Esta noite é muito tensa. Hesito entre varar a madrugada seguindo as apurações nos Estados Unidos ou assistir um pouco de Botafogo e Cuiabá e dormir tranquilo.
Não creio que possa fazer nada para alterar o resultado. Sei por experiência da semana passada, que o duelo entre Botafogo e Goiás me faz dormir com eficácia.
A nota que Bolsonaro lançou sobre as eleições é muito confusa. Ele fala de interferências externas nas eleições americanas, um debate que não tenho visto agora, ao contrário de 2016. Ou talvez esteja falando preventivamente de interferências no Brasil?
Ele sugere que existe uma pressão contra a Amazônia por causa da competição no agrobusiness. Ignora que os próprios compradores no exterior querem produtos sustentáveis.
Será que os estrangeiros querem a floresta de pé para derrotar nosso agronegócio? Não faz sentido. A floresta é dos esteios do agronegócio através de sua contribuição ao regime de chuvas.
Mourão disse numa entrevista que o Brasil não iria interferir nas eleições americanas. Maravilha.
Cento e cinquenta milhões de eleitores num recorde histórico e importante para democracia devem ser motivo de orgulho. Que tipo de interferência o Brasil poderia ter nessa realidade.
Mourão não compreende que a vitória de Biden será importante porque ele voltará ao multilateralismo e com seu projeto de recuperação econômica ambiental abrirá grandes oportunidades para o Brasil.
Temo que os militares também não compreendam isso. Podem estar encantados com uma relação preferencial de Bolsonaro e Trump que acabou atrasando nossas relações comerciais, materialmente não nos levou a nada.
A esta altura, no entanto, apesar do favoritismo de Biden, nada está decidido. As pessoas lembram as eleições de 2016, nas quais Hilary ganhou mas não levou no Colégio Eleitoral.
Tenho muita experiência de eleições, participei de todas no período da redemocratização. Aprendi que um grande erro é analisar a eleição que temos diante de nós como se fosse a eleição que passou. É o mesmo erro dos generais que, às vezes, examinam uma batalha com as mesmas variáveis da anterior. Eles nunca se repetem exatamente.
Trump ou Biden, Botafogo ou Goiás. Espero ter uma boa noite de sono, mesmo sabendo que nosso destino está em jogo.
Em caso de vitória de Trump o mundo será destruído mais rápido, inclusive os recursos naturais brasileiros serão destroçados pela política de Bolsonaro e Salles.
A única coisa que teríamos pela frente é tentar reduzir o processo de destruição, atenuar o impulso suicida produzido pela ignorância e o ressentimento.
Fonte: Blog do Gabeira