O ministro Sérgio Moro fez uma conta no Twitter. Vocês devem estar pensando:
“Old news, Joseph… TODO MUNDO já falou disso, enquanto você estava aí ocupado com irrelevâncias como seus microcontos, suas histórias de terror e seus… seus… poemas!”
(Eu visualizo esse leitor imaginário pronunciando “poemas” como se dissesse “baratas” ou algo assim.)
Pois bem.
Fui lá dar uma boa olhada no Twitter do Moro – e o que vi, se não me causou de forma alguma surpresa, ajudou a eliminar mais um pouquinho da já minúscula fé que tenho no nosso povo.
Eu vi o ministro Sérgio Moro, homem sério, digno e honrado, que abandonou uma carreira promissora em troca do imenso desgaste que representa ser ministro desse arremedo de nação, ser:
– tratado como se fosse um coleguinha de escola por adolescentes que ainda não pariram sua última espinha;
– cobrado com palavras que não se usariam numa discussão futebolística no pé-sujo da esquina;
– ser xingado com expressões que fariam corar um marinheiro frequentador do baixo meretrício de uma cidade medieval.
Eu li tudo isso e, à medida que lia, sentia uma imensa vergonha, um profundo desalento e uma ponta de tristeza.
Senti vergonha por saber-me compatriota dessa gente completamente desprovida do mais elementar senso de respeito.
Não apenas ao ministro: o desrespeito à qualquer coisa nesse país é tão arraigado que deveria ser o lema da nossa bandeira, em vez do fantasioso Ordem e Progresso.
Desrespeitam-se os pais, os mais velhos, os velhos, os professores, os juízes de futebol, as leis, a educação. Acredito que o desrespeito faça parte do DNA do brasileiro.
Senti desalento por perceber que não basta afastar do poder os grandes responsáveis pela derrocada moral do povo brasileiro:
não basta porque eles continuam por aí, arrastando correntes, como vimos no depoimento do ministro Paulo Guedes aos botocudos travestidos de representantes da população.
Aquela gente feroz e carniceira que interpelava e afrontava outro homem digno e que absolutamente não precisava estar ali tinha sido eleita pelo povo.
Ou seja:
O povo brasileiro, tal como um Prometeu contemporâneo, continua elegendo e reelegendo esses abutres que bicam eternamente o seu próprio fígado.
E, quando não são os mesmos, são novas caras que defendem os mesmos pensamentos encardidos, num círculo vicioso de reinvenção.
E, por fim, senti tristeza.
Tristeza por acreditar que a tarefa de resgatar esse país dos tentáculos dessa criatura malfazeja que se cevou do sangue brasileiro ao longo de ao menos uma década não pode mais ser executada através de, sei lá, eleições.
Para salvar a alma do Brasil, talvez só um exorcismo.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.