A criança que eu fui não entendia o Sábado de Aleluia.
Nem a Sexta Feira Santa, também.
A criança que eu fui entendia pouco de mistérios tão sagrados como a Ressurreição, como quase criança nenhuma entende.
Minhas lembranças da Sexta Feira da Paixão se resumem ao filme sobre a vida de Cristo que sempre passava na TV (aquele onde o rosto do ator que representava Jesus nunca aparecia, não sei se para indicar humildade ou respeito; lembro também que eu sempre sentia medo no momento da tempestade antes da Ressurreição).
Ao fato de que todo mundo parecia um pouco triste ou reservado e à expectativa do chocolate no domingo.
(Hoje parece que ninguém mais faz questão de mostrar um comportamento mais reservado na Sexta Feira – uma tristeza respeitosa então?! Nem pensar!)
A criança que eu fui aos poucos começou a observar também um fenômeno curioso – quase sempre chovia na Sexta-feira Santa e quase sempre fazia um lindo dia de sol no Sábado de Aleluia.
Coincidências, não?
A criança que eu fui não entendia nada de mistérios sagrados da Paixão.
Mas ela percebia que todas as Sextas-feiras Santas eram tristes e cinzentas e muitas vezes chuvosas.
E que todos os Sábados de Aleluia eram alegres e radiosos e plenos de sol.
E isso era tudo que a criança que eu fui precisava saber sobre a Sexta-feira Santa, o Sábado de Aleluia e seus mistérios
E sobre o Amor maior, sobre vida, sacrifício e renovação.
Pensando bem, é tudo que um adulto precisa saber também.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.