Domingo sem sol e sem graça, só me resta afundar nos livros e pesquisas para passar o dia, mesmo porque no princípio da noite começo a trabalhar.
Destaco dois temas hoje. Um deles é a denúncia do jornalista americano Seth Abramson de que Eduardo Bolsonaro participou de um comitê de guerra de Trump na véspera do assalto ao Capitólio.
O jornalista cita ainda um homem com negócios no Brasil, Daniel Beck, dono da Combat Arm Defense, que produz carros de combate para o governo brasileiro e tem uma fábrica em Vinhedo, SP.
O jornalista rastreia, através das postagens de Eduardo Bolsonaro, sua passagem pelos EUA na véspera do assalto ao Capitólio. Além disso, registra a defesa que Ernesto Araújo fez das denúncias contra as eleições americanas, embora se distancie discretamente do assalto ao Capitólio por sua característica violenta.
Eduardo Bolsonaro iria ser o embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Se for investigado, corre o risco de ter problemas com as autoridades de lá, sem contar com o imenso mal estar que esta notícia vai trazer para as relações com o governo Biden.
Outro fato importante do fim de semana é a carta aberta já assinada por mais de 15 mil pessoas denunciando a situação que vivemos no Brasil e, de certa forma, pedindo ajuda internacional para impedir que as mortes prossigam, assim como a impunidade dos governantes que agravam a dimensão da tragédia.
Ainda não assinei a carta mas considero que a assino diariamente pedindo que se organize para buscar uma saída fora do governo. No momento, os governadores perceberam que precisam ter iniciativa própria e pretendem se entender com a OMS. Nada mais natural, temos comprada uma partida de vacinas e seria interessante que a OMS considerasse a prioridade brasileira. O vírus se alastra por aqui, produz variantes, e o país se torna numa ameaça internacional. Aliás, um dos argumentos da Carta Aberta é precisamente o perigo que o Brasil tem representado para o mundo.
Neste domingo imerso em leituras sobre o passado brasileiro, me pergunto com alguma tristeza: os militares sempre se prepararam para defender a segurança nacional e não percebem que o governo que eles apoiam e a polícia que desenvolvem (Pazuello é um exemplo disto) acabou se tornando uma grande ameaça à própria segurança nacional.
Faz algum tempo que deixei de me perguntar sobre o tempo de sobrevivência de Bolsonaro no poder. As circunstâncias são urgentes e é preciso agir desde já como se não houvesse presidente. Prefeitos e governadores compreenderam, alguns empresários também. Falta o Congresso não só compreender mas assumir todas as consequências.
Finalmente, aproveitando o domingo, queria comentar a ida dessa delegação oficial a Israel. Sinceramente se for para trocar informações científicas, a internet é o caminho mais barato. Se for para escolher protagonistas, os cientistas deveriam ter preferência.
A comitiva brasileira mescla chanceler e políticos e no princípio iria se informar sobre o remédio CD24, sobre o qual tenho falado aqui.
É um remédio experimental destinado a impedir que o sistema imunológico produza tempestades que acabam destruindo o próprio organismo.
Está na fase 1, qual o sentido de ir a Israel se todas as informações podem ser passadas?
Bolsonaro parece ter percebido o vazio de seu projeto e passou a dizer que a delegação iria discutir vacinas. Como assim? Israel fez um processo exemplar de vacinação usando a Pfizer, vacina que Bolsonaro rejeitou três vezes. Será preciso uma delegação custosa para entender o que todos repetimos aqui?
A foto da delegação sem máscara ao partir do Brasil e com máscara ao desembarcar em Israel mostra a ambiguidade do governo.
O discurso aqui despreza as máscaras porque se dirige a um público que, como Bolsonaro, nega a importância da pandemia.
Tudo muito triste para um domingo sem sol. Por isso volto aos livros e ao trabalho de pesquisa.
Fonte: Blog do Gabeira