De: Martin Scorsese, EUA, 2023
(Disponível na Apple TV em 12/2024.)
Assassinos da Lua das Flores, o Martin Scorsese safra 2023, é uma beleza de filme. Forte, poderoso, um gigantesco painel, um grande épico. É um dos melhores filmes que já foram feitos sobre as nações indígenas dos Estados Unidos, ao lado de outras obras-primas – Crepúsculo de uma Raça (1964), de John Ford, Pequeno Grande Homem (1970), de Arthur Penn, Dança com Lobos (1990), de Kevin Costner.
A história que o filme conta é uma daquelas coisas que parecem produto da imaginação desvairada de um escritor chegado ao fantástico, provavelmente com a adição de doses maciças de alucinógenos – e, no entanto, aconteceu de fato.
Na segunda metade do século XIX, o povo osage foi obrigado pelo governo dos Estados Unidos a sair das terras que ocupava – no que hoje é o Kansas – e se mudar para o que era o Território Indígena, hoje no Oaklahoma. (A mudança é citada em falas de chefes osages no filme.) E então aconteceu de, em 1894, ser descoberto um vasto campo petrolífero ali na terra que eles haviam passado a ocupar. De repente, os osages ficaram riquíssimos, milionários.
Scorsese criou para o início do filme, logo depois de duas sequências de abertura, pequenos filmes em preto-e-branco, imitando os cinejornais bem antigos. Vemos índios vestidos com chapéus, ternos e sobretudos semelhantes aos dos milionários do Leste, índias com casacos de pele, e legendas informando que os osages eram reconhecidos, naquele começo de século, como uma das comunidades mais ricas do planeta.
As duas sequências que abrem a narrativa têm um toque de realismo mágico. Na primeira, dentro de uma oca indígena, um punhado de osages se prepara para enterrar um grande cachimbo, e em seguida procede ao enterro. Na segunda sequência, a terra no local em que o cachimbo foi enterrado começa a se agitar, e logo surge um jato de óleo rumo ao céu, como um gêiser poderoso. Tomadas em câmara lenta de um grupo de índios se banhando no óleo ampliam uma sensação de coisa fantástica, onírica, distante da realidade.
Entram, então – não há créditos iniciais, a não ser o nome das companhias produtoras -, as cenas à la cinejornais. Eu quis rever essas sequências, porque tinha ficado em dúvida se eram reais, se eram de fato sequências reais de mais de um século atrás, ou se eram uma recriação, uma imitação.
Bem adiante na narrativa, vão ser mostradas sequências autênticas de cinejornais de cerca de cem atrás, com o crédito para a Fox Movietone.
Não tinha lido nada sobre o filme – como faço sempre –, e então não sabia, enquanto via o filme, se a trama era baseada em uma história real. Rapidamente me convenci de que, sim, a trama com certeza se baseia em fatos reais – mas achei que os personagens eram fictícios.
Não são.

É extremamente chocante saber que tudo aquilo ali – toda aquela trama de uma crueldade apavorante, inimaginável – aconteceu de fato. Aquelas situações todas e aqueles personagens realmente existiram.
William Hale – o papel de Robert De Niro. Seu sobrinho Ernest Bufkhart – o papel de Leonardo DiCaprio. A moça osage Mollie Kyle – o papel dessa fantástica, maravilhosa Lily Gladstone.
Está na Wikipedia em inglês, no gigantesco verbete sobre “Osage Nation”:
“No começo dos anos 1920 houve um aumento de assassinatos e mortes suspeitas de osages, no que foi chamado de ‘Reino do Terror’. Em 1921, Ernest Burkhart, um americano de origem européia (entendo que aqui a Wikipedia quis dizer “branco”), casou-se com Mollie Kyle, uma mulher osage com direitos sobre terras. Seu tio, William Hale, conhecido como ‘Rei das Colinas de Osage’, um homem de negócios poderoso, e o irmão Byron contrataram cúmplices para assassinar os herdeiros da família Kyle. Eles planejaram os assassinatos da mãe de Kyle, de duas irmãs, um cunhado e um primo, em casos envolvendo envenenamento, explosão a bomba e fuzilamento.”
