11 de setembro de 2025
Carlos Eduardo Leão

Apêndice e gordura: a inesperada sinfonia do corpo humano

De figurantes esquecidos a protagonistas vitais, eles provam que no corpo ninguém é coadjuvante

A Medicina é como uma série da Netflix que nunca acaba: a cada temporada, um novo episódio cheio de reviravoltas. Técnicas mudam, tratamentos evoluem, descobertas surpreendem. É uma ciência de eternas verdades transitórias dada a sua extraordinária evolução. É um show sem fim – e cada vez mais fascinante.

E agora, quem resolveu aparecer como protagonista foi ele, o tão “esquecido” apêndice. Sim, aquele mesmo que só lembrávamos quando inflamava e virava apendicite. O pobrezinho cansou de ser figurante e gritou:

— “Me respeitem, eu não sou inútil não!”

Segundo uma pesquisa publicada em junho de 2025 no proeminente periódico Gut Pathogens, comentada pelo neurocientista Prof. Dr. José Nasser, o apêndice pode ser considerado um “cérebro reserva”.

Ele faz parte do eixo intestino-cérebro, tem, juntamente com o sistema nervoso intestinal, milhões de neurônios (mais até que a medula espinhal!) e conversa direto com o sistema nervoso central. Pesquisadores da Duke University concluíram: ele é muito mais que um estorvo inflamável.

E não para por aí: o apêndice também é hotel cinco estrelas para bactérias do bem, ajuda a restaurar a flora intestinal depois de graves diarreias e doenças, regula o sistema imunológico, fortalece a memória das defesas do corpo e ainda dá uma força para a saúde mental. Nada mal para quem viveu anos na lista dos “dispensáveis”, né?

Falando em “injustiçados”, temos também a gordura. Antes vista como vilã, ela hoje também tem passe livre na área VIP do corpo humano.

Rica em células-tronco, virou estrela em cirurgias regenerativas: ajuda a tratar cicatrizes de queimaduras, rejuvenesce mãos, preenche depressões, sulcos e rugas no rosto, além de surpreendentes aplicações em cirurgias estéticas do momento.

Nada mal para quem vivia sendo acusada de “só atrapalhar no espelho”, né?

Imaginemos então o apêndice e a gordura chegando na clássica “Guerra dos Órgãos”:

O cérebro dizia ser o mais importante porque pensa e manda.

O coração retrucava: “Sem meu sangue, você não pensa nada.”

Os rins se metiam: “E sem minha filtragem, vocês afogam em toxinas.”

O intestino protestava: “E eu, que tiro o lixo, não valho nada?”

Foi quando o ânus resolveu falar: “Na boa, sem mim nada funciona.”

Todos riram: “Você só faz caca!”, debochou o cérebro.

Humilhado, o ânus fechou. No primeiro dia, tudo bem. No segundo, o cérebro já pirava. No terceiro, o intestino colapsou. No quarto, o coração disparou. No quinto, os órgãos estavam em pânico.

— “Ok, você venceu, abre logo!”

E foi assim que entenderam a lição: no corpo, ninguém é dispensável.

No grande concerto da vida, cada órgão toca sua parte. Uns brilham em solos, outros sustentam o ritmo nos bastidores. O apêndice e a gordura, antes desafinados aos ouvidos da ciência, agora foram afinados na melodia do corpo. E nos lembram: ninguém é coadjuvante quando a orquestra é a existência.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

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