Difícil escrever um diário no fluxo de trabalho. Ao invés de ver o futebol, acabei passando a noite em claro.
É difícil acompanhar esse sistema complexo e um pouco antiquado da votação americana. Houve momento em que a vitória de Trump parecia assegurada.
Ainda de madrugada, ele apareceu na televisão, ali pelas duas horas, dizendo que ia entrar na justiça que as eleicões eram uma fraude. Pensei: perdeu e quer ganhar no tapetão.
Aquelas manchas vermelhas nos estados chamados estados ferrugem iriam se desfazer com a chegada dos votos pelo correio.
Alguns pontos que vale a pena destacar:
Os EUA continuam divididos e serão governados só com muita habilidade.
Os hispânicos votaram Trump na Flórida. Os comentaristas costumam não distinguir os hispânicos. Os da Flórida, cubanos e venezuelas, tendem a ser contra qualquer proximidade com o socialismo e Trump os assustou.
Os mexicanos deram uma boa votação a Biden no Texas embora não fosse suficiente para a vitória naquele estado. Portanto, há hispânicos com perspectivas diferentes.
Jovens negros votaram em Trump, possivelmente por razões econômicas, por se sentirem com necessidades semelhantes aos dos trabalhadores brancos. Neles, o tema do antirracismo não colou.
A decisão de Trump de lançar suspeitas sobre as eleições é muito grave. Não há indícios de fraude. Ele mente. O herói do livro que estou lendo, Richard Burton, contava muitas mentiras. Mas detestava dois tipos de mentira: as usadas para fugir da responsabilidade pessoal e as que culpam injustamente os outros.
Trump inspira Bolsonaro. Ele contesta o regime eleitoral americano porque perdeu. Bolsonaro contesta o brasileiro mesmo após sua vitória.
Trump dá aos Estados Unidos um ar de república bananeira. Alguns comentaristas afirmam que ele foi o grande vitorioso. Deviam dizer isso para ele pois, no momento, comporta-se como um perdedor desesperado.
Para mim, Biden é um homem mais simples, com modesto talento oratório, mas conseguiu um extraordinário feito: ser o candidato mais votado na história dos Estados Unidos, mais de 70 milhões de votos.
Daqui a pouco começo de novo o trabalho e certamente vão falar de Biden e Bolsonaro. Bolsonaro perguntou aos apoiadores e jornalistas: é isso vocês querem para o Brasil?
Subestimou Baden. Espero apenas que seja pragmático e saiba como presidente tirar partido da nova situação, buscando o melhor para os interesses nacionais. Eles passam pela preservação do meio ambiente e exploração sustentável de nossos recursos.
Tudo ficaria mais fácil se ele compreendesse essa verdade elementar. Mas é cabeça dura, sempre foi.
Fonte: Blog do Gabeira