8 de maio de 2024
Cinema

Gente Ansiosa / Folk med ångest

De: Felix Herngren, Suécia, 2021

Nota: ★★★★

(Disponível na Nefflix em 6/2023.)

O título, Gente Ansiosa, não é nada atraente. E, no primeiro dos seis episódios curtinhos desta série sueca de 2021, um dos personagens centrais, um jovem policial de uma cidade do interior, se atrapalha tanto diante de uma de tentativa de assalto a banco, e faz tanta bobagem, que por um momento o espectador pode ter a sensação de que está diante de uma comédia boba.

Não é uma comédia, e não é nada, nada, nada boba a série Gente Ansiosa. Muitíssimo ao contrário. É uma gema, uma pequena jóia rara. Ao final do sexto episódio, dá aquela sensação que tem sido cada vez mais rara de que talvez, afinal de contas, no fundo, ao fim e ao cabo, a humanidade não seja uma invenção que deu errado.

Não dá para saber, é claro, se os realizadores da série viram os filmes dele, se se inspiraram um tanto nele, mas há um gosto de Frank Capra nesta série sueca. Como os filmes do cineasta que era humanismo puro, a série acredita que a maior parte das pessoas é basicamente boa.

Há muito mais filmes e séries sobre bandidos, gângsteres, mafiosos, assassinos de aluguel, serial killers, ladrões, golpistas – e sobre super-homens, super-heróis de quadrinhos – do que sobre seres humanos comuns, “normais”, gente como a gente, muito embora em sua imensa maior parte as pessoas sejam comuns, normais, gente como a gente – e basicamente boas.

Gente Ansiosa, felizmente, preciosamente, vai na contramão da maioria dos filmes e/ou séries.

E é cinema de qualidade. É tudo extremamente bem realizado.

Uma fantástica surpresa.

Uma tentativa de assalto a banco que dá errado

ento fazer uma sinopse curta e ao mesmo tempo abrangente, o que é sempre um duro desafio para mim. (Capacidade de síntese é um dom que infelizmente não tenho.)

Uma cidade sueca a duas horas de carro de Estocolmo, época das festas de fim de ano. Um apartamento colocado à venda está aberto à visitação. Perto dali, uma pessoa com o rosto tampado por um capuz, armada com revólver, tenta assaltar um banco. Quando a caixa diz que o banco não tem dinheiro, o assaltante se atrapalha. Um policial que estava cortando o cabelo ali perto é avisado sobre a tentativa de assalto. O assaltante foge e entra no prédio do apartamento à venda. Logo está diante de um grupo de pessoas que visita o imóvel, revólver apontado.

Os policiais da delegacia da região – o rapaz que estava cortando o cabelo e seu pai – se mostram completamente despreparados para enfrentar aquela situação raríssima ali, de um assaltante de banco que faz um grupo de reféns em apartamento.

Uma beleza de abertura: um suicida e uma criança

entativa de sinopse concluída, relato, do meu jeito nada sintético, muito antes ao contrário, o começo da minissérie.

A primeira sequência mostra um homem jovem fazendo sua corrida, em longa ponte sobre um amplo rio ou então um braço de mar – não dá para saber ao certo, e em nenhum momento será dito o nome daquela cidade. O que logo veremos é que esse jovem é Jack (Alfred Svensson), um policial.

Jack pára no meio da ponte para dar uma rápida descansada. A paisagem é linda. Ele passa a mão pelas grades laterais da ponte – e aí há uma daquelas coisas de que só o cinema é capaz. Corta, e uma mão está passando pelas mesmas grades da mesma ponte. A mão é de um garoto de uns 10, 11 anos – a mesma pessoa, aquele mesmo Jack, mais de uma década antes.

Uma tomada do garoto Jack caminhando permite que o espectador veja que a ponte é longa mas estreita, feita apenas para pedestres e ciclistas. E é altíssima, seguramente para permitir a passagem de navios por baixo dela.