É impressionante: esse trecho do verbete sobre a nação osage serviria perfeitamente como uma sinopse do filme.
(Na foto acima, da esquerda pela direita, as irmãs Rita, Anna, Mollie e Minnie.)

Com toda certeza, William Hale é o sujeito mais impiedoso, mais cruel que Robert De Niro já interpretou em sua longa e gloriosa carreira – mesmo a gente lembrando que em Os Intocáveis de Brian De Palma (1987) ele fez Al Capone, que lá pelas tantas esmaga a cabeça de um sujeito com um taco de beisebol, e na refilmagem de Cabo do Medo dirigida pelo próprio Scorsese em 1991 ele fez Max Cady, o sujeito sádico condenado por estupro que, depois de cumprir pena, assedia a família do advogado que, segundo ele, não soube como defendê-lo.
Killers of the Flower Moon mostra William Hale como absolutamente impiedoso, sanguinário, em sua ambição por mais e mais dinheiro – ele já era rico, com uma imensa fazenda de gado perto das terras dos osages –, mas que se escondia atrás de uma fachada de homem bom, calmo, educado, amigo dos índios, capaz de prestar muitos favores a eles e a todas as pessoas da região. Um bandido do tipo mais perigoso que pode haver, porque extremamente inteligente, astucioso, capaz de planejar a longo prazo, de antecipar a reação das pessoas. E que não suja jamais as próprias mãos – delega sempre para os outros a execução dos crimes.
Quando a ação do filme de fato começa, umas duas décadas depois do que é mostrado nas sequências de abertura – a descoberta de petróleo nas terras indígenas, muitos osages virando milionários –, Ernest Burkhart está chegando à cidadezinha mais próxima das terras dos osages e da fazenda de seu tio Hale. Acabava de dar baixa da Infantaria, após o fim da Grande Guerra, a de 1914 a 1918.
E Ernest é mostrado como uma pessoa completa, mas completamente diferente do tio inteligente, estrategista. Ernest não prima, de forma alguma, pela inteligência. Muitíssimo ao contrário: tem o raciocínio lento. É difícil para ele compreender a complexidade das coisas que estavam em jogo ali – embora, a rigor, não houvesse propriamente grande complexidade.
O Ernest Burkhart feito por Leonardo DiCaprio segue tudo o que o tio rico e poderoso manda ele fazer. Cumpre todas as ordens do tio, com a fidelidade de um cão. O tio sugere que ele se aproxime da índia Mollie – e ele obedece. E se apaixona de fato por ela – é o que o filme mostra claramente. Não se casa com ela para herdar os direitos sobre as terras que produzem petróleo – casa-se porque o tio sugere que seria bom, e porque ele havia se apaixonado pela moça.
A sensação toda que o filme passa é de que, quando Hale começa a mandar o sobrinho participar efetivamente do planejamento dos assassinatos da família de Mollie, Ernest não compreende muito bem a gravidade de tudo aquilo.
Não parece compreender sequer que aquilo que o tio manda acrescentar às injeções de insulina que ele aplica na diabética Molly são veneno para matá-la aos poucos.

O filme se baseia no livro Killers of the Flower Moon: The Osage Mjurders and the Birth of the FBI, lançado em 2017, resultado de cerca de dez anos de trabalho de pesquisa de David Grann. Nascido em 1967, David Grann escreve há muitos anos para a revista The New Yorker, e se especializou em grandes reportagens e eventualmente livros sobre fatos reais – aparentemente na tradição do new journalism dos anos 1960 e 1970, em que Tom Wolfe, Truman Capote e Gay Talese aproximaram a reportagem da linguagem dos romances. Segundo uma resenha publicada na revista Rolling Stone, o livro relata “uma história de crime, traição, heroísmo e a luta de uma nação para deixar sua cultura da fronteira para trás e entrar no mundo moderno”.
O livro foi finalista ao National Book Award de 2017 e chegou ao número 1 da lista dos mais vendidos do New York Times.
