Imagem: Arquivo Google – Navegantes ao Mar
A indicação da poeta norte americana Elizabeth Bishop como primeira autora estrangeira a ser homenageada pela Flip (edição 2020) está gerando o maior bate boca no meio cultural nativo.
Brasileiros, indignados, perguntam: como uma ‘dona’ que, na troca de correspondência com poetas e intelectuais norte-americanos, escrachava poetas brasileiros e latino-americanos, pode ser homenageada na maior feira literária do país?
Outros advertem a organização sobre a perspectiva tendenciosa de homenagear-se, agora – na vigência de um governo de direita -, uma autora que via com ‘bons olhos’ a queda do Jango.
A homenagem da Flip à poetisa abriu mais um campo de batalha nas conflitadas linhas da cultura nacional.
E toma de cavar trincheiras.
Como em suas críticas, Bishop tecia poucos elogios à poesia e poetas da região (como Neruda e João Cabral) e espinafrava nomes de prestígio como Manuel Bandeira e, politicamente, ela achava bom para o país a ruptura com a escalada comunista e, por isso, foi identificada como intelectual simpatizante do golpe de 64.
Os críticos à escolha da poetisa norte-americana destacam uma carta que ela enviou a Lowell, onde comenta o golpe militar: “Foi uma revolução rápida e bonita, debaixo de chuva, tudo terminado em menos de 48 horas”.
Por essas e outras – estética ou politicamente – Bishop se tornou o alvo perfeito para abrir nova frente de confrontos ideológicos no meio cultural nativo.
Tem gente aproveitando o motivo para colocar – inadvertidamente – à direita ou à esquerda – quem a poetisa admirava ou desconsiderava artisticamente.
Hoje, Luiz Cabral de Melo Neto, postou na sua TL uma oportuna ‘correção’ à memória de seu pai, relativa a uma menção ideológica sem fundamento.
Postou ele: “coluna de ontem no jornaleco, o Elio Gaspari mencionou que a Elizabeth Bishop gostava da poesia de papai, [João Cabral de Melo Neto] apesar de ele ser comunista. Não sei de onde o Gaspari tirou essa mentira. O fato de ele ser absolutamente apolítico o fazia se aproximar de vários amigos, independentemente de quaisquer ideologias professadas, “exóticas” ou não. Em 1953 o Carlos Lacerda inventou essa história, como forma de atacar o governo do Getúlio, e ao que parece a “burritsia” brasileira encampou a mentira, que perdura até hoje.”
Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial “Em Busca da Essência” Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.