O fato do dia é o depoimento de Fabio Wajngarten, ex-secretário de comunicação do governo, na CPI.
Ele concedeu uma entrevista na Veja falando da incompetência do Ministério da Saúde em negociar a compra da vacina da Pfizer. Na CPI, procura abrandar sua entrevista, defender o governo e Bolsonaro.
O problema são as evidências. A Pfizer enviou uma carta em setembro ao governo brasileiro. Até novembro, ninguém respondeu. Era uma carta endereçada ao presidente, vice, ministros da saúde e finanças e também ao embaixador do Brasil nos EUA.
Nessa carta a Pfizer afirmava que os EUA já haviam comprado 100 milhões de doses e propunha que o Brasil fosse uma espécie de vitrine na vacina na América do Sul.
Wajngarten entrou no assunto porque ninguém do governo respondia . Quando o governo tomou conhecimento do negócio levou mais quatro meses para tomar uma decisão e assim mesmo só acabou se decidindo porque o Senado aprovou uma lei resolvendo as pendências jurídicas.
Foram seis meses de hesitação e resistência de Bolsonaro. Em setembro, o Chile já tinha uma força tarefa para comprar vacinas, Israel provavelmente já tinha fechado negócio com a Pfizer assim como os Estados Unidos.
Isso para mim é o mais importante pois revela a incompetência do governo brasileiro em comparação com outras escolhas.
Wajngarten mentiu muito e foi inclusive desmentido. Afirmou na entrevista da Veja que o Ministério da Saúde foi incompetente. Interrogado sobre isso na CPI disse que não tinha acusado o Ministério da Saúde. Horas depois, a própria Veja divulgava o áudio mostrando que ele, de fato, acusou o Ministério da Saúde.
As outras mentiras eram mais evidentes ainda. A Secom fez uma campanha intitulada “O Brasil não pode parar”. A ideia foi combater o isolamento social e medidas de restrição, estimulando as pessoas a voltarem às ruas e ao trabalho.
Wajngarten chegou a dizer que não tinha certeza se a campanha foi feita pela Secom.
As pessoas escolhem seu caminho. Wajngarten não se importa muito com sua imagem, mas quer manter um vínculo com o governo Bolsonaro, quer deixar um último ato de lealdade, uma porta aberta para cooperação futura.
Confesso que é um pouco cansativo assistir a longos depoimentos, sobretudo quando se destinam a desmontar mentiras. É um conjunto de pequenas escaramuças, um escondendo, outro tentando desvendar.
Acabei deixando de assistir quando percebi que a redundância era meio inevitável. Dedico parte de minha tarde a editar algumas fotos antigas para postá-las no Instagram.
E felizmente volto à leitura. A pausa para o futebol foi frustrante. Um péssimo espetáculo e o que é pior a falta de esperança na inteligência e criatividade do treinador. Uma comédia é melhor para dormir. Optei por ver um filme de um pianista em crise, uma reflexão sobre a importância da música. Aliás sobre isso, não tenho dúvida. A música de todos as artes, diz Borges, é a única que poderia existir sem que o mundo existisse.
Fonte: Blog do Gabeira