Estou lendo um livro interessante e espero acabar a leitura neste fim de semana. O livro se chama guerra pela eternidade. O subtítulo é: o retorno do Tradicionalismo e a ascensão da direita populista. Seu autor, Benjamin Teitebaulm, é etnólogo e sua profissão aconselha a interagir e, ás vezes, conviver com a pessoas que estuda. Dois personagens no livro, Steve Bannon e Olavo de Carvalho, são bastante conhecidos pela sua presença na mídia. O autor não faz como os outros que leem os textos ou declarações dos inspiradores da direita populista e escrevem um livro criticando-os.
Pelo contrário, ele tenta entendê-los, isto é buscar as influências intelectuais que os inspiram e, dentro dos limites, mostrar como se articulam com a direita populista. Não posso fazer uma resenha completa. Indico apenas que Teutelbaum é um estudioso do Tradicionalismo, cujos autores mais célebres são o francês René Guenon e o italiano Julius Evola.
O Tradicionalismo vê o desenvolvimento histórico num tempo circular, através de etapas. A etapa atual, por exemplo, é vista como uma fase a ser superada porque nela a visão materialista predomina sobre os princípios
espirituais.
Steve Bannon por exemplo vê a necessidade de uma superação desse momento, inclusive através de uma destruição das instituições decadentes. Nesse sentido, acha que é preciso encontrar as pessoas que possam dirigir a própria destruição das instituições.
Nos Estados Unidos, um exemplo disso, é a escolha, no início do governo Trump, de uma Secretaria de Educação que previa substituir as escolas públicas por vouchers a serem usados pelos alunos nas escolas particulares. E um diretor da agência ambiental que prometida acabar com o ativismo da própria agência.
Um exemplo dessa tática no Brasil é a escolha de Ricardo Salles para o Meio Ambiente e Ernesto Araújo para as Relações Exteriores. Aliás, se consideramos o livro, Araújo é o mais articulado defensor do Tradicionalismo, no sentido em que quer o Brasil na vanguarda de uma batalha espiritual, ainda que, por causa disso, o país se torne um pária.
No seu pensamento, se entendo bem, tornar-se um pária numa época em extinção seria se preparar para um espaço de destaque no novo momento.
O livro é interessante mas não consegue explicar bem como toda essa revolução espiritual escolheu como lideres um milionário e materialista vulgar como Trump nem um truculento capitão como Bolsonaro.
O próprio Bannon sonhando com um país de sacerdotes, com uma grande mobilidade espiritual, talvez não conseguisse explicar seus altos salários para servir a um milionário chinês (US$1 milhão por ano) nem seu processo por desviar fundos dos doadores para a construção do muro na fronteira com o México.
Mas creio que terminarei o livro nesse fim de semana e voltarei a ele em artigos que possam refletir melhor o pensamento desses intelectuais que inspiram a direita populista, aqui nos EUA e em alguns países da Europa.
Fonte: Blog do Gabeira