Saiu a vacina russa, anunciada por Putin com grande pompa. É um pouco como se o Sputnik estivesse fazendo seu primeiro voo à lua.
Só que essa corrida é muito mais séria. Vejo esse anúncio russo com cautela e baseio-me na entrevista de Ken Frazier, dirigente da Merck, a maior produtora de vacinas do mundo.
Na sua entrevista à revista da Harvard Business School, ele lembrou que a vacina mais rápida colocada em circulação, a da caxumba, levou quatro anos. Também da Merck, a vacina contra ebola tomou cinco anos e meio e só agora está para ser aprovada na Europa.
A lista é longa:a vacina contra tuberculose levou 13 anos, rotavírus 14 anos e catapora 28 anos.
Frazier diz que no caso do corona nem entendemos ainda o vírus em si, muito menos como atua no sistema imunológico.
Pelo que li, os russos injetam com a vacina um vírus neutralizado, não replicante, e esperam que o organismo produza os anticorpos contra ele.
Como os russos, há ainda 159 programas de pesquisa de vacina. O temor é que ansiedade por encontrar logo uma saída, voltar à vida normal, possa produzir desastres.
As dificuldades não estão apenas na descoberta da vacina mas também na sua distribuição. Como chegar aos mais pobres? Como produzir frascos para conter bilhões de doses.
Segundo Frazier um material especial para a produção dos frascos, chamado borosilicate tubing está esgotado nos fornecedores.
Muito possivelmente haverá dez vacinas por frasco para superar o problema da escassez. Será preciso de látex para fazer as rolhas e depósitos refrigerados.
Tudo isso implica numa gigantesca logística.
Os políticos querem pressa, apresentar soluções dentro do prazo de seus mandatos. Mas nem sempre a pressa é a melhor saída para esse tipo de problema.
Finalmente, algo importante para os idosos, é o fato de que vacinas com vírus desativados talvez não funcionam bem neles.
O caminho ainda é longo. Vamos ter que confiar em testes, aumentar a precaução e soube até para viajar agora estão fazendo umas roupas especiais. Imagino que sejam esses macacões que cubram o que vestimos por baixo.
Por enquanto, vamos ver o jogo dos países querendo chegar na frente, nessa olimpíada que meu querido embaixador Marcos Azambuja chamou de olimpíada do bem. Desde que se respeitem as regras de segurança, é claro.
Fonte: Blog do Gabeira