12 de outubro de 2024
Colunistas Erika Bento

Um exercício de gratidão

Só quem vive próximo a um alvo de atentado terrorista pode entender a sensação de insegurança que nos assombra.

As maiores comunidades com conexões com células terroristas, no Reino Unido, ficam em Birmingham, Manchester e Londres. Moro em uma pacata cidade a vinte minutos de trem de Birmingham para onde viajo todos os dias a trabalho.

Hoje, deparei-me com dois policiais armados de metralhadora, na saída do trem. A primeira coisa que me veio em mente foi: que bom! A segunda​, foi um profundo sentimento de gratidão por aqueles dois jovens sérios que procuravam, com olhos aguçados, distinguir o joio do trigo.

Não sei explicar muito bem o porquê fiz o que fiz em seguida, mas sorri para um deles e o disse “agora me sinto segura”. Ele sorriu de volta, um sorriso educado e solidário, e me disse “Good!”.

Talvez eu quisesse apenas dizer-lhe que valorizo o trabalho dele, que confio que o terror não pode nos impedir de viver, que eu sei que ele também está assustado, mas que o fato de ele estar lá já nos dá um pouco de confiança. Sinceramente, eu não sei.

Saí da estação com um aperto na garganta, uma vontade de chorar pelas vítimas do ataque covarde de um extremista que só tinha ódio no coração, que se rebelava contra o governo do seu país e decidiu descontar o seu ódio em jovens inocentes.

Sei que esta guerra contra o terrorismo não se ganha com alguns polícias com metralhadoras em punhos, mas com informação, investigação e colaboração. A metralhadora é ferramenta de intimidação, mas vê-los na estação, prontos para matar ou morrer pela minha sobrevivência me fez sentir (ainda mais) solidária.

Um novo ataque poderia acontecer a qualquer momento e, assim como os 22 jovens que saíram de casa para celebrar a vida sem saber que seria o seu último dia de alegria, passo a viver ainda mais pensando que devemos todos tirar um momento do dia, todos os dias, para reconhecer as maravilhas à nossa volta.

Faço um exercício diário com minha filha e gostaria que você também fizesse, agora (não precisa compartilhar, se não quiser): pense em um coisa boa que aconteceu no seu dia.

Você vai ver que, à medida que você pensa, vai identificar muitas coisas boas que acontecem todos os dias, mas que já se tornaram tão triviais que deixamos de prestar atenção.

Dedico o meu momento alto de hoje aos dois policiais que, aliás, na hora do almoço, encontrei novamente, enquanto pensava em tudo isso, sentada na praça próxima ao trabalho para onde vão muitos que, assim como eu, querem aproveitar o sol, a brisa e a liberdade.

Foto: Google Imagens – Brasil247

E você? A que agradeceria, hoje?

Texto revisitado: publicado em 27/05/2017

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