Um homem de terno parou a bicicleta a uns 30, 20 metros de onde está o garotinho, que vinha caminhando, passando a mão nas grades da ponte, ouvindo música com fones de ouvido. O homem (o papel de Hjalle Möller) coloca pedras em uma mochila, põe a mochila nas costas e avança sobre a grade, passa as duas pernas para o lado de fora. O garotinho começa a correr até ele:

– “Ei, ei, espere! O que você vai fazer? Você não vai pular, né?”

Close-up do homem, close-up do garoto (Jack aos 11 anos é feito pelo garoto Hugo Gummesson).

Jack se mostra inteligente, esperto: – “O meu nome é Jack. E você? Meu pai, Jim, é policial. Se você tiver algum problema, pode falar com ele. Tenho o telefone dele.”

O homem tira do bolso do paletó um envelope azul, e o estende para Jack: – “Pode entregar isso no banco?”

Os dois atores, o homem maduro e a criança, que só vão aparecer nesta sequência de abertura, dão um show de interpretação, naquele estilo escandinavo que dá até um pouco de raiva ciumenta.

Jack, inteligente, esperto, pegando o envelope, em close-up: – “Se você prometer não pular”.

Close-up do rosto do homem, assentindo. Close-up de Jack, assentindo também, tipo “então está combinado”. O garoto se vira um pouco para guardar o envelope no bolso. O homem pula.

Um plano geral, amplo, aberto, mostra quase todo o imenso vão da ponte, um pontinho pequeno em cima dela – o garoto Jack, berrando “Nããão” – e o vulto do homem caindo.

Corta, close-up do Jack jovem adulto, no mesmo lugar de onde viu o homem se matar. Ele ainda está ofegante da corrida. Olha o relógio, retoma o exercício.

Tomada ampla, aberta, uma vista geral da cidade. Surge o título na tela, Folk med ångest. Anxious People, nos países de língua inglesa. Gente Ansiosa, exatamente a mesma grafia, mas claro que com som diferente, no Brasil, em Portugal, na Argentina, no México.

Dei uma checada: o plano geral com o título da série surge na tela quando estamos com 2 minutos e 17 segundos.

Meu, que abertura!

Pai e filho são policiais; a filha é viciada em drogas

Não há créditos iniciais – apenas o título da série, mais nada. Na sequência seguinte ficamos conhecendo Jim, o veterano policial pai de Jack (o papel de Dan Ekborg).

Os dois homens moram sozinhos – a mulher de Jim já faleceu. A outra filha de Jim, Jill, deixou a casa e mudou-se para Estocolmo algum tempo antes daquele momento mostrado na série. Veremos que Jill é viciada em drogas, para imensa tristeza do pai. Jack, o irmão, demonstra não ter mais paciência com ela, acha que é caso perdido.

A sequência em que os dois policiais, pai e filho, conversam em casa dura pouco. Quando estamos com 4 minutos de filme, uma mulher se aproxima de um prédio de apartamentos diante do qual há, na calçada, um cartaz informando “Aberto à visitação”. Mais adiante, o espectador verá que essa mulher se chama Zarah (o papel de Anna Granath), e é gerente do banco.

Ela pára no hall do prédio, olha para o quadro com os nomes dos moradores, consulta uma agenda – e dá para perceber, embora a tomada não seja longa, e não haja um close-up específico, que na agenda dela há um envelope azul.

As duas pessoas mostradas a seguir, caminhando em direção ao prédio em que há um apartamento “aberto à visitação”, são uma moça grávida de muitos meses, com a barriga imensa, e uma outra moça. Veremos que são um casal: a grávida é Julia (Carla Sehn) e sua mulher é Ro (Petrina Solange, as duas na foto acima).

A chegada das duas é observada por um casal já idoso, que está dentro de um carro estacionado a alguns metros do prédio. O homem fala um palavrão e diz que aquela jovem “vai estragar tudo”, porque “as grávidas são irracionais” A mulher tenta acalmá-lo; – “É só seguirmos o plano e tudo vai ficar bem”, diz ela.

