A passagem de um diretor da Pfizer pela CPI confirmou não só a carta de oferecimento de vacinas mas também uma série de propostas quantitativas que o governo brasileiro negligenciou.
Pelas propostas, o Brasil já poderia ter começado a vacinar em dezembro de 2020. Os Estados Unidos compraram a vacina, aprovaram o uso em 11 de dezembro, e a vacinação começou três dias depois.
O argumento do governo é que não comprou a vacina porque ainda não estava aprovada pela Anvisa. As vacinas Astrazeneca e Coronavac já haviam sido compradas quando a Anvisa aprovou seu uso emergencial.
Portanto, este é um argumento furado.
O governo afirma também que não comprou as vacinas porque havia cláusulas leoninas: a Pfizer queria garantias sobre o pagamento, definia o foro de arbitragem de conflitos em Nova York e, finalmente, não se responsabilizava pelos efeitos colaterais.
O governo poderia criar a base legal para fechar o negócio através de medida provisória. No entanto, ela só foi criada em fevereiro, através da ação do Senado que entrou em campo para romper com o impasse na negociação.
No que diz respeito à vacina da Pfizer, uma das duas mais eficazes no mundo, o Brasil perdeu muito tempo. A incompetência desempenhou um papel mais importante, entretanto, era a própria má vontade do presidente Bolsonaro que não queria fechar o negócio, daí sua célebre frase sobre o perigo de virar jacaré,crescer barba em mulher ou homem falar fino.
Países como Israel perceberam a oportunidade e jogaram pesado nela. Outros como Chile, México e Costa Rica também compraram doses da Pfizer.
Articuladas com as frases de Bolsonaro ao longo do tempo, ficará bastante claro que o Brasil deixou de comprar as vacinas no tempo certo, o que significa tempo de salvar vidas a partir do primeiro momento em que se tinha a vacina na mão.
Enquanto isso acontece no Senado, a Câmara aprovou um projeto devastador para o meio ambiente. Praticamente caíram as exigências ambientais para os empreendimentos econômicos. Hidrelétricas não precisam mais de licença e, historicamente, algumas delas foram problemáticas para o meio ambiente, como por exemplo Balbina, na Amazônia.
Aliás, quase todas as usinas amazônicas tiveram que fazer ajustes por causa do licenciamento. Sem ele, a destruição ambiental seria muito maior.
A política de imunização de rebanho na Covid-19 é na verdade uma condenação à morte de muita gente, ao contrário de uma imunização trazida pela vacina.
A política de destruição ambiental leva à morte e à pobreza porque os investimentos internacionais hoje buscam atividades sustentáveis.
O que é pior: a devastação ambiental é uma das causas possíveis de novas pandemias.
O Brasil vive um círculo destrutivo que pode inviabilizá-lo nos próximos anos. Se isso ficar claro para a maioria, certamente haverá mudanças em 22.
Creio que há uma frente fria se aproximando. O sol tem aparecido pouco. Ganhei alguns livros interessantes. Eles são uma tentação. Tenho um esboço bem flexível de plano de leitura. Mesmo assim fico meio perdido às vezes, sobretudo quando termino. Vou tentar me manter na linha, seguindo uma pesquisa já determinada. Mas nesse caso, pular a cerca de vez em quando é até saudável.
Além dos livros novos, há os antigos. Hoje, folheando uma biografia de Heidegger escrita por Rudiger Safranski, percebi que marquei inúmeros trechos até a página 163.
Não sei se a memória falhou mas repassei as anotações como se tivessem sido feitas por outras pessoas. Só aos poucos fui reconhecendo o que marquei.
De qualquer forma, compartilho pelo menos um curto trecho de Safranski:
“É preciso não esquecer que a vinda ao mundo não se completa com o nascimento. Inúmeros nascimentos são necessários numa vida humana e pode ser ainda que não se chegue completamente ao mundo. Mas, no momento, vamos ficar com o primeiro nascimento.”
Essas anotações me seduzem para uma releitura. Com tanta coisa nova, estou em dívida com os livros que já li. Que venham as noites de inverno do Rio, sinto menos frio nelas do que nas noites de verão em São José dos Ausentes.
Fonte: Blog do Gabeira