Apesar da euforia com a chegada da vacina, creio que alguns problemas continuam de pé, alguns deles ligados ao próprio processo de vacinação.
Não queria entrar neles tão cedo para não anuviar clima de esperança. Mas, na minha opinião, um processo de levar a vacina a um país tão grande como o Brasil implica em planejamento, disciplina e continuidade.
Temos visto que o planejamento não é o forte desse governo, embora exista a memória e outras bem sucedidas campanhas no SUS.
Temo pela continuidade. Teremos que vacinar, com o nível de eficiência da vacina que temos, cerca de 150 milhões de pessoas. Isto significa 300 milhões de doses.
As autorizações emergenciais referem-se a oito milhões de doses, sendo que dois milhões estão na Índia e a a análise política indica que não virão tão cedo. Os indianos têm de vacinar inicialmente 300 milhões de pessoas, além disso alguns países vizinhos também querem a mesma vacina que o Brasil.
O Butantan já pediu autorização para mais quatro milhões e é possível que produza até 40 milhões.
Depois disso, terá de importar de novo o insumo ativo. O mesmo que a Fundação Oswaldo Cruz está fazendo para iniciar a embalagem no Brasil
É uma conjuntura internacional delicada. Às vezes, sob a máscara de entraves burocráticos, há problemas políticos. Estamos dependendo da China e da India, como aliás já estivemos no passado, quando começou a pandemia.
Não sei se todos lembram daquele dificuldade para comprar respiradores. De como os países colocavam obstáculos ou como no caso dos EUA de Trump tentavam monopolizar o equipamento.
No caso das vacinas, os países mais ricos já se abasteceram mas ainda ocupam as fábricas para atender aos seus pedidos. O Canadá tem dez vacinas por habitante. A América do Norte e a Europa, de um modo geral, compraram as vacinas da Pfizer e Moderna, com um nível de eficácia superior a 90 por cento. Isto significa que terão de vacinar menos gente para atingir seus objetivos.
Resolvi me concentrar nesse tema porque vejo as vacinas chegando e constato que não dão nem para os grupos previamente definidos como prioritários.
Se não houver cobrança, creio que o processo será muito difícil. Bolsonaro já era contra a vacina, agora a considera uma espécie de símbolo de sua derrota.
Por essas razões, comemoro a chegada da vacina discretamente. Espero para ver os próximos passos.
Fonte: Blog do Gabeira