3 de dezembro de 2024
Colunistas Ilmar Penna Marinho

O dilúvio da corrupção no Estado do Rio de Janeiro

A máxima “Aprés moi, le déluge” (Depois de mim, virá o dilúvio)”, atribuída a Luís XV, rei de França, persegue o eleitor do Estado do Rio de Janeiro, depois que o honrado 1º governador da Fusão, Faria Lima, deixou o governo, em 1979.

Deixou saudades e obras importantes, como a Linha 1 do metro com suas 5 estações.

A partir de 1998, o dilúvio da corrupção encharcou o Palácio Guanabara, sede do governo. Devastou reputações: 5 governadores eleitos foram presos e um pode estar a caminho…

Otelo de Shakespeare dizia que a reputação “é um “apêndice ocioso e enganador”.

O ex-governador Sergio Cabral levou ao pé da letra o dito e responde a 31 processos penais. Já foi condenado a 293 anos de prisão em 14 deles. Confessou na 7ª Vara Criminal Federal ter recebido propina e comparou nostalgicamente o dinheiro e o poder a um “vício”.

O atual Governador, o ex-juiz Wilson Witzel, já foi afastado do cargo, por 180 dias, pelo Superior Tribunal de Justiça, por suspeitas de irregularidades na rede de saúde.
Na eleição a Governador enganou a todos com seu discurso moralista e bolsonarista.

Na pandemia, pessoas morrem nos hospitais lotados, enquanto o Ministério Público Federal (MPF) investiga o desvio de recursos públicos para o escritório de advocacia da 1ª dama Witzel. Teria recebido R$ 554,2 mil de membros de uma organização criminosa da saúde.

A Assembleia Legislativa do RJ (ALERJ) já abriu o processo de impeachment de Witzel.

A comissão especial elabora um relatório, a ser votado no próximo dia 17 e depois será submetido ao plenário.

A população do Estado do RJ não tem do que se orgulhar da indecorosa ALERJ.

O petista André Ceciliano chegou à atual presidência da Câmara Estadual, em fevereiro de 2018, após a prisão por corrupção do seu ex-presidente, Jorge Picciani.

A mesa diretora da ALERJ decidiu dar posse a 5 deputados presos, em 2018, por suspeita de corrupção na Operação Furna da Onça. Libertos, assumiram os seus mandatos.

Atualmente, 28 parlamentares são investigados por peculato e lavagem de dinheiro no tradicional esquema da “rachadinha”, em que assessores devolvem parte do salário ao político que o nomeou. Entre os suspeitos, está o presidente da ALERJ, cujos sigilos fiscal e bancário já foram quebrados pela Justiça. O Ministério Público detectou movimentações atípicas de R$ 49 milhões nas contas de 4 pessoas vinculadas a seu gabinete.

De quem é a culpa do esquema de corrupção que assaltou o RJ?

A resposta insultuosa e maldosa é dizer que a culpa é do eleitor, que escolhe mal.

As eleições no Estado do Rio de Janeiro, pós 1987, são um jogo de cartas marcadas.

O processo eleitoral é dominado por oligarquias partidárias que monitoram as eleições viciadas e se acostumaram a vencê-las antes da abertura das urnas.

Candidatos de ficha suja são aceitos e se dificulta ao máximo nas convenções que pessoas dignas com um passado limpo e aptas a um cargo eletivo se candidatem.

Os mais populares candidatos dos currais eleitorais são previamente escolhidos e são prestigiados por uma maciça propaganda eleitoral nessa farsa democrática, que a Ministra Rose Weber do Superior Tribunal Eleitoral (STE) jura que “assegura a higidez do processo eleitoral”, ou seja, a sua perene “saúde”.

Resta ao eleitor do RJ votar no menos ruim e dizer Amém.

Que Deus proteja a população do Estado do Rio de Janeiro contra o dilúvio da corrupção.

Ilmar Penna Marinho Jr

Advogado da Petrobras, jornalista, Master of Compatível Law pela Georgetown University, Washington.

Advogado da Petrobras, jornalista, Master of Compatível Law pela Georgetown University, Washington.

1 Comentário

  • Alexandre Monteiro da Silva 16 de setembro de 2020

    Sensacional texto amigo. Estamos de acompanhante nesta canoa furada de políticos do Rio.

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