São Anna-Lena e Roger (os papéis de Marika Lagercrantz e Leif Andrée), e o casal – que está junto há dezenas e dezenas de anos – se dedica a uma atividade pouco usual. Eles costumam comprar imóveis, em geral por preços abaixo dos de mercado – Roger se considera um mestre em usar artimanhas e argumentos para fazer o corretor e o vendedor baixarem a quantia inicialmente pedida –, para em seguida reformá-los e vender com grande margem de lucro.

Quando Zarah, a gerente do banco, entra no apartamento que está à venda, pouco antes de Julia e Ro, já está lá uma senhora idosa, Estelle (Lottie Ejebrant). Ela pergunta à mais jovem se ela veio sozinha, e comenta que é um apartamento um tanto grande para uma pessoa só. Um pouco depois, perguntada se ela mesma estava sozinha, Estelle diz que o marido está estacionando o carro.

Há aí – estamos com 5min25 – um corte, deixa-se de lado o apartamento aberto à visitação, e vemos uma pessoa encapuzada caminhando rapidamente pela rua.

Novo corte, e estamos agora com uma terceira ação paralela: o policial Jack está cortando o cabelo no salão de Milou (Shima Niavarani). Os dois conversam, e dá para ver que são velhos conhecidos. Milou comenta que está contente por saber que Jill virá se encontrar com o irmão e com o pai para passarem juntos o Ano Novo. Jack se espanta: não sabia disso. Milou pede desculpas, diz que não deveria ter comentado, que soubera da vinda da moça por Jim, o pai.

Jack fica nervoso, e de repente se levanta da cadeira para ir conversar com o pai. Tem certeza de que Jill mais uma vez dará o cano, e usará o dinheiro enviado pelo pai para a passagem de trem para comprar droga.

O detalhe é que Jack está uma figura mais do que ridícula, com metade do cabelo bem grande, ainda não cortado, à sua esquerda, e com o cabelo do lado direito da cabeça preso com um grande grampo. Usa um bigodinho, e tem os dentes superiores dianteiros apontados para a frente.

Parece uma figura de comédia pastelão.

O assaltante entra no banco. Mostra um papel: “Me dê 6.500”. Linda, a caixa, uma senhora idosa (o papel de Elina Du Rietz), apavorada diante do revólver apontado para ela, diz que o banco não tem dinheiro – e aponta para um aviso que diz algo como “banco sem dinheiro vivo”).

O medo aumenta seu tom de voz, enquanto ela fala sem dinheiro em sueco, e em seguida “no money”, “no diñero” – o assaltante poderia ser um estrangeiro.

Policial pai e policial filho vão caminhando pela calçada discutindo sobre Jill – e passam diante do banco. Linda os vê, e, já começando a chorar, diz para o assaltante: – “Não tenho dinheiro! Por favor, não quero morrer!”

A cabeleireira Milou tinha saído para a calçada. Observa Jim e Jack se afastando pela calçada, repara que uma pessoa toda de negro sai correndo do banco, e grita: – “Jack, Jim, um assalto!”

O assaltante, ao fugir, encaminha-se exatamente na direção dos dois policiais, que estão logo na virada da esquina. Vê os dois, e sai em disparada. Atrás dele seguem os policiais Jim e Jack, mais a cabeleireira Milou e uns dois curiosos.

Os policiais são parados na calçada diante do banco exatamente por Linda, a caixa: – “Socorro! Fui assaltada! Ele apontou a arma para a minha cabeça!”

Por ironia, a caixa do banco, ao parar Jim e Jack, dá um tempo precioso para que o assaltante ganhe uma boa vantagem na corrida.

O assaltante vê a porta de um prédio aberta – o prédio do apartamento à venda – e entra.

Daí a pouquinho o assaltante está com a arma dentro daquele apartamento. As pessoas lá dentro se consideram reféns, e deitam no chão.

Estamos, neste momento, com 10 minutos do primeiro episódio da série, que tem 34.

