3 de dezembro de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDXLV

Hoje teve Carlos Wizard na CPI da Pandemia. É um grande empresário, afinado com a política de Bolsonaro. Fez campanha pela cloroquina, lançou dúvidas sobre o número de mortos e andou articulando com uma empresa de Maringá que queria vender uma vacina chinesa a U$17 a dose.

Ficou em silêncio. Limitou-se a falar de seu trabalho voluntário em Roraima, acolhendo refugiados venezuelanos. Mostrou um livro em que aparece na capa e isto derrubou um pouco sua tese. Deve ter gasto muito dinheiro para fazer a publicidade de sua ação humanitária.

A escolha de ficar calado na CPI, graças a uma decisão do STF, é muito áspera. Um grupo de senadores experientes, sabe denunciar, provocar e tornar o silêncio algo muito parecido com o reconhecimento de culpa.

Um super pedido de impeachment de Bolsonaro foi entregue hoje a Artur Lira, na Câmara. Envolve partidos de oposição e também alguns parlamentares que apoiaram Bolsonaro. Está se formando, de fato, uma ampla frente contra Bolsonaro, no momento em que sua fragilidade é maior.

Bolsonaro limitou-se a dizer que a CPI da Pandemia é controlada por sete bandidos. Mas não se explicou ainda sobre o encontro com os irmãos Miranda. Ele tem medo de desmentir e ser contestado por uma gravação.

Surgiu uma nova denúncia: o representante de uma empresa americana, Davati Medical Supply, queria vender vacinas da Astrazeneca por U$3,50. Um representante do governo disse que era preciso aumentar o preço pois o grupo do Ministério da Saúde queria um dólar por vacina.

O negócio não foi feito. O funcionário do Ministério da Saúde foi demitido hoje, após a denúncia. A operação seria medida por um membro da Abin paralela, Roberto Criscuoli.

Bolsonaro diz que não sabe desses rolos certamente porque a ABIN oficial está monitorando seus adversários enquanto a ABIN paralela está arquitetando as maracutaias.

Não creio que um roteirista seria capaz de imaginar uma teia tão complexa e pitoresca como essa.

A entrada da ex-mulher de Pazuello em cena foi coisa de novela, algo muito previsível.

O fato de Bolsonaro ter criado uma ABIN paralela e os militares estarem se dedicando a ganhar dinheiro fácil, isso é inédito.

Foi um dia frio e cinzento por aqui. Ainda tenho a noite de trabalho pela frente e me reservo ao direito do silêncio até amanhã.

Estou participando de uma campanha para convencer as pessoas a tomarem a segunda dose da vacina. Postei minha contribuição no Instagram.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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