Em entrevistas, Martin Scorsese disse que, ao terminar de ler o livro, soube que teria que transformá-lo em um filme.
A companhia produtora Imperative Entertainment pagou U$ 5 milhões pelos direitos de adaptação do livro, registra o IMDb. O roteiro foi escrito por Eric Roth, mas, pelo que indica a forma com que o roteiro é assinado nos créditos, foi o próprio Scorsese que deu a forma final. (Segundo as normas do Screen Writers Guild, quando dois roteiristas trabalham juntos, a quatro mãos, é usado o símbolo & – fulano & sicrano. Quando se usa a conjunção “and”, “e”, indica-se que o segundo roteirista remexeu, reescreveu, refez em parte o trabalho do outro.)
Foi uma produção bastante cara, para os padrões de um drama sério: custou cerca de US$ 200 milhões, segundo o IMDb o mais caro filme baseado em fatos reais já feito até agora, e o mais caro filme que nos Estados Unidos teve a censura etária de R, restricted – menores de 17 anos precisam ser acompanhados por pai ou responsável. (Claro que, comparado com os filmes para adolescentes, de super-heróis ou coisa parecida, feitos para ser blockbusters, US$ 200 milhões não chega a ser uma fortuna.)
Nem enquanto via o filme, nem logo depois que terminamos de ver, me lembrei de que Martin Scorsese já havia feito tantos filmes baseados em histórias reais. Ao contrário: fiquei achando que este Assassinos da Lua das Flores era um caso raro em sua filmografia. Diacho: eu estava redondamente enganado. Exatamente como Clint Eastwood, outro gigante entre os realizados americanos em atividade nestes anos 2020, como o inglês Paul Greengrass, Scorsese é useiro e vezeiro em fazer filmes que relatam histórias reais.
Para lembrar: Touro Indomável (1980), Os Bons Companheiros (1990). Cassino (1995), O Aviador (2004), O Lobo de Wall Street (2013).

Martin Scorsese – sem dúvida alguma um dos mais importantes realizadores do cinema mundial– é daquele tipo especial de cineasta que é também um estudioso do cinema, da história, da evolução da linguagem. Um cinéfilo inveterado, um fanático assistidor de filmes.
Por tudo isso, não tem jeito: o sujeito não faz filmes assim propriamente simples, comuns, básicos, em termos formais. Ele não consegue se impedir de usar artifícios fora do padrão mais normal. De usar recursos que são o que eu chamo de assim do tipo “Olha aí, espectador, como eu sou brilhante”. Fogos de artifício. Criativóis formais. Costumo implicar com esse tipo de coisa; adorava tudo isso quando era jovem, mas hoje, velhinho, prefiro uma narrativa direta, escorreita, aquilo que os críticos de cinema chamam, com nojo, de estilo acadêmico.
O problema é que não dá pra gente deixar de ficar extasiado quando o danado do realizador sabe fazer fogos de artifício absolutamente maravilhosos.
Os estudiosos mais tradicionalistas da linguagem do cinema dizem, por exemplo, que a câmara funciona como os olhos do espectador. Não tem sentido, por exemplo, uma tomada em que a câmara está atrás do fogo da lareira, mostrando o casal abraçadinho diante dela: nenhum ser humano vê o mundo por detrás do fogo de uma lareira. Idem ibidem para as tomadas em que a câmara fica no chão, embaixo do trem que está passando.
Esse tipo de besteirinha Scorsese não comete, é claro. Mas ele encerra seu belo filme com uma tomada feita com a câmara em um drone, voltada para baixo. Ora bolas, nenhum ser humano fica dependurado no céu, seguro por um helicóptero, ou coisa parecida, olhando o mundo lá embaixo como se fosse um pássaro – mas, diacho, aquela tomada final de Killers of the Flower Moon é de uma beleza plástica extraordinária. É impossível a gente não babar diante daquilo.