As oito pessoas feitas reféns não revelam tudo para a polícia

Revi agora esses primeiros 10 minutos; revi indo e voltando, para fazer esse relato. É uma mania que tenho, querer relatar detalhadamente em palavras o que acontece nas imagens em movimento na tela, as moving pictures, ou simplesmente movies. Cinema, do grego kinema, movimento. Mania mais besta – reduzir para palavras o que é mostrado em imagens em movimento, em kinema. Mas, diante de imagens em movimento especialmente belas, bem encenadas, bem construídas, não consigo me deter: faço relatos longos, detalhados.

Depois desses impressionantes 10 primeiros minutos, os dois policiais, Jack e Jim, fazem tanta bobagem, tanta trapalhada, tanta bobagem, que – repito o que disse lá no começo – o espectador pode ficar achando que está diante de uma tola comédia sobre policiais trapalhões.

Ajuda muito para isso a figura física de Alfred Svensson, o ator que faz o jovem Jack. De fato, aquela figura grotesca, com o cabelo cortado só pela metade, parece saída de uma comédia pastelão do cinema mudo, ou de um episódio (ruim) dos Trapalhões na TV, da Escolinha do Professor Raimundo.

A figura grotesca de Jack distrai um tanto o espectador do fato que parece ser o central: aquele destacamento policial de cidade interiorana (além de Jim e Jack, há uma moça, Cecília, o papel de Anna Månsson) não está, de forma alguma, treinado, preparado para enfrentar um caso de tentativa de assalto a mão armada seguido de um sequestro com vários reféns.

Uma outra série sueca, também de 2021, que a rigor não tem nada a ver com essa, Assassinato do Primeiro-Ministro, baseado no atentado a Olof Palme quando ele saía de um cinema no centro de Estocolmo, em 1986, deixou patente que a polícia sueca não é especialmente bem preparada – isso para dizer as coisas de uma maneira bem doce. Talvez porque as taxas de criminalidade no país são baixas, talvez porque o número de casos de crimes violentos é pequeno, o fato é que os policiais suecos não parecem ter o treinamento, digamos, do pessoas do Departamento de Polícia de Nova York, ou Los Angeles, ou Chicago…

Numa pacata cidade do interior, então…

Bem. O fato é que, contra a vontade do pai, Jack liga para a polícia de Estocolmo e pede ajuda.

A equipe tipo SWAT demora algum tempo para chegar à cidade. Durante aquele tempo, o assaltante armado e as várias pessoas feitas reféns, todos com fome, haviam pedido aos policiais que levassem pizzas para eles – e Jim foi até lá pessoalmente levando oito pizzas.

Já de noite, os reféns são soltos, saem do prédio. Só depois chega a equipe de tropa de choque tipo SWAT – e aí entra no prédio com aqueles gritos típicos de SWAT que a gente vê nos filmes americanos, para prender o bandido.

Só que… Não encontra nada.

Quando o primeiro dos seis episódios de Gente Ansiosa se aproxima do fim, os policiais de Estocolmo já voltaram para a capital, deixando claro que Jack e Jim haviam feito um trabalho de amadores incompetentes.

As pessoas que estavam no apartamento invadido pelo assaltante – oito no total – não apresentam queixa por terem sido dominadas como reféns por criminoso armado. O banco igualmente não apresenta queixa – afinal, a rigor não havia sofrido nenhuma perda.

A rigor, a rigor, portanto, não tinha havido crime. É a forma com que o veterano Jim vê os acontecimentos.

Mas o jovem Jack está com o orgulho profissional ferido, o amor próprio traído, a auto-estima lá embaixo. Quer porque quer esclarecer os fatos, saber tudo o que aconteceu dentro daquele apartamento, e como o assaltante conseguiu fugir sem deixar qualquer rastro – sendo que ele, o pai e a colega policial estavam cercando todas as saídas do prédio.

Ainda no primeiro dos seis episódios, Jack começa a chamar para depor, uma por uma, as pessoas que estavam no apartamento.

