3 de maio de 2024
Colunistas Walter Navarro

A festa é no outro apartamento

Os Asteriscos resolveram fazer uma festa da pesada, para comemorar a Reforma Ortográfica de 2009.
A patuscada estava no auge, quando toca a campainha. O anfitrião vai até a porta, vê um Ponto Final pelo olho mágico e pergunta:

-Quem é? O que você quer aqui?

-Ué, eu quero entrar, vim pra festa.

Pode entrar não, a festa é só pra Asterisco…

-Mas eu sou um Asterisco…

-Não é não…

-Sou sim, abre aí…

-Não é não, estou vendo, você é um Ponto Final…

-Sou não, é que eu passei gel…


Dia 19, morreu o escritor e filósofo francês, Claude Guillon. Ele e Yves Le Bonniec ficaram famosos, em 1982, com o livro “Suicide, mode d’emploi” (Suicídio Modo de Usar), que vendeu mais de 100 mil exemplares antes de ser banido, por motivos óbvios.
Se não me engano, o livro foi lançado no Brasil, em 1985 e logo proibido, por motivos ainda mais óbvios pois, em 1985 o presidente do Brasil era o Sarney, depois das novelas “Diretas Já” e Tancredo Neves.
Claude e Yves explicaram: Nossa obra pretende ser uma contribuição para a definição de uso da miséria na sua própria liquidação. É preciso fazer do suicídio uma arma. Juntamente com Marx, queremos tornar a opressão ainda mais insuportável mediante a consciência da opressão. Contra Marx, brandimos a vergonha que a miséria tem de si própria e que constitui um obstáculo à revolta.
Imaginem se este livro fosse liberado e relançado no Brasil de 2023! Ia vender no mínimo 70 milhões de exemplares.
Na internet ele pode ser encontrado, usado, entre R$ 150 e R$ 200.
Como estudioso do assunto, não defendo o suicídio, mas sou a favor da eutanásia ou da morte assistida, em casos de doenças incuráveis e terminais. Afinal, se não escolhemos nascer, deveríamos escolher como morrer.
Sem fazer apologia disso ou daquilo, a escolha é de cada um e Albert Camus já explicou: “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia”.
Falando em depressão, pelo menos na altitude de Barbacena, com tanta chuva, infelizmente, há dois anos não temos verão. Com os dilúvios, a temperatura despenca e estamos pulando o outono, direto para o inverno que, ultimamente, dura, no mínimo, seis meses.
Mas não vou reclamar. Quanto mais água, melhor. Não precisaremos de carro pipa, como no Nordeste, depois que o terremoto destruiu a transposição do Rio São Francisco.
Assim, se hoje é dia 27, poderia muito bem ser dia 26 ou dia 32 de janeiro. Não faz diferença. Todos os dias são iguais e nada mais faz sentido. Nada mais interessa neste Futuro do Pretérito.
A pergunta da hora é “para quê?”. Para que fazer isso ou deixar de fazer aquilo, em plena saudade do Futuro?
Contudo, nem tudo está perdido. Principalmente porque achei a solução para o que nos aflige desde o 1º de Janeiro de sinistra memória.
Pensem bem, se no Brasil os tomates estão pela hora morte e o mar não está para peixe, como queria Nelson Rodrigues; tem coisa muito pior. Imaginem se morássemos no Afeganistão, Sudão ou na Ucrânia.
“Mundo, mundo, vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo Seria uma rima, não seria uma solução”.
Neste vasto mundo, imaginem se vivêssemos na Ira do Irã, como cantava o Djavan!
Bom, lá pelo menos o povo, corajoso, protesta porque não tem medo, porque tem nada a perder. Desde setembro de 2022, combatendo o autoritarismo; já são 585 mortos, mais de mil feridos e milhares de presos. E no Irã tem execução em praça pública.
No Brasil também podemos esperar milhões nas ruas. O Carnaval está chegando. Quanto riso! Quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão!
Por isso, mesmo o Brasil não sendo uma “batatinha”, boas notícias!
Descobri um antídoto, uma anestesia, um antibiótico, um anal-gésico de alívio imediato e na Netflix, a série belga, “Coiotes”. Nunca vi nada pior e mais ridículo em seis capítulos. Nem em mil filmes brasileiros.
Simplesmente um horror. E vi tudo! Durante quase seis horas, da madrugada até hoje de manhã, esqueci todos os males. Tudo, absolutamente tudo não funciona. Prato cheio para masoquistas adeptos do mote “desgraça pouca é bobagem”, como dizia meu pai.
E tinha que ser belga! Um dia, talvez na próxima, talvez em breve, eu explique a Bélgica, um país muito bizarro, para vocês. Ou não. Podem me cobrar. Ou não.
A série é tão ruim, que nem sei por onde começar: pelos “atores”, roteiro, diálogos, direção; um elogio à estupidez. Para não rir de desespero, durante os capítulos, eu queimava meus pés com um isqueiro.
O melhor do pior é o padre… Padre tarado, o que é um pleonasmo. E pleonasmo belga… Tipo piada de Manoel e Joaquim; estão ligados?
Vou contar só uma cena para seduzir vocês. O padre, que já tinha uma filha fora do casamento com Deus, está na cama, fazendo sexo oral na namorada, a policial, que é horrorosa, como todo o elenco. Até a menina bonita, filha do padre; é apenas razoável. Dá para uma noite.
O padre interrompe o ato libidinoso, sem abandonar a posição libertina, para atender o celular… Como cantaria meu belga favorito, Jacques Brël, a cena é de fazer Deus perder a fé.
Pior, só aquela do filme “Cassino” (1995), de Martin Scorsese, onde uma das mulheres mais lindas do mundo, Sharon Stone, paga um boquete para o Joe Pesci. Pode? Lembram? Fiquei três anos sem almoçar. E jantar. Nunca mais usei canudinho na Coca-Cola.
Recomendo “Coiotes”, severamente, para quem quer descobrir o que é bom para tosse, gripe, lepra ou Covid-19, antes de cometer suicídio. Um deleite! Um primor! E os defeitos especiais?
Daqui a pouco, no aniversário de um amigo, se eu ousar me divertir ou ficar feliz; prometo, ao voltar, “maratonar” a série “Coiotes” de novo.

PS: No Velho Oeste, o vigia do Forte vê, ao longe, milhares de índios gritando e chegando. Rapidamente ele avisa o comandante, que pergunta:

-São amigos?

-Parece que sim, estão todos juntos.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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