Da mesma maneira, não há como não admirar os momentos em que Scorsese enfia a magia, o fantástico, em sua narrativa. Aquela sequência de abertura – aquela tomada que faz com que o espectador creia que, diabo, foi o cachimbo da paz enterrado ali naquele chão de território para onde foram movidos à força os osages que fez jorrar o petróleo.
E os momentos em que as corujas aparecem – primeiro para a doente Lizzie Q, a mãe de Mollie, Anna, Reta e Minnie (o papel de Tantoo Cardinal), e depois para a própria Mollie, ela também doente, com diabetes, e sofrendo ainda os efeitos do veneno que vinha sendo administrado junto com a insulina pelo próprio marido. A coruja aparece para os indígenas – o espectador é levado a crer – quando eles estão vendo a morte se acercar.
No caso de Lizzie Q, algum tempo depois de ver a coruja, ela é visitada por três seres que a vêm levar daqui para o outro mundo. E o filme mostra a sequência como se fosse a mais absoluta, concreta, real realidade.
Mas há dois aspectos formais extraordinários neste Killers of the Flower Moon que são marcas registradas de Martin Scorsese. Um é a direção de arte. Diacho, a direção de arte é um aspecto técnico em que o cinema e as séries de TV têm se desenvolvido demais, têm chegado à perfeição. A direção de arte do filme, com a maravilhosa reconstituição de época, é algo de se aplaudir de pé como na ópera.
O outro são os travellings.
Os movimentos da câmara são um elemento fundamental do cinema – até porque eles são exclusivos dele, da sétima arte. E movimento está na raiz do cinema – kinema, é bom lembrar, é a palavra grega para movimento, e cinema é imagens em movimento.
Os melhores cineastas são grandes conhecedores de como movimentar as câmaras – mas, cacete, os maiores mestres na arte do travelling, os planos em que a câmara se movimenta para acompanhar os movimentos dos personagens, são, sem dúvida, Alfred Hitchcock, Brian De Palma, François Truffaut… e Martin Scorsese.
Scorsese parece ter se divertido muito ao fazer os travellings sobre as multidões reunidas na estação ferroviária perto das terras dos osages. Tanto que repete, e repete, e repete o feito.
É de deixar cinéfilo feliz feito pinto no lixo.

Não era necessário, sem dúvida alguma não era preciso inventar um criativol a mais, depois de quase três horas e meio de filme.
O filme poderia perfeitamente fazer como quase todos os baseados em histórias reais, e, em letreiros após o final da ação, dizer o que aconteceu depois daqueles fatos retratados ali. Fulano foi condenado a tantos anos de prisão, com fulano aconteceu aquilo outro, com fulana deu-se tal coisa.
Para Martin Scorsese, isso seria pouco, e então ele encenou aos 43 minutos do segundo tempo, quando seu filme já passava de três horas e um tantão de minutos, um programa de rádio-teatro daqueles que existiam nos anos 40 e comecinho dos 50 – um grande elenco de atores, um grande número de pessoas para fazer os ruídos, a sonoplastia, em um palco, diante de uma audiência, para transmissão ao vivo pelo rádio, contando o final da história da sequência de crimes contra os osages nos anos 1920.
A sequência é um absoluto brilho.
E o próprio Scorsese se escalou para ser o produtor do programa de rádio que diz as palavras finais – o que aconteceu com a índia Mollie.
Um dos atores diz: “Depois que Mollie se divorciou de Ernest, viveu com seu novo marido John Cobb na reserva indígena. Morreu de diabetes, em 16 de junho de 1937. Seu obituário no jornal local dizia simplesmente…”. E então o produtor do programa – interpretado por Scorsese – conclui: “’A senhora Mollie Cobb, 50 anos de idade, faleceu às 11 horas da noite de quarta-feira em sua casa. Ela era uma osage de sangue puro. Foi enterrada no antigo cemitério Gray Horse ao lado de seu pai, sua mãe, suas irmãs e sua filha.’ Não houve menção aos assassinatos.”