E aí, mais uma vez, a série Folk med ångest agracia o espectador com recursos narrativos, dramáticos, de que só o cinema – e nenhuma das seis artes que vieram antes dele – é capaz.

Vamos vendo na tela, uma a uma, as vítimas do sequestro, ou no mínimo, as testemunhas da invasão de um apartamento por um assaltante armado, dando seus depoimentos ao policial – enquanto, ao mesmo tempo, vemos os acontecimentos tais como eles de fato se deram, dentro do apartamento.

As pessoas estão obviamente deixando de contar ao policial tudo o que aconteceu – mas tudo está sendo mostrado na tela, clarissimamente, para os espectadores.

Uma beleza de sacada dos realizadores.

Os mesmos fatos, narrados por diferentes pessoas

Ao final do primeiro episódio, eu, que tinha ficado bastante incomodado com o que me pareceu serem sequências bobas de comédia pastelão ruim, e chegara a pensar em desistir, estava doidinho para ver os demais episódios.

Diabo: parece que cada pessoa tem seus motivos para não contar tudo o que aconteceu para a polícia! Mas como assim? Por quê?

Tudo indica que vamos ter, a partir do episódio 2, outros depoimentos para Jack, e com flashbacks que mostram o que de fato aconteceu, com trechos de eventos, diálogos que as pessoas se recusam a contar!

Uau, que bela trama, meu!

E há aí também uma coisa formal magnífica, sensacional, outra dessas coisas de que só o cinema é capaz – que a literatura, por melhor que seja, ou o teatro, não conseguem fazer de forma alguma.

É algo que faz meus instintos cinéfilos vibrarem tanto quanto os belos, longos planos-sequências.

São as sequências mostradas de acordo com diferentes visões.

Os mesmos fatos, os mesmos movimentos dos personagens, são vistos de diferentes perspectivas. Cada uma mostrando a visão de uma testemunha daqueles eventos.

Por exemplo, a chegada do casal Julia e Ro à praça em que fica o prédio de apartamentos. Nós vemos os movimentos das duas mulheres primeiro de uma forma isenta, como se vista pelo narrador da história, o narrador em terceira pessoa, que sabe de tudo mas não se manifesta. Depois os vemos através dos olhos do casal Anna-Lena e Roger, parados ali em seu carro.

As cenas que se passaram dentro do apartamento – a gente vai vendo os mesmos fatos, os mesmos diálogos, de acordo com a visão de um, depois de outro.

É absolutamente genial.

Mais genial que isso, que todo o maravilhoso artesanato, todos os quesitos técnicos preenchidos com qualidade máxima, só o sentido da história.

O que a história quer dizer. O sentido da coisa. Aquilo que tentei definir na abertura deste texto que está ficando grande demais, até para os meus padrões.

Mas falar mais sobre isso seria um perigoso caminho até o spoiler – e, diabo, eu relato o que acontece nas tramas, mas só o que acontece no início. Spoiler não é comigo. (E, quando de todo não tem jeito, aviso, chamo a atenção para o fato de que adiante vai spoiler.)

A série se baseia em livro do fenômeno Fredrik Backman

Vimos a série sem conhecer uma única das pessoas cujos nomes estão nos créditos finais. Atores, autores, diretor – eu não conhecia nenhum deles.

Foi só depois de escrever aqueles primeiros parágrafos lá em cima que comecei a fazer uma pesquisinha, ainda que rápida, e fiquei sabendo que a minissérie é a adaptação de um romance de autoria de Fredrik Backman.

Quem mesmo?

Pois é. O ignorante aqui jamais tinha ouvido falar em Fredrik Backman.

Meu, o cara é um garoto. Nasceu no ano em que minha filha terminou o pré e foi escolhida para ler o pequeno discurso na cerimônia de formatura – 1981. Um ano antes de Ingmar Bergman lançar Fanny e Alexander. Apenas dez anos antes de, pertinho da Suécia, desabar, como um castelo de cartas, o Império Soviético. Apenas cinco antes de um desconhecido matar a tiros no centro de Estocolmo o primeiro-ministro social-democrata Olof Palme.

