El Chapo, Joaquín Gusmán Loera, era o mais procurado, o mais temido, e ainda é o mais valioso e o mais rico megatraficante do mundo. Sua fortuna ultrapassa um bilhão de dólares e, se vivo fosse, Escobar experimentaria o recalque com o beijinho no ombro de Chapo, um concorrente tão adjetivado e que até na hora de ser recapturado o foi literalmente de mãos dadas com Hollywood. A imagem do aperto de mãos entre ele e o ator Sean Penn entrou para os anais do jornalismo, feito proporcionado pela revista Rolling Stone, uma bíblia da imprensa pop-rock dos Estados Unidos.
Quando preso ou foragido, El Chapo foi mordido pela mosca azul da fama, de uma fama para além das fronteiras do narcotráfico. Movido por isso, fez chegar a Penn a mensagem de que queria um encontro com o ator. O objetivo do traficante com esse diálogo era realizar um sonho desses pequenininhos: queria sua vida transformada num filme de Hollywood. Nem Escobar ousaria tanto.
NARIZES
Assim, El Chapo foi preso na sexta passada e, no sábado, a revista lançava a grande reportagem, assinada por Sean Penn, sobre o chefe de tráfico mais caçado do mundo. O feito pautou a imprensa do mundo inteiro e levou o The New York Times a, na edição de ontem, não poupar espaço para dar repercussão ao caso. A partir daí, a coisa descambou literalmente para um caso hollywoodiano. Parte dos leitores acha que Chapo foi preso porque Sean deixou pistas para a polícia mexicana ir no seu encalço. E, se assim foi, os herdeiros do pó de Joaquín não perdoarão e não deixarão o ator vivo. Já outra parte considera o próprio Penn um criminoso, por relacionar-se com um traficante internacional foragido e não o denunciar. Por isso, deveria ser preso.
Na prática, as coisas são mais simples e darão um senhor roteiro. Hollywood e pó sempre mantiveram entre si uma atração fatal. El Chapo e Los Angeles estarão unidos em pouco tempo nas telas, milhões de dólares serão gerados por essa união e, no final das contas: quer ironia maior que um veículo de imprensa como a Rolling Stone publicar, em primeiríssima mão, o que pensa o homem que abasteceu o tal alargamento da consciência de boa parte dos ídolos que sempre estamparam e estampam suas próprias capas e páginas? Melhor que isso só a imagem icônica de um ator polêmico como Penn apertando a mão daquele senhor de camisa chamativa de seda azul responsável por abastecer os melhores narizes e as melhores veias da Quinta Avenida a Hollywood, passando por Wall Street, pelos maiores PIBs dos Estados Unidos e pelos balneários descolados da Europa.