Um tributo irreverente entre a literatura, o sax, a ironia e o Brasil mal frequentado.
Os grandes homens não morrem. Eles dão um tempo da gente. Foi o que aconteceu, ontem, com Luis Fernando Verissimo — o maior escritor, humorista, dramaturgo e romancista brasileiro da atualidade. Imagino-o agora, no Céu, já organizando uma roda de piadas entre anjos, soprando seu saxofone Selmer e, com toda certeza, rindo da burocracia celestial.
Sua ausência na ABL continua sendo um mistério: talvez porque competir com Gilberto Gil, Miriam Leitão e Fernanda Montenegro seja tarefa digna de novela das oito.
Fica aqui minha total reverência, em forma de uma interpretação descontraída de algumas de suas frases — pérolas literárias que lembram que a nossa “Última Flor do Lácio” pode até ser maltratada, mas nunca perde a ironia.
1. “O mundo não é ruim, só está mal frequentado.”
— Tipo festa boa com DJ ruim: o problema não é o lugar, é quem insiste em ir.
2. “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.”
— Parece prova de vestibular: você estuda química e cai história da arte.
3. “Resignemo-nos à ignorância, que é a forma mais cômoda da sabedoria.”
— Traduzindo: mais fácil pagar de Zen do que assumir que não entendeu nada.
4. “Você só sabe até onde pode ir quando já foi.”
— Isso se não for a pé: aí você sabe logo na primeira esquina quando o joelho trava.
5. “O futuro era muito melhor antigamente.”
— Nostalgia pura: na década de 80 a gente jurava que em 2020 teria carro voador. Ganhamos boleto voador.
6. “Ironia tem que ser entendida como ironia, senão não é ironia.”
— Quem explica piada merece prisão perpétua em grupo de WhatsApp de família.
7. “Não sei pra onde caminha a humanidade. Mas quando souber, vou para o outro lado.”
— Se depender do Waze, provavelmente em modo “recalculando rota”.
8. “Brasil: esse estranho país de corruptos sem corruptores.”
— É tipo mágica: o dinheiro some, mas ninguém tocou nele.”
9. “A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.”
— Uns viram Mona Lisa, outros viram meme.
10. “Passamos a vida inteira nos preparando para nossa morte e quando ela vem não podemos assistir.”
— Injusto! Depois de uma vida de spoilers, o final a gente não vê.
11. “A gente não faz aniversários. Os aniversários é que vão fazendo a gente. E depois, pouco a pouco, nos desfazendo.”
— Em outras palavras: o bolo engorda, a vela apaga, e quem se apaga é você.
12. “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.”
— E ainda corre o risco de estar errada na edição online.
13. “No Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa.”
— Aqui o poço tem pós-graduação em níveis de profundidade .
Em sua homenagem, meu caro Veríssimo, seguem algumas frases que arrisquei criar ou modificar. Não têm o brilho da sua ‘Verissimice’, mas publico-as em “avant première” só pra ver se enganam de longe. Um dia, aí do Céu, você me diz o que achou — de preferência entre uma bossa-nova e outra no sax.
“Esperança é acreditar que segunda-feira vai ser diferente das outras.
“No Brasil não há mais brasileiros. Há moradores do Brasil”.
“O brasileiro não desiste nunca. Só adia para depois do Carnaval”.
“O problema do brasileiro não é esquecer o passado. É votar nele de novo”.
“No Brasil, até golpe tem replay”.
Se achar ruim, pode reclamar direto com São Pedro, que eu faço de conta que não ouvi.
Abraço.