28 de março de 2024
Walter Navarro

Formas menos odiosas que a escravidão

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Há algum tempo, uns 27 anos, logo que me formei em Jornalismo, descobri que escolhi a profissão errada. E no lugar errado. Ser jornalista em Minas é acariciar um leão em chamas por dia.
Cássia Kiss diz, ops! Rimou… Diz que ser ator é a profissão mais gostosa do mundo. Os atores de filme pornô também devem achar. Ou não? Na verdade, ela disse bonita e não gostosa…
Os franceses têm um humor delicioso. Lembro-me de um programa idiota, de auditório, na TV. O apresentador deu uma de engraçadinho e perguntou à entrevistada, o que ela fazia na vida. Tava na cara que fazia nada, nem ócio criativo, mas não perdeu a verve: “Je tiens compagnie a mon chat”, ou seja, “faço companhia para meu gato”, ou em bom português, “tomo conta do meu gato”. Não deixa de ser uma ocupação.
O escritor José Cândido de Carvalho, autor imortal de “O Coronel e o Lobisomem”, tinha uma ótima ideia. A profissão de leitor. Não quem lê por obrigação, numa editora, por exemplo. Mas por prazer. Garanto que existiria mais vida inteligente no mundo, menos crimes, menos corrupção, etc.
Sim, leio, às vezes, a revista Veja, não tenho vergonha de confessar. Não assisto aos programas da Globo porque só tem programa de quinta, pra gente de pouco estudo. A TV aberta é um acinte à inteligência, à cultura e ao bom gosto. A Globo, ou qualquer outra das grandes, nunca transmitiria, ao vivo, o último e ótimo discurso de Barack Obama na Onu, como fez hoje a GloboNews. TV no Brasil funciona como um sistema de castas. É explícita a diferença de qualidade entre a TV aberta e a por assinatura. Mesmo que esta esteja ficando cada vez mais comercial.
Obama deu um puxão de orelha em todos os “malvados” do mundo, inclusive nos Estados Unidos. Gostei dele como presidente. Poderia ter feito muito mais. O pequeno detalhe é que um presidente, mesmo dos  Estados Unidos, é o síndico, não o dono do prédio…
Por falar em profissão, Estados Unidos e presidentes dos Estados Unidos, é Ronald Reagan o autor desta frase: “Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira”.
E essa me lembrou Juca Chaves. Em forma de piada ele diz coisas sérias: “Mulheres de vida fácil…? Vocês não sabem de nada…”.
E ainda tem mulher que se casa por dinheiro, achando que vai levar a vida fácil…
Bom, voltemos à Veja que tem mais a Vejinha Minas… Não falei que jornalismo em Minas é como beber Fanta uva com escorpião?
Pois bem, na falta da Vejinha, uns poucos anunciantes de Belo Horizonte acharam um meio de penetrar a revista Veja e assim, seus fiéis leitores imperialistas, capitalistas selvagens. Fazem encartes que são anexados como páginas.
É um especial sobre Educação, que tem mais anúncios de colégios e cursos que matérias. Uma delas é interessante, mas torturante como um band aid no calcanhar. Torturante pra mim, jornalista.
Nestes tempos de indecentes índices de desemprego, está lá: “10 profissões que estão em alta no mercado de trabalho”.
Mercado de trabalho? Isso ainda existe? Sim, é o mercado que mais sofre no Brasil, aquele que precisa de mão de obra qualificada porque todo mundo só queria ser médico, advogado, engenheiro e, os idiotas, jornalistas.
CIÊNCIAS CONTÁBEIS: Profissão muito interessante, emocionante, instigadora, sensual e romântica. Principalmente em época de declaração de imposto de renda. Quem ia gostar muito de contratar um contador criativo é a Dilma…
CIÊNCIAS ATUARIAIS: Nunca ouvi falar, mas tá lá, mercado de seguros, consórcios, previdência privada. Deveras tentadora e empolgante também. Mas, na crise, quem compra estes produtos? Nem fora da crise eu conseguia. Culpa do Jornalismo…. este cabeção!
FARMÁCIA: Esta é da boa. O brasileiro está cada vez mais velho e doente. E os remédios cada vez mais caros. Deve ser por isso que aumentaram os assaltos à farmácias e ambulatórios de hospitais. E farmácia também é drogaria. Drogas sempre deram dinheiro. E dão. Lembram do meu xará Walter White, do seriado “Breaking Bad”, o favorito de Barack Obama? White era professor de química, pega um câncer e começa a fabricar e traficar metanfetamina pra não deixar a família na mão, quando morrer…
ENGENHARIA ELÉTRICA: “Bão tamém”. Assim que o PAC voltar e o Brasil virar gente grande, vamos precisar de muitos engenheiros cubanos. Enquanto isso, quem for engenheiro elétrico pode ser “marido de aluguel” e ficar trocando chuveiro elétrico pra divorciadas carentes.
AGRONOMIA: Maravilha! Cortar cana, debulhar o trigo pra gente parar de importar da Argentina, plantar soja… Mandioca não, porque a Dilma foi-se. Kkkkkkkkkkkkkkk, não me canso de repetir isso. No mais, agrônomos podem ir plantar maconha no Uruguai, aquela encruzilhada do progresso!
DIREITO: Perfeito. E que meus advogados não leiam isso. Direito no Brasil é a mais perfeita definição de distribuição de renda e lavagem de dinheiro. Para poucos, claro. Imaginem os honorários dos advogados de Lula, Eduardo Cunha, Bumlai… Sem esquecer meu favorito, o da Dilma, Dr. Thomas Turbando!
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO: Desde que eu fazia o segundo grau escuto falar nisso e não sei o que é. Vamos ver. Consultoria, gestão, mapeamento, redesenho de processos. Vou continuar não sabendo o que é.
FÍSICA: Mais fácil aprender japonês em braile, como diria o Djavan. E como diria o Caetano, está provado que só é possível filosofar em alemão. Filosofar e estudar física. Só sendo alemão e judeu, aí você vira até um Einstein. Melhor nascer de novo. No Brasil, aconselho Física, Educação Física, pra virar “personal” de divorciadas carentes.
ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS: Pra quem tem facilidade em realizar tarefas complexas como ligar uma TV, uma tomada, um ventilador; recomendo fortemente. Impressionante como dependemos 100% da tecnologia, de um simples e-mail; da Internet. A pós graduação deveria ser em tortura direcionada a quem cria vírus e aos responsáveis pela Internet mais cara e lenta do mundo.
CIÊNCIAS SOCIAIS: Besteira! Analisar a conjuntura nacional e internacional? Mais fácil descobrir o querem as mulheres! Analisar o comportamento do consumidor? Fácil, dinheiro nele. Mas cadê o dinheiro?
PS: Eu vou é pra Barbacena, criar escargot!

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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