28 de março de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

“Criança diz cada Uma”

Encontrei em meus guardados algumas “falas” de meu filho quando pequeno; isso porque eu ia anotando e guardando as que eram “especiais”, ou seja, muito bonitinhas ou engraçadas.
Aliás, nessa época, havia um médico, Dr. Pedro Bloch, que era pediatra e um SÁBIO: tirava das crianças explicações e falas completamente espetaculares! Era consultor de revistas femininas, um “bamba” absoluto, tendo lançado algumas coletâneas dessas falas geniais em vários livros que tiveram continuação e que se chamavam, bem a propósito, “Criança diz cada uma”.

Fonte: Google Imagens – SlideShare

Fui em busca delas no maior sebo que conheço – que perdeu muito dos encantos, se sofisticou e tomou ares de grande livraria… Desde sempre, curto livros usados e, quando estudei na São Francisco, andava pelas ruas do entorno “garimpando”. Sim, nenhuma outra expressão melhor para encontrar, em meio a alfarrábios e livros de direito, contabilidade (eca!)  livros com marcas do tempo, amarelados, porém inteiros, com segredos escancarados para quem tivesse olhos de ver, como escreveu uma vez a Tatiana, minha tia…
Achei alguns exemplares mas, seus preços variavam de R$ 150,00 (o mais barato) a R$ 400,00 e, ainda que eu saiba a preciosidade que encerram, são livrinhos em papel jornal, pequenos, com 177 páginas, brochura muito simples, de 1972, nada que justifique esse preço abusivo…
Volto às falinhas de meu filho que, amanhã completa 31 anos: a década dos 30, que década ABENÇOADA!
Relato aqui algumas delas, essa primeira foi de novembro de 1992, ou seja, quando ele tinha três anos e meio:
– Mamãe, o Peter Pan é mais forte do que o Capitão Gancho?
– Não, filhote… Ele é mais esperto. Peter Pan é um menino e o Capitão Gancho é gente grande.
Pensa um pouco e volta:
– Mamãe, como se chama a mãe do Peter Pan?
– Ele não tem mãe, filhote.
– E o papai dele como se chama?
– Ele também não tem pai, baixinho.
Absolutamente penalizado com o “pobre” Peter Pan, tenta a última cartada:
– Mas babá ele tem, né, mamãe?
Desta mesma época, vem a enquete;
– Mamãe, você gosta do Sólon?
– Filhote, eu nem conheço o Sólon…
– Mas mamãe, é o guarda da rua do Tonico (um ótimo amiguinho, mais “manso” que ele).
– Ah! Agora sei quem é, mas eu nunca falei com ele…
– Mas mamãe, ele é muito bonzinho! Ele dá dinheiro pra Angelita (a babá).
Quero crer que qualquer pessoa que estiver lendo esta, deve imaginar o susto que levei e tudo que me passou pela cabeça em um relance: “Caramba! E agora? O que vou fazer? Que história é essa?! Como eu vou perguntar pra ela?”
Em seguida, vem a explicação do mistério:
– Quando eu crescer, mamãe, eu também vou jogar no bicho…
*****
E agora uma outra história quando ele já era bem mais velho:
Na saída do judô, ao entardecer, pouco antes do jantar, meu filho, então com 9 anos, pede dinheiro para o sorvete. Quando vou dar, vem o convite:
– Tome um você também, mamãe!
Respondo que não posso, estou muito gordinha. Ele retruca que não, de jeito nenhum. Sabe o quê? Hoje, o professor estava ensinando o que era censo e me perguntou:
– Você, por exemplo, quantas pessoas tem em casa? E quantos anos elas têm? Sua mãe, por exemplo, quantos anos tem?
– Eu disse para ele adivinhar e ele disse: 35 anos. Viu, só, mamãe? Ele pensa que você é mais nova do que ele! E eu não disse quantos anos você tem (à época eu tinha 50 recém-feitos). Viu como eu disse que você está super bem?!
Escusado dizer que tomei um dos melhores sorvetes da minha vida em excelente companhia e sem culpa alguma!

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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