19 de maio de 2024
Colunistas Vera Vaia

Madonna Mia!

Se minha nonna tivesse assistido ao show da Madonna nas areias de Copacabana, certamente teria usado essa expressão de espanto com o que estava vendo: Madonna Mia!!!

Minha nonna já morreu faz tempo, mas o termo traduzido para o português, como minha Nossa Senhora, ainda tá correndo solto na  boca de muita gente que se indignou com a pouca roupa da cantora, com os beijos trocados com homens e mulheres durante a apresentação e com os apelos sexuais contidos nas coreografias muito bem ensaiadas.

Muito ain, que pernica de parmito tem essa Madonna, ain, ela não tá cantando é nada, tá só dublando, ain por que ela tem de se vestir com as cores do meu partido (tô falando do povo que adotou o verde-amarelo como se fosse exclusividade de quem “combate o comunismo”), ain, gente, que pouca vergonha aqueles ou aquelas bailarinas com as teta de fora, ain, que horror a Globo passar um programa desses na tevê aberta, não sabe que tem criança assistindo? Fora os palavrões postados no XTwitter por essa gente do bem sobre a pessoa que confessou ter se ajoelhado perante os poderosos que poderiam lhe proporcionar um lugar ao sol em troca de alguns favores orais.

A essa gente aí, pergunto: não tem controle remoto em casa pra mudar de canal? É tão simples apertar um botão. Não tá gostando, coloca na Record para ficar por dentro das fake news da semana, ou, melhor ainda, na Rede Vida, e aí aproveita pra rezar um terço.

Curioso que não vi nas redes sociais essa indignação com o pastor que culpa as criancinhas que foram estupradas por pedófilos, nem com aquele outro que beijou a boca da filha “pra ser o primeiro homem a beijá-la”.

Não ter gostado da apresentação é um direito de todos. Nem todo mundo gosta desse estilo de música ou mesmo da cantora, mas apelar para o falso moralismo enche um pouco o saco.

O fato é que o show agradou em cheio aos 1.601.000.000 de espectadores presentes que se deliciaram com as 25 canções apresentadas, com as coreografias e com o figurino, nada convencional, trocado pelo menos 10 vezes durante a exibição.

Desses, um milhão e seiscentos mil cantaram e dançaram espalhados pelo calçadão e pelas areias de Copacabana. A outra foi a espectadora frenética que assistiu direto da cobertura onde mora: Narcisa Tamborindeguy recebeu a high society carioca para um rega-bofe de primeira em seu cafofo. Com direito a megafone e tudo, Narcisa quase cai das alturas para declarar sua paixão por Anita, no momento da sua rápida aparição no palco.

Aliás, Anita foi muita aclamada pelo grande público, apesar de não ter cantado, assim como a Pablo Vitar, que carregou Madonna no colo.

Deixando as redes sociais de lado, agora entra aqui a pitaqueira de plantão: Euzinha!

Confesso que, lendo as notas que chegavam durante a semana, fiquei um tanto o quanto decepcionada com a diva.

Assumindo esse papel ao pé da letra, ela começou a reclamar do barulho dos fãs que ficavam plantados em frente ao Copacabana Palace à espera de um tchauzinho na janela, da futriqueira vizinha Narcisa, que acompanhava seus passos à beira da piscina particular da suíte presidencial, a ponto de pedir um tapume para não ser vista, e a reclamar do calor.

Ora veja! Como alguém que escolhe o Rio 40 graus pra se instalar pode reclamar do calor? Nesse momento, a comparei com o divo (pra mim é) Paul McCartney, que fez sua tournée pelo Brasil sem nenhum salto alto. Pelo contrário. Em São Paulo abriu a janela do carro e acenou para as pessoas que aguardavam o show perto do estádio e, em Curitiba, foi cortar o cabelo no salão da até então desconhecida Marly, ao lado do hotel em que se hospedava.

Mas vá lá, cada um é cada um. Tem artista que pede quinhentas toalhas brancas no camarim, sabe-se lá por quê.

Madonna não faz muito meu estilo musical, mas gostei do show, do jogo de luzes, dos efeitos especiais (até agora não entendi como tudo de repente ficou em preto e branco. Achei que tinha dado tilt na minha tevê), fiquei impressionada  com a energia dessa mocinha de 65 anos, que se contorceu no palco em coreografias acrobáticas. Enfim, Madonna disse a que veio e mais agradou do que desagradou!

Vai deixar saudades para o grande público que se deslocou até o Rio de Janeiro para vê-la de perto e para o incontável número de fãs que a assistiram pela televisão.

Para os moralistas vai deixar que fiquem roendo azunha dos pé de indignação, para o resto de suas vidas.

Vera Vaia

Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.

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Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.

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