2 de dezembro de 2024
Erika Bento

É duro torcer pela Itália


Foram os meus 20 minutos mais sofridos como torcedora de futebol, nos últimos anos. Se dependesse dos meus xingamentos, pulos, gritos e pancadas no sofá com o punho fechado, a Itália teria arrebentado a rede do gol slovaco várias vezes. Mas que nada! Nem os meus delírios e nem o dos milhões de torcedores italianos conseguiram mexer com uma equipe quase morta em campo.
Entendo de futebol como meu marido entende de cozinha. Embora quase nada, ele consegue fazer um mexido de ovo e um macarrão (claro!) deliciosos e eu consigo ver quando uma equipe não finaliza uma jogada, quando erra nos passes, quando não há criatividade, enfim, não jogaram futebol como sempre vimos a Itália jogar! E, sem jogo, fazer o quê na Copa? Melhor voltar pra casa mesmo e pegar no batente.
Os italianos pararam e assistiram ao jogo como a uma final de campeonato. Em Roma, a Praça Siena ficou lotada com torcedores que queriam acreditar na seleção de Lippi, mas todos sabíamos que estava difícil. Só um choque para acordar a equipe e fazê-la chegar mais adiante neste mundial (nem digo vencer!). No final, Lippi assumiu toda a culpa por não ter sabido agir tecnica e nem psicologicamente com os jogadores. Já os próprios, isentaram o técnico dizendo que no campo são sempre eles e que não jogaram bem e pronto. Palavras ditas por Fabio Quagliarella (foto), que saiu chorando de Ellis Park.
Vendo os jogadores se arrastando no campo, sem motivação alguma, estava vendo a própria Itália, um país lutando contra uma crise econômica que já dura quatro anos, mas na realidade apenas sobrevivendo ao furacão. O italiano, que é um povo tão alegre, tão folcloricamente barulhento, anda calado. Cabeça baixa, autoestima abalada.
Se eu não estivesse com o coração tão italiano, diria “não estou nem aí com a Itália”, ou “um a menos para o Brasil derrotar” e coisas do gênero. Mas não. Estou muito chateada e a imprensa daqui está… furiosa! “Eliminação merecida” “Nunca se viu uma Itália tão ruim assim” “Vergonha! Itália fora e no último lugar da chave”.
Culpam o técnico por ter levado uma equipe sem vida, sem talento e sem imaginação para o mundial. Como disse, futebol técnico não é o meu forte, mas uma coisa fica evidente. Uma filosofia de vida que vimos aplicada nos gramados, hoje e que deve ser seguida, urgentemente, no nosso dia a dia.
Basta um pouco de garra, dedicação e criatividade para superar os adversários. Basta acreditar e tentar, tentar e tentar para passar por este período cinzento que paira sobre toda a Europa. Um continente que já viveu momentos muito piores do que este e que se reergueu, não foi?
É apenas um período. Foi apenas um jogo. A vida continua.
artigo publicado em 24/06/2010

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