O filme mostra que, como a polícia local não chegava aos executores e aos mandantes das dezenas de mortes de osages, comissões de índios foram a Washington pedir a ajuda do governo federal. Ali pela metade do filme, chega à região dos osages um investigador enviado de Washington para começar a apurar os assassinatos, um tal Tom White (o papel de Jesse Plemons). Ele se apresente como sendo do Bureau of Investigation – não usa a palavra “Federal”. Depois dele, diversos outros agentes do FBI chegam à região.
Os assassinatos dos osages foram um dos primeiros casos investigados pelo então recém-formado Federal Bureau of Investigation, sob a direção de J. Edgar Hoover. É por isso que o livro de David Grann que deu origem ao filme tem o título de Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI. As duas coisas estão intimamente ligadas.
A página de Trivia do IMDb sobre o filme – que traz cerca de 80 itens! – lembra que, por uma dessas coincidências fantásticas, Leonardo DiCaprio interpretou J. Edgar Hoover na cinebiografia do sujeito realizada por Clint Eastwood em 2011. As páginas de Trivia do grande site enciclopédico sempre trazem curiosidades, coincidências como essa.
Eis algumas informações tiradas de lá, com uns pitacos meus, é claro:
* Este não foi o primeiro filme sobre os assassinatos dos osages. Ainda em 1926, pouco tempo depois das investigações do FBI, foi lançado Tragedies of the Osage Hills, dirigido por James Young Deer. A História do FBI/The FBI Story, de 1959, de Mervyn LeRoy, com James Stewart e Vera Miles, falava também dos crimes.
* Lily Gladstone, uma descendente de índios da nação blackfeet, é a primeira nativa-americana, como se diz na linguagem politicamente correta, a ser indicada ao Oscar de melhor atriz. O IMDb explica que as atrizes indígenas que foram indicadas no passado, Keisha Castle-Hughes e Yalitza Aparicio, não nasceram nos Estados Unidos.
Lilan Rose Mary Gladstone, nascida em 1986 e criada em uma reserva indígena em Montana, começou a carreira de atriz em 2012, aos 26 anos, e tinha, no finalzinho de 2024, 25 títulos na filmografia, 64 prêmios e 72 indicações no total. Mas, no auge da pandemia de Covid-19, sem convites para novos projetos, estava para se matricular em um curso de análise de dados quando recebeu um e-mail dizendo que Martin Scorsese gostaria de falar com ela via Zoom.
“Não houve leitura (de diálogo). Marty instintivamente soube que Lily era quem ele queria”, contou Leonardo DiCaprio. “Tinha uma veracidade tão grande nos seus olhos que ele percebeu mesmo na tela de um computador.”
Na minha opinião, Lily Gladstone é quem está melhor no filme, entre os três atores que fazem os papéis principais. Robert De Niro e Leonardo DiCaprio são gigantes, e há muitos momentos em que atuam maravilhosamente, mas aquela careta que fazem durante a maior parte do tempo me incomodou bastante.
* A indicação de Lily Gladstone ao Oscar foi uma das dez que o filme recebeu. Houve indicações nas categorias de filme, direção, ator coadjuvante para De Niro, fotografia para Rodrigo Prieto, trilha sonora e canção para Robbie Robertson. Repetiu-se com Assassinos da Lua das Flores o mesmo que havia acontecido com A Cor Púrpura (1985), de Steven Spielberg, indicado a 11 Oscars: não levou uma estatueta sequer.

* Nos créditos finais, Scorsese faz uma dedicatória ao cantor, guitarrista e cantor Robbie Robertson, que foi o líder da The Band, o grupo que acompanhou Bob Dylan nos anos 70. O músico e o cineasta foram amigos e companheiros de trabalho ao longo de décadas. Scorsese dirigiu The Last Waltz, no Brasil O Último Concerto de Rock (1978), documentário sobre a celebração de despedida da The Band, com um monte incrível de convidados especiais, de Dylan a Neil Young, de Van Morrison a Eric Clapton, de Joni Mitchell a Emmylou Harris.
