Temo parecer saudosista, a cada vez que evoco minha geração, aquela que viveu o auge da juventude nos anos 60 e que atravessou os 70 como jovens adultos. Tínhamos um compromisso: viver para criar nossas expressões pessoais e tínhamos também o hábito de adquirir conhecimento, em vários âmbitos. O âmbito cultural em amplo espectro, por exemplo.
Ler O Pasquim era quase uma obrigação. Esperávamos o que viria naquele pequeno jornal. Qual entrevista seria mostrada. O que Sig, o ratinho marrento, com certo cinismo ácido e bem-humorado, nos ofereceria para riso ou reflexão. Anos 70 totalmente!
Dentre as centenas de capas daquele semanário, selecionei apenas 3 para nos levar àqueles anos.
Ele e os outros que tocavam o irreverente Pasquim amenizaram o baixo-astral dos tempos de chumbo da ditadura militar. Hoje, com o Rio de Janeiro literalmente submetido a chumbo de grosso calibre, o baixo-astral que vigora tem traficantes, milicianos e uma ralé da política que ganhou Brasília.
Lembrei que em 1980 eu estava em uma livraria em Ipanema e entrou um senhor. Logo vi quem era. Eu, a seu lado, não quis dar bandeira e tentei agir normalmente. Sabia que era o Jaguar. Quando ele já ia saindo, eu arrisquei e perguntei: “Ainda bebe um chopinho?”. Ele me respondeu: “Infelizmente não, meu amigo, meu médico proibiu”. Senti um lamento profundo em sua voz e pensei: acho que este médico “acabou com o Jaguar”. Ele foi embora e eu fiquei com a sensação de aquele não era o mesmo Jaguar das minhas lembranças, mas estava lá.
Jaguar partiu aos 93 anos para algum lugar que não as redações da vida. Foi um desses corajosos e abusados jornalistas que marcaram uma época.
Sem romantizar aqueles anos que traziam também dificuldades e medos, quero lembrar a inteligência do traço simples de Jaguar e sua contribuição para a diversão do Pasquim. Sig está por aí, rato da redação da vida para provar o que eu quero dizer.
Com a morte de Jaguar, carioca nascido num 29 de fevereiro, o Rio e o Brasil, certamente, ficam mais pobres, tristes e mais sem graça.
Jaguar e seus contemporâneos do Pasquim fazem muita falta. Que descanse em merecida paz!