Há histórias engraçadas que acontecem com a gente e que, quando vêm à cabeça, é porque algum “implicado”, parte integrante do “caso”, reapareceu, ou porque o fato é tão incrível que vale a pena ser contado, ainda que vá parecer mentira – e aí, todos terão que assumir que você tem, de fato, uma imaginação fora do comum!
Nos idos de 1973, namorando meu primeiro marido, em um final de semana prolongado fomos para o Guarujá ficar no apartamento dos pais de um casal amigo dele que eu acabara de conhecer. Meu ex-marido tinha uma lancha por lá e fomos passear, num dia bonito e bastante divertido.
À noite, jogando conversa fora, de repente a moça, que se chamava Eliane, claramente uma carioca pelo sotaque pronunciado, conta uma história a respeito da família dela, toda do Rio de Janeiro. Contou, inclusive de uma tia Esther, que lhe era especialmente cara pois tinha tido uma vida muito difícil; casou cedo com um crápula e seu casamento acabou em menos de um ano… uma tristeza!
Se alguém me perguntar o porquê de eu lhe ter perguntado se ela sabia o nome do ex-marido da tia Esther, nunca vou saber responder; mas ela me respondeu imediatamente: “Sei sim, é Abram Belinky”! E eu, para ela, na maior calma: “Mas, é o meu pai!..” E ela, mais que depressa: “NÃO É!” e eu: “É sim, esse é o nome do meu pai e ele foi casado com uma Esther antes da minha mãe, e ela era carioca!”. Ela, gaguejando, sem fôlego, vermelha como um pimentão: “Não, ele não FOI!!”
Bom, tinha sido sim. Eu conhecia a história e a pobre Eliane não conseguiu continuar a conversa de tão vexada que ficou! O marido dela levou na esportiva, eu também e meu ex ficou sem entender nada…
A parte mais engraçada foi convidá-los para o meu noivado: a Eliane não queria ir de jeito algum, em especial por ser na casa do crápula, digo, de meu pai! Eu insisti e meu pai, um sujeito bem humorado e divertido, deu muita risada ao conhecê-la, dizendo: “E pensar que você teria sido minha sobrinha!”, e todos demos muita risada da tremenda coincidência!
Agora, mais de meio século depois, continuo amiga deles, gente da melhor qualidade, amigos de verdade – e nós três nos divorciamos de meu primeiro marido!
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!