O certinho da família
Esse aí na telinha é o Honda City EXL 2019, versão topo de linha do sedã compacto da Honda, que este ano passou por uma pequena atualização visual, ganhando novas luzes de led, para-choque e frisos cromados sobre os faróis. Como de hábito em nossos test-drives, passei uma semana convivendo com ele e, talvez influenciado por seu nome, nossos percursos foram todos urbanos, boa parte deles em horários de trânsito intenso. Após essas longas sessões de anda-e-para, buzinas e alguns desaforos, seria até normal que eu saísse estressado de trás do volante. Mas isso jamais aconteceu. Entre as qualidades do sedãzinho, portanto, a primeira que me ocorre mencionar, logo aqui nestas primeiras linhas, é o seu contagiante espírito zen, tranquilo, imperturbável.
Bom, talvez ele seja até um pouco calmo demais – levando-se em conta o visual arrojadinho de sua carroceria, seu ar de Honda Civic-júnior, agora mais realçado pela frente remodelada que o deixou ainda mais parecido com o irmão maior. No fundo, porém, a serenidade (não confundir com preguiça) está mesmo em consonância perfeita com seu nome e sua vocação, hum, citadinos.
No início era o hatch
No Japão, o City nasceu em 1981 como um pequeno hatch e já está em sua sexta geração. Mas aqui ele foi só lançado em 2009 e esta é a sua segunda geração brasileira. Em seu posicionamento de mercado, ele tem como proposta ser “a alternativa sofisticada de seu segmento”. E não são poucas as opções de sedãs compactos disponíveis em nosso mercado hoje. Para encher tantas linhas, fiquemos apenas com as versões também top dos lançamentos mais recentes, com preços próximos ao dele: VW Virtus Highline 1.0 TSi (a partir de R$ 80 mil), Fiat Cronos Precision 1.8 automático (a partir de R$ 70 mil) e Toyota Yaris Sedan XLS CVT (a partir de R$ 80 mil). Também vale a pena mencionar o Ford Fiesta Sedan Titanium automático (a partir de R$ 76 mil) e o Hyundai HB20S automático (a partir de R$ 71 mil).
Está sentindo falta do algarismo nove nesses preços? É. Confesso, arredondei mesmo, somando algumas dezenas ou centenas de reais a cada um deles por achar esse negócio de valores quebrados, tipo um e noventa e nove ou novecentos e noventa, meio irritante (e, cá entre nós, irrelevantes). Ah, sim, o City EXL CVT custa a partir de aproximados R$ 84.600, e sua versão CVT mais barata, a LX, dai por R$ 74.200.
O páreo é duro
Se ficarmos na comparação fria e meramente técnica, o Honda – com seus 115cv de potência e 15, 2 kgfm de torque arranca, literalmente, em desvantagem no desempenho. O Virtus TSi tem 128 cv e 20,4 kgfm, os fundamentais quilos de torque, e o Cronos 1.8 tem 139 cv e 19,3 kgfm. Ambos possuem motores mais possantes que o seu e o do Yaris, que tem números bem próximos. O estranho é que, no México e nos EUA, o City 1.5 idêntico ao vendido aqui sai de fábrica com 130cv… Será que isso tem a ver com o sistema flex (para etanol e gasolina) usado no Brasil?
No restante, a competição se dá em uma infinidade de detalhes, alguns mais importantes, outros nem tanto, daqueles que são decididos em looongas reuniões entre a os departamentos de engenharia, marketing e financeiro das montadoras. Por exemplo, o City vem com seis air-bags – frontais, laterais e de cortina –, que estão em menor número nos concorrentes. Em compensação, não conta com os controles de tração e de estabilidade, disponíveis no Toyota e VW (e até em seu irmão hatch dele, o Honda Fit). Ou sistema de partida sem chave (keyless) que os outros três oferecem como opcional e nem o banal espelho retrovisor interno com aquele sistema antiofuscante automático – é preciso acionar aquela alavanquinha com o dedão para diminuir o incômodo nos olhos à noite. Como os demais, ele oferece uma ótima central de multimídia, compatível com smartfones Apple e Android. Com oito alto-falantes distribuídos pelas portas (quatro deles, twitters, para os sons mais agudos), a parte sonora também merece elogios, assim como o ótimo ar-condicionado com comandos digitais.
Espaço para quatro
Mas vamos deixar os rivais de lado. Em termos de espaço interno, o City leva bem quatro adultos, com bom espaço para as pernas de quem viaja no banco de trás. A suspensão é macia, mas bem calibrada e garante boa estabilidade. E, a despeito de sua vocação urbana, esbanja lugar para bagagens, com seus 536 litros no porta-malas. Este tem a “boca” um pouco estreita, o que pode dificultar a entrada daquelas malas tipo “jumbo”, mas é forrado com capricho e tem um formato que permite boa arrumação. E se a tranqueira for daquelas de dia de mudança, dá para dobrar os bancos de trás – e nisso a Honda é expert – e transformar o carro em um quase furgãozinho.
Dirigi quase o tempo todo sozinho, mas, em uma ocasião, subi as íngremes e irregulares ladeiras de Santa Teresa acompanhado por mais três adultos sem que motor, câmbio ou suspensão esboçassem nenhuma contrariedade. Nos giros um pouco mais altos, até dá para ouvir melhor o som do motor e as passagens entre os “degraus” que simulam as sete marchas do CVT. Na hora de descer serras ou ladeiras, ou mesmo nos momentos em que se deseja reduzir a velocidade, as borboletas atrás do volante se mostram bastante úteis e ajudam a poupar os freios – além de servirem para trazer um pouquinho de diversão para quem dirige.
Sem me preocupar nem um pouco com economia de combustível, com muito trânsito, ladeiras e sempre com gasolina, o computador de bordo me informou que fizemos uma média de 11 km por litro, o que acho compatível com seu peso e desempenho.
Em família
O City é o sedã da pequena família de compactos premium da Honda, tendo como irmãos o primogênito monovolume ou hatch (você escolhe) Fit e o caçula de visual aventureiro WRV. Os três partilham a plataforma, o conjunto mecânico e, de certa forma, o temperamento. São todos carros extremamente práticos, funcionais e, em essência, racionais. E, dos três, talvez seja o sedã o mais racional, incluindo aí o visual e o porta-malas – item no qual ele é disparado o maioral no clã. Na foto acima, por coincidência, o nosso City estacionado entre um WRV (direita) e um Fit da geração anterior (esquerda).
Voltando à briga com a concorrência, toda essa racionalidade talvez faça com que o sereno City perca pontos entre os motoristas mais temperamentais, aqueles que gostam – nada contra – de ter a disposição respostas mais enérgicas do acelerador para usar de vez em quando e que não abrem mão dos tais itens de conforto que não estão disponíveis em seu cardápio de opcionais. Por outro lado, também ganha pontos pela consagrada confiabilidade mecânica da marca – que se reflete em seu excelente valor de revenda. E também no capricho de sua construção e acabamento e no altíssimo grau de previsibilidade de seu comportamento nas mais diversas situações, em curvas, freadas e outras manobras. Sem rompantes nem surpresas.
Ficha técnica do Honda City CVT EXL 2019 (dados da montadora)
Motor: Diant., transversal, 4 cil. em linha, 1.497 cm³ (1.5), 16V, flex
Potência: 116 cv (Etanol) e 115 cv (Gasolina) a 6.000 rpm
Torque: 15,3 kgfm (E) e 15,2 kgfm (G) a 4.800 rpm
Câmbio: Automático CVT com simulação de sete marchas, tração dianteira
Desempenho: aceleração de 0 a 100 km/h em 11,3 segundos, vel. Máxima de 175 km/h
Direção: Elétrica
Suspensão: Indep. McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.)
Freios: Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.)
Medidas (metros): comp. 4,45, larg. 1,69, alt. 1,48, entre eixos: 2,60
Tanque de combustível: 46 litros
Porta-malas: 485 litros + 51 litros (sob o assoalho, junto ao estepe)
Peso: 1.135 kg
Preço sugerido: R$ 84.600 (modelo idêntico ao testado)
Fonte: Blog Rebimboca
Veículos
Test-drive com o Honda City EXL CVT 2019, um sedã sereno
- Por Henrique Koifman
- 6 de setembro de 2018
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