26 de abril de 2024
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Resposta a frei Betto

Li a carta aberta que o frei Betto, petista histórico, enviou ao general Braga Neto, comandante da intervenção no Rio de Janeiro. Considerei que valia a pena dar os meus palpites. Para isso, ando estudando Corte&Costura.

Foto: Arquivo Google

Prezado frei Betto,
O senhor se posiciona como se não tivesse absolutamente nada a ver com a dramática situação carioca. Lamento informar, todos temos.
Também prega remédios, que escuto pregarem desde a minha tenra infância, época dos dinossauros. Nunca vi, governo após governo de variadas tendências, alguém se preocupar seriamente em levar educação ao povo, proporcionando o encontro com a literatura, o teatro, a música, as artes, únicos instrumentos capazes de sofisticar os espíritos.
Sim, só mesmo a educaçáo consertará o Brasil. Espero sentada quem, finalmente, aplicará esse santo remédio aos brasileiros menos favorecidos, infeliz massa de manobra criminosamente adubada por todas as ideologias per omnia secula seculorum. Nem mesmo o seu miraculoso PT, companheiro de folguedos do PMDB durante 13 anos, cuidou da ignorância pátria. Como alardear o bolsa-família e o fim da miséria se as pessoas tivessem um mínimo de discernimento?
Sua carta me irritou pela futilidade. O senhor parece não saber que o tempo passa, modificando o significado das palavras e dos atos. Seu discurso está atrasado um século, no mínimo. Julgar uma instituição apenas por seu passado é tolice. O passado é o passado, a voz que vem de lá ecoa a realidade daquela época. Acusar o exército brasileiro por sua atuação na guerra do Paraguai ou em Canudos é tão medíocre quanto acusar a Igreja católica pela Inquisição.
Cuide do rabinho de sua batina Dior, que ficou preso na porta. Se o senhor insistir em afirmar tais bobagens, ser porta-voz de equívocos, ficará tão frito quanto os milhares de hereges que a sua santa Igreja – que, aliás, também é a minha – queimou. Isso para não falarmos no garrote-vil, tortura inimaginável. Mas sou delicada, não tocarei nesse assunto.
Claro, Frei Betto, que há militares corruptos. O senhor conhece alguma atividade humana isenta de corrupção? Também existem padres pedófilos, jornalistas venais, advogados chincaneiros, médicos irresponsáveis. Nem por isso menosprezamos tais profissões. Imagina se todos se afastassem da Igreja católica porque, um dia, alguns padres apreciaram acender fogueiras. O senhor estaria em maus lençóis, o mundo contemporâneo o olharia de soslaio. Seria uma injustiça. A mesma que o senhor cometeu em relação ao nosso exército.
Observe que o Rio de Janeiro tornou-se um paciente terminal. Tem os membros gangrenados, sofre de infecção generalizada. Ou é socorrido com antibióticos poderosos ou morrerá. A época das mezinhas acabou. A massa, na qual o senhor também colocou fermento, perdeu o rumo. Precisamos acalmá-la. Depois, se a sorte nos bafejar, quem sabe possamos, enfim, investir na tão propalada educação? Só ela nos salvará, concordo com a sua opinião.
Não duvido que o senhor saiba que alguém sempre se magoa quando não existe respeito às leis. Estamos tão à deriva que começamos a acreditar que existem mortos bons e mortos ruins. Mas os mortos são sempre os mortos, significam dor e tragédia. Não importa se um veste farda e o outro cresceu na favela.
O importante agora, frei Betto, é interrompermos o círculo vicioso de deixarmos matar e deixarmos morrer. A violência ultrapassou todos os limites aceitáveis. Se crianças de dez anos morrem de balas perdidas, por distração do destino, ou matam de caso pensado, por saberem usar um AR-15, chegou a hora tomarmos o remédio amargo.
Repense a sua opinião sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro. O senhor até pode continuar sendo contra, a opinião é livre. Mas, por favor, apresente argumentos mais sólidos, não tão pueris quanto os que o senhor escreveu na carta ao general Braga Neto.
Enquanto pensa, sugiro que deixe o exército trabalhar em paz. Nem as comunidades aguentam mais a selvageria que nos rodeia.

O Boletim

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