23 de abril de 2024
Colunistas Walter Navarro

BREXIT: de volta à Britânia de Asterix


OK, vocês venceram! “Fish and Chips”. Vou falar do Brexit.
Quando eu escrever Inglaterra estou falando da Grã-Bretanha, do Reino Unido, combinado?
Yes, porque quem manda naquele monte de ilhas são os ingleses. A Escócia tenta há séculos se separar das irmãs, mas coitada, deveria se contentar com seus castelos assombrados, seu whisky e o Sean Connery. Não é pouca coisa para um país onde os homens usam saia e sem cueca!
A Irlanda? Além de outro James Bond, Pierce Brosnan e ter também ótimo whisky, brindou-nos com alguns dos maiores escritores do mundo, como James Joyce, Oscar Wilde, Samuel Beckett, Jonathan Swift, Bram “Drácula” Stocker e Gerge Bernard Shaw.
A Irlanda do Norte? Um paiol de pólvora! A começar pelo IRA, o Titanic e o U2.
O País de Gales. Fala sério! Fala uma língua de duendes, acredita em fadas e naquele velho baixinho ruivo que cuida do pote de ouro.
Eis, a saída de quem nunca esteve, a saída do Reino Unido, ops! A fuga da Inglaterra da União Europeia. É como aquela comédia de seu filho mais ilustre, Shakespeare: Muito barulho por nada.
Gente, a Inglaterra, sempre esteve à frente, sempre mandou, sempre nadou contra a corrente e dirigiu na contramão, literalmente.
Conquistou o mundo e os mares, com a Marinha real ou com piratas.
Em vez da Revolução Francesa, aquela bobagem sanguinária, fez a Revolução Industrial, antes que o trabalho infantil fosse visto como escravidão.
Sempre foi boa de briga. Derrotou Napoleão e foi o único país que Hitler não conseguiu nem mesmo invadir.
Inventou o futebol e ganhou apenas uma copa do mundo, a de 1966, em casa.
Não inventou o rock, mas, desde então, faz o melhor rock, pop e música do mundo. É de Beatles, Stones e Led Zeppelin para cima.
Dominou meio planeta, quando o mundo já estava inteiro. Foi o país onde o sol nunca se põe. E, com a língua inglesa, ainda domina o mundo.
Pariu a maior potência do mundo, os Estados Unidos. Suas ex-colônias são as únicas que deram certo, principalmente se comparadas às de Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Holanda…
Além do “fish and chips”, a culinária inglesa se resume a feijão branco 9 (beans) e, enquanto a França tem 2146 tipos de queijo, a Inglaterra esnoba e se vira apenas com um, o delicioso cheddar.
Vários países têm reis e rainhas, mas qual a mais famosa e imortal?
A Inglaterra detonou a Argentina na Guerra das Malvinas, em 1982, que só se vingou quatro depois, com Maradona fazendo um gol de mão, na Copa do México.
A Inglaterra nunca quis saber do euro! Nunca precisou de ninguém. Vendeu até patins de neve para o Brasil.
OK! Do Brasil do PT herdamos a maldição da tomada de três pinos, mas na Inglaterra, a voltagem e as tomadas sempre foram diferentes.
Os caras medem líquidos em pints! Unidade imperial equivalente a 568 mililitros.
Os loucos medem altura e comprimento em “yards, feet e inches”: jardas, pés e polegadas. Pesam em “pedras, libras e onças.
Medem distância, não em quilômetros, mas em milhas.
Papo-aranha lá é “small talk”, tipo: “Este ano o verão vai cair num domingo! ”.
O gim, “gin” mesmo, o da lata…. o da Rainha, é inglês!
O humor é tão britânico quanto a pontualidade.
Elizabeth Taylor, Charlotte Rampling, Jane Birkin, Keira Knightley, Emma Thompson, Kristin Scott Thomas!
Margaret Thatcher: “O problema com o comunismo é que um dia o dinheiro dos outros acaba”. “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”. “Não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos”. “Defendo um Estado pequeno e forte e o que me parece é que o que vocês têm no Brasil é exatamente o inverso, ou seja, um Estado grande e fraco”.
Enfim, o Brexit me lembra um dos melhores diálogos, em um dos melhores filmes de John Huston, com um dos melhores atores americanos, Humphrey Bogart.
No clássico “O Tesouro de Sierra Madre” (1948), Bogart é Fred Dobbs, um caçador de ouro, no México dos anos 1920; fudido, tosco, miserável e desesperado. Bogart merecia o Oscar que só ganhou em 1952, com “Uma Aventura na África”, do mesmo Huston.
Bom. No filme, quando Dobbs (com dois “amigos”) finalmente consegue achar muito ouro, também começa a ficar paranoico, desconfiado dos colegas e de todo mundo que está de olho e querendo roubar seu ouro. O cara pira.
Aí, vem a cena engraçada. Estão os três e mais forasteiros, à noite, envolta de uma fogueira, quando um deles resolve fumar um cachimbo, cigarro ou charuto da paz.
É quando Dobbs, totalmente alterado, achando que seria dopado, explode: “Mas o que é isso? O que vocês estão querendo? Por que cada um não fuma o seu, porra? ”.
A ligação/comparação pode parecer esdrúxula, mas é assim que vejo a Inglaterra do Brexit.
Não que esteja paranoica, imaginando conspirações permanentes, mas simplesmente refletindo: por que cada um não fica como sempre ficamos? Cada um com seu território, sua língua, sua cultura, sua moeda, seus hábitos, manias, defeitos e vícios? Afinal, a diferença é o que atrai e nos faz únicos, especiais, típicos, interessantes.
PS: Sabiam que os mares ingleses são os mais ricos, em peixes, da Europa? E que, a partir de agora, nenhum outro país pode pescar lá? Coincidência, né?

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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