Fredrik Backman trabalhou em um jornal da cidade em que foi criado, Helsingborg, depois para uma revista masculina, e tinha apenas 31 anos em 2012, quando lançou seu primeiro romance, En man som heter Ove, Um Homem Chamado Ove. Foi um imenso e imediato sucesso na Suécia, e logo teve traduções em várias línguas, inclusive o Português – a Editora Rocco lançou o livro no Brasil, assim como lançou outros livros do autor, inclusive Gente Ansiosa.

Um Homem Chamado Ove foi filmado em 2015, apenas três anos após ser lançado, com direção de Hannes Holm; a produção sueca (que ainda não vi) obteve 16 prêmios e 29 indicações, inclusive duas ao Oscar, nas categorias de melhor filme estrangeiro e melhor maquilagem e cabelo.

Os americanos refilmaram a história, trocando o nome do protagonista; A Man Called Otto, no Brasil O Pior Vizinho do Mundo, de 2022, teve direção de Marc Forster e foi estrelado por Tom Hanks.

Além das duas versões de Um Homem Chamado Ove e desta série Gente Ansiosa aqui, dois outros livros do jovem autor tiveram adaptações para as telas: Britt Marie Var Här, filme de 2019, e Beartown, minissérie de TV de 2020.

Em suma: Fredrik Backman é um imenso, fantástico sucesso.

Eu não conhecia nenhum dos atores desse elenco vasto, nem o diretor Felix Herngren – uma indicação de que ando vendo poucos filmes e/ou séries suecas.

Felix Herngren é bem mais vivido do que o romancista Fredrik Backman. Nascido em 1967, era portanto um garoto de nove anos de idade quando o Brasil de Garrinchas e Pelé derrotou a Seleção Sueca na sua cidade natal na final da Copa do Mundo de 1958. Trabalhou como ator em 28 filmes, e como diretor tem 21 títulos na filmografia. Assinou ainda os roteiros de 17 títulos.

Demonstra grande talento.

Gente Ansiosa é uma obra extraordinária. Um bálsamo. Um belíssimo antídoto contra a descrença, a desesperança.

Anotação em 6/2023

Gente Ansiosa/Folk med ångest

De Felix Herngren, Suécia, 2021

Com Alfred Svensson (Jack, o jovem policial),

Dan Ekborg (Jim, o policial veterano, pai de Jack),

e (dentro do aparrtamento) Marika Lagercrantz (Anna-Lena), Leif Andrée (Roger, o marido de Anna-Lena), Lottie Ejebrant (Estelle, a senhora mais idosa), Per Andersson (Lennart, o ator, o Coelho), Anna Granath (Zarah, a gerente do banco), Carla Sehn (Julia, a grávida), Petrina Solange (Ro, a mulher de Julia), Sofia Ledarp (Maria, a corretora), Sascha Zacharias (Liv, a mãe das garotinhas),

Shima Niavarani (Milou, a cabeleireira), Anna Månsson (Cecilia, a policial), Hugo Gummesson (Jack garoto), Elina Du Rietz (Linda), Rafael Edholm (Bosse), Iris Herngren (Flickan), Marie Agerhäll (Alice), Hjalle Möller (o suicida da ponte)

Roteiro Camilla Ahlgren, Alex Haridi

Baseado em livro de Fredrik Backman

Fotografia Viktor Davidsson

Música Adam Nordén

Montagem Henrik Källberg

Casting Lina Friberg, Hedda Larsson

Desenho de produção Bengt Fröderberg

Figurinos Madeleine Thor

Produção Anna Carlsten, FLX, Salomonsson.

Cor, 171 min (2h51)

Fonte: 50 anos de filmes

Sergio Vaz

Jornalista, ex-diretor-executivo do Jornal Estado de São Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.

Jornalista, ex-diretor-executivo do Jornal Estado de São Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.

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