Muitos não sabem que a história política brasileira é recheada de golpes, fraudes, traições e falcatruas.
E vale recorrer aos livros para compreender um pouco melhor as sucessões presidenciais, a influência das oligarquias e os personagens do poder, em apenas 131 anos de história republicana.
O primeiro episódio relevante se deu após a deprimente partida da família imperial para Portugal, na ocasião da proclamação da Republica.
O Brasil não teve uma estrutura alicerçada em valores democráticos durante os primeiros séculos. Muito embora D.Pedro II seja ainda hoje reconhecido como um grande empreendedor e apaixonado pelo Brasil. Mas havia naqueles idos um grande ranço e descontentamento da elite do país com a monarquia e seu método de cobrança de impostos.
Com esse clima a república surgiu e o alagoano Marechal Manuel Deodoro da Fonseca tornou-se naturalmente o nome mais cotado para as primeiras eleições para presidente, ocorridas em 25 de fevereiro de 1891.
Foi uma eleição indireta concorrida entre Deodoro e Prudente José de Morais e Barros, representante do Partido Republicano Paulista.
Essa disputa se sucedeu após um período de governo provisório e foi a primeira experiência de poucos brasileiros na decisão de um pleito. Totalmente engessada desde o nascedouro, tal como se fez tantas vezes durante essa breve história da República.
As intenções de Deodoro e seu grupo de militares, principalmente do seu vice, o também marechal Floriano Peixoto, eram outras. Ambos não tinham interesse de implantar um regime democrático. Não tão cedo.
Prudente de Morais, paulista de Itu, tinha a preferência dos eleitores e boa reputação como presidente do estado de São Paulo (cargo similar ao de governador), à época.
Porém, suas qualificações não interessavam em nada porque os militares não tinham a intenção de entregar o poder tão facilmente a um civil, muito menos paulista.
Prudente tinha a maioria no Congresso e teria sido eleito se os valores democráticos fossem levados em conta. Mas não ganhou porque os congressistas foram ameaçados pelos militares e tudo se arranjou para a vitória dos marechais. Aí se pode ver que as táticas são sempre as mesmas até os dias de hoje, mesmo com artifícios diferentes. Quem pode mais chora menos e assim segue a trama.
Deodoro foi eleito com mais de 55% dos votos e seu vice, Floriano com mais de 65%, também. Não havia chapa única. Paralelamente ao posto de presidente havia a eleição para os vices, prática que prevaleceu durante a República Velha. Ambos foram empossados.
Só que o alagoano Floriano Peixoto, que atuou como tenente-coronel na Guerra do Paraguai, tinha outras intenções. O “Marechal mão de ferro”, como ficou conhecido, foi o ministro da guerra, durante o governo provisório, que antecedeu as primeiras eleições.
Ele não se afinava com o presidente eleito e sua reputação de implacável e durão se firmou no período em que esteve na linha de frente da crise econômica e política instalada, após a partida da família real. Floriano também se empenhou na renúncia de seu conterrâneo, Deodoro, oito meses após as primeiras eleições.
O período de 1889 a 1894, em que os marechais governaram, ficou conhecido como a República da Espada. E Floriano, um grande exemplar partidário da força, no mais amplo sentido.
Durante seu governo, o descontentamento não deu trégua. Mesmo ele tendo sido talvez o primeiro presidente populista do Brasil, adepto às prática de “fazer a fama”, promovendo medidas populares de habitação e outras mais, não segurou a insatisfação de opositores em outros estados.
Tanto que estouraram duas insurgências, como a Revolução Federalista dos estados do Sul, que ocorreu entre 1894/95 contra a primeira república brasileira. Revolta armada pela descentralização do poder, que ficou conhecida como a guerra entre os maragotos e os pica-paus. Mais de 10 mil mortos foram contabilizados. A sanha ensandecida de Floriano pelo poder durou só mais um ano para ele. Floriano morreu em 1895.
Nesse primeiro período de tentativa de implantar a democracia, período que ficou conhecido como República Velha, o voto não era secreto. Por essa razão era fácil reconhecer quem estava a favor e contra. Votavam somente homens maiores de 21 anos e cultos. Mulheres, mendigos, analfabetos e militares eram privados desse direito.
O ponto em comum é que os coronéis dos currais partidários daquele tempo são os mesmos de hoje, com diferentes nomes. O que muda, talvez, seja a tecnologia e a capacidade de converter fiéis por outros meios.
Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.