19 de abril de 2024
Sylvia Belinky

As feiras livres


Eu tinha 19 anos quando passei a morar sozinha e, desde então, frequento as feiras livres das imediações.
Quando eu era pequena, minha mãe me levava à feira, que era a um quarteirão de casa. Lembro-me de todas as delícias: queijos frescos, curados, manteiga, biscoitos – tudo maravilhoso.
Minha mãe, amiga do dono da barraca, provava várias e eu, toda feliz, ganhava também o meu pedaço – cremoso e com buracos imensos – ao menos, assim me parecia.
Dali, íamos à barraca de verduras preferida, em que, já tinha à minha espera, um saco grande de ervilhas com casca que, até chegar em casa, já tinham acabado, sobrando apenas as cascas. Minha mãe, sempre de regime, comprava verduras e legumes aos montes e só os consumia cozidos em água e sal… eca!
Na barraca de frutas, então, eu me esbaldava.
Na época, todo feirante, e mais ainda aqueles de quem minha mãe era freguesa assídua (e amiga, conhecia os filhos, perguntava da mulher e das dores nas costas…), calavam uma melancia, isto é, cortavam um pequeno triângulo com uma faca muito afiada, mas, antes de fazê-lo, auscultavam-na nela batendo.
Era tão certo esse diagnóstico que diziam: “Se não estiver doce, não leva”! E, na maioria das vezes, ela estava bem vermelha e docinha; que eu me lembre, o mínimo que podíamos levar era meia melancia, nada de pedaços menores!
Às vezes, não eram as melancias verdes e redondas, mas, as listadas e compridas; nessas, o segredo era estarem bem rosadas por dentro.
Claro que, nesse passeio, minha mãe, além dos amigos feirantes, também encontrava conhecidos e, como essa feira era ao lado da minha escola – uma feira de vários quarteirões – eu também encontrava colegas de escola com suas mães, já que fazer feira à época, era quase uma instituição!
Para não deixar morrer esse costume que, mais dia, menos dia, deixará de existir, como a que fica a dois quarteirões da minha casa e que, há dez anos, quando cheguei no bairro, tinha cinco quarteirões e hoje está reduzida a um…
Vou até lá, vejo “os meus amigos”, damos risada, contamos causos, comentamos as notícias e reclamamos do excesso de sol ou de chuva, ambos desculpa para um pequeno aumento de preço. Saio de lá com uma sacola cheia de verduras, legumes, bananas, etc, com a sensação de ter, de fato, visitado bons amigos.
Hoje, a ideia de feira livre é de que atrapalha o trânsito, a saída e entrada das pessoas em suas casas, em frente às quais as barracas são montadas, do barulho às 4 da manhã, a maioria delas esperando que sumam, que acabem – que não tenha mais feira ali – “Você gosta porque não é na sua porta”!
Fica difícil de explicar que não é bem isso…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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