26 de abril de 2024
Veículos

Nissan Versa Sense manual em test-drive variado

Passei uma semana – e mais de 450 km – com o carrinho branco que você vê nessas fotos: um Versa Sense manual, opção mais em conta do sedã compacto que a Nissan produz no México e traz aqui para o Brasil, por a partir de R$94.803. Se vale a pena? Vamos avaliar isso juntos neste post.

Confesso que a versão anterior do Versa (perdão pela aliteração, “versão do Versa” é quase má poesia) não é dos carros que mais despertam a minha atenção. O vejo como mais um sedãzinho compacto que se dilui no mar de sedãzinhos compactos, onipresentes nas ruas e, em 98,4% das vezes, matriculados em aplicativos. Uma espécie mecânica a qual pertence concorrentes de diversas marcas e que, geralmente, derivam de modelos de dois volumes, que costumam ser um pouco mais estilosos. No caso do antigo Nissan, produzido em Resende, no Estado do Rio, não era bem assim e, com um entre-eixos maior, ele até oferecia mais espaço que seu mano hatch igualmente extinto, o March, tendo também um desenho de carroceria muito diferente.

Na prática, essa versão mais barata do novo Versa é a que efetivamente substitui a antiga – as duas, aliás, até chegaram a conviver, por um tempinho, durante 2020 e 2021. Vale informar que, além do câmbio manual, por cerca de R$ 7 mil a mais o Sense pode vir com o automático CVT, há ainda duas versões mais caras e bem equipadas do modelo – Advanced (R$ 110 mil) e Exclusive (R$ 122,4 mil), ambas também automáticas.

Estilo e simplicidade

A superioridade dessa nova geração em relação à antecessora começa pelo visual externo, bem mais harmônico e classudo, que faz do carro uma espécie de mini Sentra – o sedã médio da marca. No Sense claro, vários detalhes entregam de cara sua posição inferior na tabela: as rodas de 15 polegadas são de aço, cobertas com calotas plásticas e os pneus têm perfil alto; não há iluminação DLR (diurna), os faróis têm refletores em forma de parábola e lâmpadas halógenas e só. E a simplicidade se repete na traseira, onde apenas uma saia inferior em forma de difusor e pintada de preto traz algum arrojo ao estilo.

E, por dentro, a simplicidade continua nos painéis e forrações de plástico bem rígido, muito bem montadas, mas que só recebem alguma forração de verdade nas alças das portas dianteiras. O “de verdade” entra aí porque, no painel dianteiro, sob o fundo escuro, há uma grande área pintada de branco e com uma textura que remeta ao couro, delimitada por uma “costura” na mesma cor. Algo que descrito assim pode parecer estranho – ou brega –, mas que na prática, chega a ser um pouco surpreendente, a ponto de enganar alguns desavisados – como este seu colega aqui.

Mas se o couro do painel é cenográfico, alguns outros bons recursos são bem verdadeiros e formam um pacote interessante. Há chave presencial com partida por botão, porta-objetos em todas as quatro portas, portas USB (duas) para recarga de aparelhos no banco de trás (há outra na frente), volante com regulagem de altura e profundidade e comandos para telefone e mídia no volante.

Mídia essa que se limita a uma daquelas centrais mais simples, sem tela, que traz rádio, a possibilidade de conexão via bluetooth com o celular (somente para áudio) e entrada para aquele pendrive com as músicas que você escolheu no computador de casa. Mas até que o som dos alto-falantes é bom.

Há também os obrigatórios ar condicionado, direção com assistência elétrica (com bom acerto) e regulagem de altura no banco do motorista. Sobre o banco, aliás, vale um elogio: forrado com tecido simples, mas agradável ao toque, ele tem um desenho e, principalmente, uma densidade de espuma bem acima da média. Nada que você vá perceber em trajetos curtos, mas que rende, ou melhor, impede cansaço e dores nos mais longos. Cheguei a dirigir por pouco mais de quatro horas seguidas e – coisa rara, mesmo em modelos mais caros – saí “zerado” do carro na chegada.

Por onde (e como) andei

Aqui vale explicar que, durante a tal semana que passei com o Versa, alternei o trânsito urbano com rodovias de diferentes tipos, subi a serra de Friburgo e ainda rodei por um trecho de estrada de terra, nem sempre muito lisa; tanto com o carro vazio como com passageiros e bagagens.

Na cidade, o sedã é bem prático, fácil de estacionar – embora não tenha câmera de ré (não tem tela de multimídia, lembra?), mas apenas sensores sonoros – e de manobrar. E, na estrada, roda com desenvoltura, embora não esbanje lá tanta disposição. Seu motor é o mesmo 1.6 de 16 válvulas, flex, que a Nissan usa no SUV Kicks e que, em números de fábrica, permite ao carro acelerar de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos e atingir a velocidade máxima de 185 km/h.