A partir daí, Robbie Robertson passou a fazer a trilha sonora de vários filmes de Scorsese, entre eles O Rei da Comédia (1982), A Cor do Dinheiro (1986), O Irlandês (2019) e este Assassinos da Lua das Flores aqui. O músico, nascido no Canadá, morreu aos 80 anos, no dia 9 de agosto de 2023; o filme já havia sido apresentado no Festival de Cannes, em maio, mas só teria sua pré-estréia de gala nos Estados Unidos no dia 27 de setembro, um mês e pouco após a morte de Robertson.
* Este foi o 26º longa-metragem com atores dirigido por Martin Scorsese – sem contar os diversos documentários. No total, contando os 26 feature filmes, mais os documentários e mais os curtas, são, até dezembro de 2024, 72 títulos dirigidos por ele.
* Foi também o sétimo filme em que Scorsese dirigiu Leonardo DiCaprio e o 11º em que dirigiu Robert DeNiro. E a quarta vez em que DiCaprio e De Niro trabalham juntos.
E, para terminar, uma informação que achei sensacional. É uma figura esse tal de Martin Charles Scorsese. Ele é daquele tipo que não gosta de cinema visto na tela de aparelho de televisão – cinema, para ele, tem que ser na tela grande, nas salas de cinema. Theaters, como eles dizem.
E, pelo jeito, também não gosta desse negócio de legenda – ou subtitles, segundo se diz em inglês.
O fato é que o sujeito fez questão de que não houvesse legenda em alguns dos vários momentos em que os osages falam na linguagem deles. Em entrevistas, declarou que desejava que as pessoas vissem o filme, não que lesem o filme. E que nas sequências em que não há legendas os espectadores deveriam ser capazes de compreender o que estava sendo dito.
Anotação em dezembro de 2024
Assassinos da Lua das Flores/Killers of the Flower Moon
De Martin Scorsese, EUA, 2023
Com Leonardo DiCaprio (Ernest Burkhart),
Robert De Niro (William Hale),
Lily Gladstone (Mollie Burkhart)
e Jesse Plemons (Tom White, o investigador do FBI), Tantoo Cardinal (Lizzie Q, a mãe de Mollie, Anna, Reta e Minnie), John Lithgow (promotor Peter Leaward), Brendan Fraser (W.S. Hamilton, o advovado de Hale), Cara Jade Myers (Anna, a irmã de Mollie que bebe), Janae Collins (Reta), Jillian Dion (Minnie, irmã de Mollie), Jason Isbell (Bill Smith), William Belleau (Henry Roan), Louis Cancelmi (Kelsie Morrison), Scott Shepherd (Byron Burkhart, o irmão de Ernest), Everett Waller (Paul Red Eagle), Talee Redcorn (Non-Hon-Zhin-Ga, líder dos osages), Yancey Red Corn (chefe Bonnicastle), Tatanka Means (John Wren), Tommy Schultz (Blackie Thompson), Sturgill Simpson (Henry Grammer), Ty Mitchell (John Ramsey), Gary Basaraba (detetive Burns), Charlie Musselwhite (Alvin Reynolds), Pat Healy (agente John Burger), Steve Witting (dr. James Shoun), Steve Routman (dr. David Shoun), Gene Jones (Pitts Beaty), Michael Abbott Jr. (agente Frank Smith), J.C. MacKenzie (locutor de rádio), Jack White (ator do show de rádio), Larry Sellers (Non-Hon-Zhin-Ga), Barry Corbin (Turton, da funerária)
Roteiro Eric Roth e Martin Scorsese
Baseado no livro de David Grann
Fotografia Rodrigo Prieto
Música Robbie Robertson
Montagem Thelma Schoonmaker
Casting Ellen Lewis
Direção de arte Spencer Davison, Michael Diner, Matthew Gatlin,
Landon Lott, Meghan McClure
figurinos Jacqueline West
Produção Dan Friedkin, Daniel Lupi, Martin Scorsese, Bradlety Thomas, Apple Studios, Imperative Entertainment,Sikelia Productions, Appian Way. Distribuição Paramount Pictures.
Cor, 206 min (3h26)
Fonte: 50 anos de filmes

Jornalista, ex-editor-executivo do Jornal O Estado de S. Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.