Depois de ler uma entrevista com a monja Cohen, fiquei cismando. Ela diz coisas com imensa propriedade, faz ponderações daquele tipo que a gente que poderia ter escrito ou dito, tão bem que soam suas palavras!
Só uma coisa me pareceu muito difícil: ela diz que não devemos nos sentir como se tudo estivesse bem. Diante de tantas coisas que tenho lido e visto no Whatsapp, penso que devemos ficar felizes com coisas que para nós parecem banais como: ter o que comer, onde morar, uma pia com água e sabão para lavar as mãos… E, até mesmo, por coisas impensáveis como termos um marido que não nos agride, um pai que não enche a cara, filhos que não “surrupiem” nossa aposentadoria…
Pelo que temos lido a respeito desse vírus, é claro que tudo está de ruim para pior: ainda vamos ouvir a respeito de muita gente de quem gostamos dando entrada no hospital – se tiverem sorte – e se esse alguém for do grupo de risco, a coisa pode se complicar e poderemos não mais revê-lo…
Ouvi também outra entrevista de um médico especialista em gerontologia, ele mesmo do grupo de risco, uma sumidade em termos de conhecimento e de didática para passá-los adiante – Alexandre Kalache- que mencionou, num programa em que falava dos idosos, que todos eles passaram a ser execrados e a ser alvo do ódio de todos porque é lei que sejam privilegiados e passem na frente nas filas em geral – e dos bancos em particular – têm que ser levados para toda a parte e deem muito trabalho…
Como representante da terceira idade que sou, do grupo de risco, até o momento, tenho me sentido privilegiada porque paparicada pelos amigos, alvo de todo tipo de gentileza quer seja no banco ou no ônibus por parte de pessoas estranhas, inclusive sem pedir nada…
Não sou expert em computação, mas consigo me virar perfeitamente; posso entabular conversações com jovens sobre os mais variados assuntos sem me sentir deslocada, bater papo com pessoas mais velhas, inclusive se estiverem “batendo pino”, como se dizia no século passado de pessoas que pareciam estar delirando ou se confundindo, dizendo coisas sem sentido mas perfeitamente aceitáveis com um tanto de “faz-de-conta”, sempre tão útil…
Existe um ditado em inglês que recomenda: “Count your blessings”, ou, em tradução livre, “Leve em conta as coisas boas em sua vida”. Num momento como este, olhar com olhos de realmente ver e valorizar é um exercício de gratidão – palavra tão desgastada em mensagens banais de um Whatsapp da vida…
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!