Se não é dos mais modernos ou recentes, o propulsor tem merecida fama de grande resistência e confiabilidade. Simples, não conta com injeção direta de combustível e produz 114 cv de potência no álcool (em 5,6 mil RPM) e 15,5 kgfm de torque (a 4 mil RPM), tanto no álcool como na gasolina. Ou seja, para obter as melhores respostas e contar com tudo o que o motor pode oferecer, é preciso mantê-lo “cheio”, girando de 3,5 mil RPM para cima. Algo que era o normal na maioria dos carros, até a chegada da nova geração de motores pequenos turbinados.

Para fazer isso, claro, não dá para ter preguiça em trocar de marchas. Mas aí entra um ponto a favor do Versa: seu câmbio manual de cinco velocidades é ótimo, com engates fáceis e muito precisos, curso mais para curto e bom escalonamento. Ele é provavelmente o ingrediente que mais contribui para que o carro seja tão gostoso de dirigir – sim, ele é. Reduções para manobras como ultrapassagens, curvas ou aclives são tranquilas e a resposta do acelerador, embora tenha um ligeiro “gap” (demora), vem sempre dentro do que se espera. Bastam poucos quilômetros para você entender e aprender a usar esses “sistema” da melhor maneira.

Ficaria melhor, no entanto, se essas cinco marchas ganhassem uma irmãzinha, a sexta. Especialmente em rodovias, com velocidades máximas permitidas mais altas, ela faria com que o Versa consumisse menos combustível (minha média cidade-estrada ficou em perto de 13 km/litro) e, também, ficasse mais silencioso. A despeito do bom isolamento acústico, a uns 110 km/h em quinta marcha, o motor gira em umas 3 mil RPM, o que traz um ruído perfeitamente evitável para dentro da cabine. Numa viagem mais longa, isso às vezes cansa.

A suspensão, por outro lado, não cansa. É – palavra que se repete ao falar desse carro, me desculpem, mas é a mais precisa, mesmo – simples: do tipo McPherson nas rodas da frente e com barras de torção e molas na traseira. Mas tem bom ajuste, que garante estabilidade em curvas e boa absorção de impactos – mesmo na estradinha de terra. Parte do mérito está em trabalhar junto com os tais pneus de perfil alto (195/65 R15), que se não contribuem para uma performance mais esportiva (?), dão um senhor reforço ao conforto geral.

No capítulo “anjos da guarda”, o pacote de série contempla controle de tração e de estabilidade, assistente para partida em ladeira e seis air-bags.

Espaço e conforto

No porta-malas, cabem 482 litros de bagagens – uma característica comum nesses sedãs compactos é esse bom espaço, claro. O acesso é bom e há iluminação, com forração bem simples, mas não há nenhum gancho para você prender esticadores ou outro tipo de recurso para “travar” objetos menores. E, sob o assoalho, o pneu sobressalente é do tipo provisório, mais fino que os das rodas. O estranho é que o nicho em que ele fica guardado é bem maior do que suas medidas e sobre bastante espaço ali – tanto que, para que a tampa não ceda ou faça barulho, há grandes pedaços de borracha entre ambos, ocupando um lugar que poderia, com outro desenho do fundo, receber mais alguns litros de bagagens.O entre-eixos de 2,62 m do Versa é suficiente para que o espaço para os passageiros no banco de trás, ainda que um sujeito comprido como eu esteja dirigindo, seja bom. E o banco é bem confortável, também. Ponto a favor dos motoristas de aplicativos, que ganharão mais estrelinhas em suas avaliações – pelo menos os passageiros que eu levei gostaram.

Finalmente…

E aí chegamos àquela parte em que tentamos responder à pergunta do primeiro parágrafo do texto. O Versa Sense é, hoje, único sedã compacto à venda no Brasil que (ainda) traz um motor 1.6 aspirado sob o capô. Se isso o coloca em ligeira desvantagem em termos de performance – e, talvez, economia –, por outro lado, reduz seus custos de manutenção. No mais, ele traz um bom pacote de itens básicos – que pode ser melhorado com a instalação, por exemplo, de uma boa central de multimídia (segundo me disseram, a usada no Kicks nacional se encaixa perfeitamente nele) –, oferece bom espaço e conforto, anda direitinho e é até bem gostoso de dirigir. É um carro simples, mas honesto e confiável, que cumpre direitinho o que se espera dela. E que, se não é exatamente barato (nenhum carro novo no Brasil, hoje, é), tem um custo bem competitivo.

Se você procura um sedã compacto, sugiro que inclua um test-drive com ele em sua lista.

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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