29 de março de 2024
Vera Vaia

Ô abre alas, que eu quero passar!


Oba! Carnaval! Alegria, alegria!
Vamos pôr a fantasia, cair na folia e sair cantando alegremente as velhas marchinhas de carnaval pelas ruas. 🎶Maria Sapatão, sapatão, sapatão, de dia é Maria, de noite é João🎶. Epa! Essa não pode! Renata Rodrigues, uma das organizadoras do Bloco Mulheres Rodadas do Rio de Janeiro, considera essa música ofensiva: “se a gente é feminista, não temos como passar ao largo dessas coisas. Se isso está sendo considerado ofensivo, acho que a gente não deve fazer coro”.
Então passemos para outra: 🎶O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor…🎶. Ah, essa também não! A palavra Mulata, que antes servia para classificar o protótipo da mulher brasileira, agora virou uma grande ofensa para alguns, politicamente chatos e corretos. Ouviu isso, Lamartine Babo?
Vou tentar outra: 🎶olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é…🎶. Essa pode, dona Renata? Não, não pode! Os cabeludos ou os homosexuais podem ficar ofendidos.
E em se tratando de ofensas, imaginem o que as  sogras iradas  não diriam da marchinha “A Sogra e o Jacaré”, 🎶trocaram o coração da minha sogra, puseram um coração de jacaré, é, é, é, é, coitado do jacaré…🎶
Organizadores de entidades como o AA, também podem reclamar da marchinha “Cachaça”. Vão ver todo seu trabalho perdido nas ruas quando foliões animados passarem cantando 🎶pode me faltar, tudo na vida: arroz, feijão, e pão, manteiga e até amor, só não quero que me falte, a danada da cachaça🎶
Daqui a pouco os laboratórios vão querer banir a marchinha 🎶A Pipa do Vovô não Sobe Mais🎶, alegando que o Silvio Santos está fazendo uma anti-propaganda da famosa pílula azul.
E se a moda pegar, o Moacir Franco não vai mais poder pedir 🎶Me dá um Dinheiro Aí🎶, porque esmolas não são bem vistas socialmente.
E por aí vai!
Ainda bem que nem todos pensam assim. Rita Fernandes, Presidente da Associação Sebastiana, que representa 11 blocos no Rio, disse em entrevista ao Jornal O Globo, que “a vida fica sem graça se tudo tiver que ser enquadrado, perdendo a leveza e a brincadeira, que são a essência do Carnaval.
É isso aí, Rita! Carnaval é uma grande brincadeira. Quem não gosta, que não entre na dança. Chega de patrulha ideológica!
Eu sou do tempo em que não se dançava na boquinha da garrafa e do tempo em que não se comprava abadás por mil reais, pra poder pular na rua. Sou do tempo em que  carnaval era sinônimo de festa popular, pura e simplesmente. Famílias inteiras iam pras ruas para esperar a passagem dos blocos e nem se importavam em levar uma banho gelado de um spray perfumado, que hoje nem posso mencionar o nome para não parecer apologia às drogas.
Cansei de  tanta chatice! Vou lá pra cozinha, fazer  um delicioso bolo de chocolate com cobertura: o velho e bom Nega Maluca,  que a partir de agora, vamos ter de chamar de Mulher afrodescendente, mentalmente prejudicada
Alguém quer?

Vera Vaia

Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.

author
Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *