Bolsonaro fez muito mal ao Brasil. Já vai tarde
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, disse que só participará da sessão solene marcada para quinta-feira (8) no Congresso para celebrar o bicentenário da Independência. Do 7 de setembro, hoje, com Bolsonaro em Brasília ou no Rio, não.
Arthur Lyra (PP-AL), presidente da Câmara, disse que não poderá estar ao lado de Bolsonaro em Brasília ou no Rio porque cuida da própria reeleição. Lyra quer também ser reeleito presidente da Câmara, com Lula ou Bolsonaro presidente, tanto faz.
O que Pacheco e Lyra sabem ou temem para não comparecer ao comício eleitoral de Bolsonaro, a última grande demonstração de força que ele pretende dar no seu atual mandato? Previsível. Bolsonaro vai criar mais confusão, com medo de ser derrotado.
É o que temem os principais conselheiros políticos de Bolsonaro, e é o que desejam seus principais conselheiros golpistas. Nem os políticos nem os golpistas sabem exatamente como Bolsonaro se comportará hoje. Talvez nem o próprio Bolsonaro saiba.
Se dependesse do seu filho Flávio, o senador da rachadinha, dono de uma mansão de mais de 6 milhões de reais em Brasília, Bolsonaro seria mais Jair do que o que é de fato. O pai bateria forte em Lula e no PT, mas não em ministros de tribunais superiores.
Se depender dos filhos Eduardo, deputado federal, e Carlos, vereador, os dois também investigados por rachadinha, Bolsonaro seria mais ele mesmo, procedendo como sua intuição sugerir. É aí que mora o perigo. Bolsonaro como Bolsonaro é um desastre.
Caso proceda como gosta, falará como seus seguidores mais fanáticos querem ouvir. Na maioria das ocasiões nos últimos 4 anos, quase sempre foi assim. Antes, para se eleger, deu certo. Dará para se reeleger? Não é o que as pesquisas de voto indicam.
Bolsonaro sabe, por exemplo, que as mulheres o rejeitam mais do que os homens. Mas não consegue tratá-las bem. Foi assim outra vez, ontem, quando uma jornalista da Jovem Pan perguntou por que sua família ama comprar imóveis com dinheiro vivo.
Resposta: “Porque você me pergunta isso? Seu marido vota em mim”. E queixou-se da perseguição da imprensa: “Por que vocês investigam minha vida?” Ora, porque ele é uma figura pública, e não só, mas a mais importante do país. E repleta de rolos.
Nunca antes na história um presidente da República ousou fazer do 7 de setembro um ato eleitoral-militar. Verdade também que nunca antes na história do Brasil um ex-militar expulso do Exército por má conduta chegou à presidência da República.
Já fez muito mal ao país. Já vai tarde.
Fonte: Blog do Noblat
Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.