20 de abril de 2024
Walter Navarro

A Frente glacial que a chuva de granito traz


Em um único dia, 31 de julho, deste 2019, quase 11 bilhões de toneladas de gelo derreteram na maior ilha do mundo, a Groenlândia. O equivalente a 4,4 milhões de piscinas olímpicas. Em todo o mês de julho, foram 197 bilhões de toneladas de gelo enchendo o oceano.
A culpa, claro, é do Bolsonaro, do Trump, do calor panamenho na Europa (Paris 42º) e pasmem, incêndios na Sibéria!
Mas não é por isso que a Groenlândia, este enorme e gelado subúrbio da Dinamarca, detém o maior índice de suicídio do planeta entre os jovens. Os culpados neste tópico são o tédio, desemprego, incestos, maus tratos e depressão. Em mais de dois milhões de quilômetros quadrados, a população é de apenas 57 mil “esquimós”.
Reza a lenda e a Coca-Cola que o gelo preserva e o fogo destrói. Que o digam nosso Museu Nacional e a Notre Dame de Paris.
Mais ou menos o raciocínio de Serge Gainsbourg que fumava como um turco, bebia como um russo e dizia: “O álcool e o tabaco preservam (o picles e a carne defumada)”. Isso, antes dele morrer por causa das oceânicas quantidades de bebida e Gitanes sem filtro.
Realmente, o frio e o gelo preservam, como em tragédias na neve. Os sobreviventes de acidentes aéreos, como aqueles uruguaios nos Andes, em 1972, provaram isso em lindas cenas de canibalismo.
Mas o canibalismo é outra história. Pode ser um fetiche sexual como aquele entre dois alemães sadomasoquistas. Armin Meiwes, em 2002, a pedidos, transformou Bernd Brands em filé mal passado. Pode ser um hábito, um culinária bizarra, entre tribos indígenas (o Bispo Sardinha que virou tainha na brasa pelos Caetés, no Nordeste do Brasil, em 1556) ou na África (Congo, África do Sul). Uma tara como a do japonês, Issei Sagawa, que tentou “comer” e acabou devorando a estudante holandesa Renée Hartevelt, de 25 aninhos, em Paris, 1981.
Por fome e/ou necessidade, até no Velho Oeste dos Estados Unidos, em pleno deserto, o canibalismo foi praticado.
Este pessoal da Groenlândia sabe de nada, inocente!
Eu não queria contar, para não assustar. Mas aqui em Barbacena, este ano, ainda não comi ninguém, mas tô quase!
E olha que sou calorento! Ontem, por exemplo, fui pegar gelo para minha vodca no café da manhã e os cubos grudaram em meus dedos. Tive que tirá-los, inclusive o enorme polegar, a marteladas.
Há duas semanas, aquele chato petista (um pleonasmo, sei-o), Chico Pinheiro, no Bom Dia Brasil, contou uma “piada” sobre um amigo de Barbacena que foi tomar banho e ficou congelado, petrificado, como as vítimas do vulcão Vesúvio em Pompéia e Herculano, no ano 79 d.c.
Tirei onda do Chico Pinheiro. Até escrevi que ele estava exagerando porque, com a Sibéria em chamas e a Groenlândia derretendo, Barbacena não tinha mais aquele frio de 50, 70 anos atrás. Aquele frio que, de 1903 a 1980 ajudou a matar mais de 60 mil pessoas nos manicômios, o Holocausto de Barbacena e de sinistra memória.
Sem saber, o canalha do Chico Pinheiro deve ter jogado uma praga em mim. Nunca senti tanto frio, nem quando meu avião caiu no Polo Norte à tarde, à esquerda saindo do elevador, fundos, horário comercial e eu só tinha a Luana Piovani, Emma Watson, Charlize Theron, Jennifer Lawrence, Scarlett Johansson, Kate Winslet, Tilda Swinton e Nicole Kidman para fazer um lanchinho.
Existem desertos de areia, de neve e Barbacena!
Neblina aqui nasce debaixo da minha cama! Água quente vira sorvete! Vento é a quilo! Canja é de pinguim! Tô limpando janela com picareta! Vai tomar no iglu, viu?
Quero ver o Jorge Ben cantar “País Tropical” num chuveiro em Barbacena. Figura de linguagem, tá? Quero ver Jorge Ben pelado em lugar nenhum!
Aqui não tem macho que pule pelado no rio, como fazem aqueles russos loucos no inverno de Moscou.
Por falar em chuveiro, não há viking que aguente tomar banho no inverno de Barbacena.
O sabonete líquido congela. O sabonete normal vira gelo e serve até para aquela propaganda do Chivas no Polo Sul. Quando puxo a toalha, desloco um morro de ventos uivantes. Misericórdia!
Mas o pior, o mais vergonhoso vem agora. Entro no chuveiro, com um tênis de 32cm e ele sai com 3,2cm. Mentira! Eu calço 42.
PS: O calor violento de mil sóis é apenas um retrato na parede, mas como dói!
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Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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