permitiria a posse do autoproclamado presidente da Venezuela Juán Guaidó.
Isso leva a crer que Maduro não tem certeza de sua supremacia e, segundo, alguns observadores internacionais, estaria avaliando uma fuga para Cuba.
No clima da encenação, o caudilho exagerou no uso das figuras de linguagem e até da imitação de sons para descrever os golpes de uma luta de Mohamed Ali, como se fosse ele o próprio. Patético. Apelou para os chavistas, as mulheres e por fim se confessou “um cristão profundo”. Diz que não quer uma guerra civil, mas mandou veículos militares, para cima de manifestantes. Foram muitos os feridos no atropelamento e no confronto direto com a força nacional. Se não bastassem os milhões de famintos e desempregados.
Mas Guaidó também não foi bem sucedido.Transformar o Dia do Trabalho como data icônica de protestos contra o regime, para forçar a queda de Maduro, não teve o efeito desejado. Faltou planejamento ao jovem político.
Por mais que a miséria seja avassaladora, ainda não há adesão popular suficiente para uma virada. O povo não acredita que Maduro saia tão fácil do poder, o que tem feito milhares de venezuelanos rumarem para as fronteiras com a Colômbia e o Brasil, em busca de empregos e nova vida.
Os militares que teriam desertado na tarde da última terça-feira e pediram asilo ao Brasil, ainda não chegaram à embaixada. O fato é que, enquanto o ditador tiver as forças armadas do seu lado, tão cedo não cairá. Tudo depende deles e da resistência popular.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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